Estados Unidos, China e Brasil ratificam o Acordo de Paris, mas
sociedade segue ignorando os efeitos e consequências mundiais das mudanças
climáticas
por Reinaldo Canto
Realizada no mesmo dia da cassação de Cunha, ratificação do
Acordo de Paris por Michel Temer perdeu espaço nos noticiários
O presidente Michel Temer assinou na terça-feira 12 o documento
que ratifica o Acordo de Paris, responsável por estabelecer as metas
de redução das emissões dos chamados gases de efeito estufa (GEEs) que o país se comprometeu a
atingir.
A chancela brasileira
ocorreu semanas depois que os Estados Unidos e a China, os dois maiores
emissores responsáveis pelo agravamento do aquecimento global no planeta, também assinassem seus
compromissos.
Tratam-se
de sinais positivos que deverão redundar em ações concretas para reduzirmos o
galopante aumento na temperatura do planeta? Talvez sim, mas com algumas
ressalvas.
Ao
participar da cerimônia de assinatura do Brasil, o secretário-executivo do
Observatório do Clima, Carlos Rittl, afirmou que o ato representou um primeiro
e importante passo. Por outro lado, alertou que é necessária uma ação efetiva,
capaz de mudar os rumos das políticas públicas brasileiras em relação à agenda
do clima.
É
neste ponto que residem os maiores desafios não só para o Brasil, mas em
qualquer outra parte do mundo, para que todos participem efetivamente desses
esforços, já que as consequências das alterações climáticas afetam a todos,
indistintamente.
Se na COP 21 havia
de seus participantes (majoritariamente representantes de governos, empresas,
cientistas e ONGs) uma unânime compreensão sobre os malefícios do aquecimento
global, não é menos verdade que, para os cidadãos residentes em todos esses
países e continentes, o tema ainda é visto quase como ficção científica.
Não
que as pessoas deixem de sentir seus efeitos no dia a dia. Muitos até afirmam
em suas redes de relacionamento que secas, enchentes e ondas de calor, entre
outros, tenham em sua origem as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento
global.
Mas
de fato, o que as pessoas estão dispostas a fazer, apoiar, interagir a esse
respeito? Em geral o que se vê é: absolutamente nada.
Ainda
que, por um lado, falte exatamente clareza sobre como atuar numa questão tão
complexa e universal, não é menos verdade a ausência ensurdecedora de
informações mais palatáveis que envolvam definitivamente as pessoas para a
importância e consequências do aquecimento global.
Parte da responsabilidade
é de nós, jornalistas, ao não “chamar” as pessoas para uma maior discussão
sobre o tema. Infelizmente, no mesmo dia que Temer assinou o compromisso
brasileiro, a principal notícia foi a cassação do deputado Eduardo Cunha. Não
há o que dizer sobre o destaque desse fato, mas, ao mesmo tempo, será possível
que não exista espaço para também enfatizar a importância do ato climático?
O
processo eleitoral ao longo do tempo e a indigência de seus candidatos tem
representado outro fator de distanciamento dos cidadãos para estabelecer um
debate construtivo com a sociedade. Seria importante que tivéssemos mais
autoridades públicas no âmbito municipal, por exemplo, capazes de enxergar um
pouco mais além do que asfaltamento de ruas ou a construção de um posto de
saúde.
Bom
lembrar que as previsões sobre o aquecimento do planeta tem superado as
expectativas até dos mais pessimistas. Recentemente, foi divulgado que julho
foi o mês mais quente já registrado desde que esse tipo de análise começou a
ser feita, há 137 anos. Trata-se da décima quinta alta consecutiva de aumento
constante da temperatura média global.
Com
frequência, somos brindados com informações de pesquisadores e cientistas sobre
os efeitos danosos do aquecimento para a agricultura, as florestas e a
biodiversidade – e suas perdas catastróficas e irreversíveis.
Mesmo
que Brasil, Estados Unidos e China tenham dado esse importante sinal para a
humanidade, sem o envolvimento de todos dificilmente iremos alcançar os
resultados almejados. Então, fica aí o convite: vamos falar mais sobre o clima?
Fonte: Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário