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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

"Privatização atende a grupos econômicos que apoiam Temer"

 
 


Em entrevista ao Portal Vermelho, ele tece críticas às declarações do ministro Henrique Meirelles, que anunciou em Nova York ser hora de investir no país, pois os preços estariam baixos. 

Para Bastos, o titular da Fazenda fala como um “caixeiro viajante” e mais parece um “membro local da elite financeira global” que um ministro. “O pior é que a declaração mostra que é mais importante vender o patrimônio público (e quanto mais barato melhor) do que resolver a questão fiscal”, diz.

Segundo o economista, o histórico das privatizações se contrapõe ao discurso do atual governo, em defesa das desesatatizações. De acordo com ele, as experiências do passado sequer serviram para gerar recursos líquidos para o Estado. 

E, em geral, significaram trocar monopólios públicos por privados, “que oferecem serviços com preços inflados”, reduzindo a renda real dos consumidores e aumentando o custo-Brasil. Confira abaixo a íntegra:

Portal Vermelho: Qual a sua avaliação sobre o pacote de privatizações anunciado pelo governo Michel Temer?

Pedro Paulo Zahluth Bastos: A coalizão neoliberal que sustenta Temer sempre quis continuar o processo de privatização interrompido por conta das crises na década de 1990. Precisava de uma oportunidade. A circunstância propícia foi a crise fiscal, que não deve ser explicada por um excesso de gasto federal, mas sim pelos efeitos da crise econômica que derrubou a arrecadação. 

Temer gasta para se manter no poder, com uma série de benesses para os grupos políticos e econômicos que o apoiam. A privatização atende aos grupos econômicos e ao mesmo tempo gera recursos para as necessidades políticas a curto prazo, às custas da solvência futura do próprio Estado, que perde receitas preciosas em troca de ativos vendidos barato em meio à crise.

No discurso na Assembleia Anual da ONU, Temer avisou que o Brasil agora está "mais aberto para o mundo". Meirelles, por sua vez, disse a empresários norte-americanos que é hora de investir no Brasil, pois os preços do país ainda não acompanharam a "recuperação da economia". Qual a leitura que o senhor faz dessas declarações? 

São declarações de uma espécie de caixeiro viajante, que não tem sequer identificação com seu povo e sequer com parte do empresariado local não internacionalizado. Parece menos um ministro brasileiro do que mais um membro local da elite financeira global, a quem se dirige alertando que é melhor comprar logo enquanto o Brasil está barato. 

O pior é que a declaração mostra que é mais importante vender o patrimônio público (e quanto mais barato melhor) do que resolver a questão fiscal. Afinal, como a compra de ativos baratos – inclusive privatizações – pode contribuir com as finanças de quem vende (se vendedor privado) e gerar receitas fiscais (se for o Estado)? 

O que a experiência nos diz sobre as privatizações? Qual foi o saldo das desestatizações do passado?

O histórico das privatizações, sobretudo no ramo de serviços, é em geral o de trocar monopólios públicos por monopólios privados, que oferecem serviços com preços inflados. Isto reduz a renda real dos consumidores e aumenta o custo-Brasil. É por isto que são tão impopulares. 

No setor mineral, o histórico da Vale, por exemplo, é o de uma empresa que certamente tem ativos tecnológicos (muitos deles legados a preço de banana do esforço dos engenheiros da empresa estatal anterior), mas que explora as rendas derivadas do controle de jazidas sem pagar impostos devidos, pois abusa de evasão ou elisão fiscal e, aliás, pratica crimes ambientais. 

O governo afirma que as privatizações vão gerar investimentos, criar empregos, gerar renda, oferecer serviços melhores à população e ajudar nas contas públicas. O senhor concorda? 

À luz do histórico de privatizações, não. O jornalista Aloysio Biondi escreveu livros para mostrar que sequer para gerar recursos líquidos as privatizações dos anos 1990 serviram, para não falar das receitas públicas futuras que são perdidas quando uma empresa é privatizada, e tanto mais quando os ativos são liquidados como sugeriu o Meirelles. 

O mesmo se verificou em vários lugares do mundo: quem compra se financia com juros mais caros do que o Estado, logo o que comprador paga, em geral, tem valor presente inferior ao fluxo de receitas que o Estado renuncia. 

No início dos anos 2000, privatização era quase um palavrão. O que aconteceu para que voltassem a ser defendidas com tanto fervor?

O pretexto é a crise fiscal. No entanto, é importante lembrar que este governo só fala isto porque não resultou de uma eleição, mas de um golpe. Aliás, Temer é o presidente mais impopular da história das modernas pesquisas de opinião. O fato é que o governo também conta com certa passividade da população cansada de protestar sem efeito prático e, ainda por cima, de apanhar de forças políticas despreparadas para respeitar o direito pacífico à manifestação pública. 

As privatizações representam um risco à soberania nacional?

Tendem a implicar em remessas de lucros, piorando o balanço de pagamento a longo prazo. Além disso, se envolverem o petróleo, o risco à soberania é ainda maior, como se sabe. 

Como o pacote de privatizações é enxergado aí nos Estados Unidos? Comenta-se o assunto? 

Não é um tema que mobilize a opinião pública nos EUA, mas certamente é de interesse estratégica do governo americano e das grandes corporações, sobretudo se conseguirem aumentar a participação no petróleo brasileiro. 

Serviços de distribuição de energia, por exemplo, são majoritariamente estatais mundo afora, e vários países têm barrado investimentos estrangeiros no setor. O Brasil vai na contramão do restante do mundo?

Sim. No início da década de 2000, o maior estado dos EUA, a Califórnia, passou por severa crise elétrica por causa da privatização do sistema e das fraudes da empresa ENRON. Em geral, o ramo precisa oferecer preços baixos para estimular outras atividades e tem investimentos de maturação de longuíssimo prazo. É por isso que normalmente é estatal. 

De acordo com sindicatos da área, a privatização em parte do setor elétrico nos anos 1990 foi marcada pela terceirização e também por demissão em massa. Qual o impacto para o conhecimento acumulado sobre um setor, quando trabalhadores que conhecem a empresa são demitidos e substituídos por terceirizados?

Muito ruim para os serviços no longo prazo, mas bom para a rentabilidade dos acionistas a curto prazo. É por isso que a reforma trabalhista foi feita, aliás: para baixar custos trabalhistas na ótica da empresa, empobrecendo o trabalhador e sujeitando-o muito mais a acidentes e ao estresse em geral, com uma rede de segurança social pior e, em geral, não bancada pela empresa, que economiza também no pagamento de impostos ao contratar terceirizados. 



 Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho

PARA INTELECTUAIS, EXCLUSÃO DE LULA EM 2018 COMPROMETERIA ELEIÇÃO


No dia em que a Constituição brasileira completa 29 anos, intelectuais como o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, o ex-chanceler Celso Amorim e o professor Luiz Felipe de Alencastro afirmam que uma eventual exclusão do ex-presidente Lula das eleições do próximo ano comprometeria o processo; em manifesto, eles pedem eleição "direta e irrestrita" em 2018; "Só uma eleição democrática poderá restabelecer a legitimidade do governo e, se esse governo for competente, reunificar a nação", diz Bresser-Pereira; para Amorim, seria difícil explicar até "para o mundo" uma exclusão do ex-presidente, enquanto Alencastro observa que "estamos aí com um programa de governo que não teria base eleitoral para passar ao segundo turno"

Vitor Nuzzi, da RBA - Ao identificar riscos à eleição presidencial do ano que vem, um grupo de intelectuais, tendo à frente o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, divulgou manifesto pedindo eleição "direta e irrestrita" em 2018. Embora não apareça no documento, disponível na internet (confira abaixo), eles afirmam também que uma eventual exclusão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comprometeria o processo. Hoje (5), dia em que a Constituição brasileira completa 29 anos, Bresser-Pereira, o também ex-ministro Celso Amorim e o professor Luiz Felipe de Alencastro repudiaram tentativas de implementar um "remendo parlamentarista" ou quaisquer outras medidas que afetem a legitimidade da votação.

"Parlamentarismo no próximo ano é golpe de Estado", afirma o economista, para quem o avanço dessa proposta está vinculado ao crescimento de Lula nas sondagens eleitorais. "Só uma eleição democrática poderá restabelecer a legitimidade do governo e, se esse governo for competente, reunificar a nação."

Para ele, uma condenação do ex-presidente em segunda instância seria "muito ruim para o país" e para o próprio Judiciário. Em texto publicado em sua página no Facebook, Bresser-Pereira diz nem considerar Lula o "candidato ideal", mas considera que "uma nação democrática não pode impedir que um líder político da dimensão de Lula seja proibido de concorrer". Nesse sentido, o economista critica a Operação Lava Jato, afirmando que os promotores da força-tarefa e o juiz Sergio Moro "cometeram um grande erro ao eleger Lula como seu principal alvo, e ao condená-lo sem qualquer prova no ridículo caso do tríplex do Guarujá".

Para Amorim, seria difícil explicar até "para o mundo" uma exclusão do ex-presidente – de quem ele foi ministro e cuja candidatura apoia – em 2018, com uma condenação baseada em um suposto "nexo causal entre um apartamento que nunca foi propriedade e uma concorrência de bilhões de dólares". Em um caso desses, diz o diplomata, não se pode fazer como no filme Match Point, de Woody Allen, que usa a metáfora de um jogo de tênis, mostrando que a bola pode cair de um lado ou de outro da rede, determinando o resultado da partida. Ele avalia que Lula simboliza identificação com o povo ("Ele é um deles"), reconhecimento por avanços sociais e esperança de que isso continue acontecendo no Brasil.

Mas Amorim ressalta que não se trata, nesse debate, de defender Lula ou outro candidato. "É uma defesa da política", enfatiza. Fora da política, acrescenta, só há "soluções mágicas que ninguém quer ver de novo". 

Debate nacional

O professor e historiador Alencastro observa que as eleições presidenciais em dois turnos possibilitam um "debate nacional", além de garantir maioria absoluta ao candidato vencedor, evitando questionamentos sobre a legitimidade do processo ou sobre o resultado. "O Brasil se encontra", diz, lembrando que um candidato não consegue vencer com base apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ele lembrou ainda que o país não tem mais votação separada para presidente e vice, o que vincula a eleição de um e outro. Ao falar do momento atual, Alencastro afirmou que "estamos aí com um programa de governo que não teria base eleitoral para passar ao segundo turno".

O intelectual cita recente caravana de Lula pela região Nordeste, chamando a atenção para viagens do ex-presidente para outras áreas do país. "Isso pode ser um divisor de águas. Se começar a estender em outras regiões, cada vez mais fica difícil tirar o Lula da eleição", diz Alencastro. Assim, um "remendo parlamentarista" soaria como um golpe.

O manifesto integra o Projeto Brasil Nação, organizado por Bresser-Pereira. É o segundo documento do grupo. O primeiro enfatizou questões econômicas. "O que está em crise é a nação brasileira. Precisamos mostrar que há uma alternativa (ao liberalismo) de desenvolvimento econômico", justificou o ex-ministro. Amorim observou que o texto anterior apontava a ausência de um projeto nacional. "Agora temos de lutar também para que haja eleições presidenciais íntegras."

Durante a apresentação do manifesto, na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, o publicitário Chico Malfitani questionou o que estaria faltando para uma efetiva união entre as forças de centro-esquerda. "Temos consciência plena de que é necessária uma conjugação de esforços", disse Amorim, lembrando que o grupo mantém "contatos com outros movimentos". Um possível encontro conjunto será realizado até o final do mês.

"Nossos critérios são as ideias, os valores", acrescentou Bresser-Pereira. "Todo o argumento do outro lado é que apenas o liberalismo resolve, o que é historicamente absurdo."

Leia abaixo o manifesto, disponível na página do ex-ministro Bresser-Pereira para adesões.

Nós, que, em abril deste ano, assinamos o manifesto do Projeto Brasil Nação, voltamos aos brasileiros para defender a manutenção de eleição presidencial direta e irrestrita.

A democracia brasileira está em perigo. Para completar o golpe parlamentar, os atuais detentores do poder discutem a ideia de costurar um remendo parlamentarista ou adiar a eleição presidencial de 2018. Há tentativas de impedir a plena representação das camadas populares. Tudo isso é inaceitável.

A eleição presidencial direta representa o momento alto da nossa vida política brasileira. Ao longo das lutas republicanas, as eleições presidenciais, fortalecidas pelos dois turnos que garantem a maioria absoluta ao presidente eleito, se transformaram no momento político da afirmação na identidade nacional.

Na diversidade de suas regiões, de seus sotaques, de suas crenças, os eleitores arbitram o debate democrático sobre os destinos do país. No século 19, o Brasil foi o único agregado colonial da América que não se fragmentou na Independência. Na segunda metade do século 20, o Brasil se urbanizou, se expandiu para o Centro-Oeste e para o Norte. Desenvolveu sua indústria, criou a Petrobras e o BNDES, investiu em ciência e tecnologia. Padeceu a opressão ditatorial e reconquistou a liberdade.

Ampliada e consolidada na Constituição de 1988, a democracia republicana transformou a carcaça autoritária e oligárquica herdada do Império num vibrante Estado-nação. Nesse processo, a eleição presidencial permitiu que a maioria social se transformasse em maioria política.

Na contramão dessa conquista, o atual governo impõe uma política radicalmente oposta à decisão soberanamente expressa pelos eleitores no escrutínio de 2014. A eleição presidencial de 2018 é a condição essencial para que o governo recupere legitimidade e possa liderar um projeto de desenvolvimento nacional.

A diversidade e a liberdade de nosso país, a esperança dos que participaram da transformação da maioria social em maioria política, formam uma poderosa barreira contra o autoritarismo. Mas, no curto prazo, a perplexidade dos brasileiros diante da ambição de políticos sem voto, do sentimento de impunidade e de um programa antipopular e antinacional proposto pela grande finança e seus aliados favorece as manobras contra a democracia, contra a eleição presidencial direta, contra o sufrágio verdadeiramente integrador da nacionalidade.

Eleição presidencial direta e irrestrita em 2018!


Fonte: ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br