ELEIÇÕES 2022: MOVIMENTO 65

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Sobre a cidade e as pessoas

Ruas cheias de blocos de carnaval, pessoas fantasiadas, sorrisos, bicicletas e skates, uma cidade liberada para as pessoas, assim estava a cidade de São Paulo em seu 462° aniversário. Ruas fechadas para o trânsito, motoristas insatisfeitos e prefeito levando uma garrafada de um movimento que pauta justamente a mobilidade urbana, assim também estava a cidade de São Paulo em seu 462° aniversário.
Como coloca o jornalista Pedro Alexandre Sanches, em seu blog Farofafa (hospedado no site da revista Carta Capital), que compartilhamos na íntegra abaixo: “…parece evidente a qualquer bom observador que Haddad, malandramente, está expandindo pela cidade e entre as cidadãs e os cidadãos o conceito de uso público das vias públicas da cidadania. Um dia fecha aqui, outro dia fecha acolá, daqui a pouco, pluft!, está a cidade inteira presa e interditada. Ou, variando-se o ponto de vista ideológico: um dia abre aqui, outro dia abre acolá, daqui a pouco, vrah!, está a cidade toda livre e desimpedida”.
Em ano de eleição para a prefeitura, o jornalista aponta que “as urnas já estão abertas”, e para além disso, a capital paulista atravessa um momento de “choque de mentalidades”, entre os que pensam que “o carro (ônibus, caminhão, helicóptero, metrô, avião etc.) é maior que as gentes e quem pensa que as gentes são maiores que o maior avião supersônico que exista no mundo”. A ausência da grande mídia na cobertura da melhor parte da festa da cidade também é notada por Alexandre Sanches: “Os robocópteros da Rede Globo não sobrevoam os girassóis”.
Confira o texto:
O choque está nas ruas – Por Pedro Alexandre Sanches
“Esse prefeito bloqueou a cidade inteira. Eu não posso mais sair de carro”, queixa-se o homem de meia idade a sua esposa. Ambos bebem vinho e estão instalados confortavelmente num restaurante mais ou menos exclusivo de um shopping center mais ou menos exclusivo da cidade de São Paulo. Lá fora, sem tanto conforto e ao ar livre, a capital do estado de São Paulo comemora seu aniversário de 462 anos de idade.
Cá dentro, o homem e sua esposa aguardam a refeição e examinam o cardápio que têm em mãos para depor Fernando Haddad da cadeira de prefeito paulistano nas eleições que vêm aí. Ele cita primeiro João Doria Jr., em seguida Andrea Matarazzo. Lá fora, a cantora baiana Daniela Mercury já terminou de arrastar em trio elétrico um mar de gente feliz pelas ruas provisoriamente desabitadas de carros da já quase quinhentona cidade.
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Paulistanos de cá e de lá, autóctones ou alienígenas, vivemos todas nós esse choque de mentalidades. Não é a tropa de choque da Polícia Militar do governador Geraldo Alckmim, mas sim o choque de mentalidades que ganha as avenidas e os shoppings da capitania neste feriado ao mesmo tempo chuvoso e ensolarado.
O domingo, véspera do aniversário, é dia atípico mesmo para os dias de folga e feriado em SP. Começa corriqueiro, como já estamos quase nos acostumando: a dada altura a avenida Paulista se fecha para os automóveis e se abre para bicicletas, skates, patins, pés calçados e pés descalços. Às 15h, a mais emblemática avenida da cidade parece um festival de superestrelas do rock, com idosos, crianças, bebês, cachorros e patos gigantes infláveis da Fiesp ajudando a compor a plateia que também é palco.
De repente cai um temporal, prova inconteste de que o taciturno José Serra se encontra à espreita para ocupar o lugar guardado por Andrea Matarazzo na disputa que vem aí. A Paulista se esvazia como por encanto, para júbilo da mentalidade serrista. A chuva de verão para. A Paulista se enche novamente, novamente como que por encanto.
Cumprido o trajeto mais corriqueiro, vou para a novidade. Desço a colina da Paulista ate as esquinas entre as avenidas Brigadeiro Faria Lima e Rebouças, onde Daniela Mercury já começou a cantar sucessos carnavalescos (ou não) da Bahia e do Brasil. Há outra multidão atrás (e na frente) do trio elétrico, e a olho nu parece dez vezes maior que a multidão do domingo banal nas praias da Paulista.
Conforme a massa humana evolui, a engenharia de tráfego vai interditando longos trechos avenidados da Faria Lima, da Rebouças, da Brasil, da Henrique Schauman, da Consolação, à noite novamente da Paulista.
O homem do shopping tem razão: parece que Haddad bloqueou a cidade inteira nesse domingo de pré-carnaval!
Mas é aí que entra o choque de mentalidades. O oceano de gente feliz bloqueia, sim, as avenidas, mas para quem? Para os seres de duas ou de quatro patas? Para os seres de quatro patas ou de duas rodas, de duas patas ou de quatro rodas?
A certa altura, a foliã e o folião percebemos arrepiados até o couro cabeludo que a avenida Rebouças, rastejante que nem cobra pelo chão, está inteirinha livre e desimpedida para a circulação dos pedestres, das ciclistas, dos patinadores, das skatistas, dos cachorros, das crianças. A avenida está de fato bloqueada para os automóveis, mas paradoxalmente (ou não) há mais gente circulando livremente pela cidade do que haveria se o trânsito estivesse parado, cada qual no seu carrinho.
Não converso com ninguém da prefeitura para escrever este texto. Não sei se o “bloqueio” da “cidade inteira” é (como diria a verde Marina Silva) programático. Mas parece evidente a qualquer bom observador que Haddad, malandramente, está expandindo pela cidade e entre as cidadãs e os cidadãos o conceito de uso público das vias públicas da cidadania.
Um dia fecha aqui, outro dia fecha acolá, daqui a pouco, pluft!, está a cidade inteira presa e interditada. Ou, variando-se o ponto de vista ideológico: um dia abre aqui, outro dia abre acolá, daqui a pouco, vrah!, está a cidade toda livre e desimpedida.
À experiência de cada cidadã ou cidadão, seja no shopping ou na avenida, cabe definir e compreender qual posição é de mudança ou de reação, progressista ou reacionária, transformadora ou estacionária. As urnas já estão abertas, para mim e para você. Inacreditavelmente, a cidade que antes parecia ser só fígado passou pelas gestões culturais do tropicalista Juca Ferreira e do urbanista Nabil Bonduki e agora está toda fantasiada, em pleno e mero janeiro. O carnaval nem chegou e as avenidas estão apinhadas não apenas de gente “normal”, mas também de faraós, ciganas, sereios, índias, personagens de HQ, evas, adões.
Para os do lado de lá do muro e para os do lado de cá do muro (e também para quem vive acocorado em cima do muro), uma enxurrada transgressora, revolucionária, passa por nós como se fosse o rio dos subterrâneos do Anhangabaú da Felicidade. Diante do aniversário-carnaval, os conceitos de mobilidade urbana ficam momentaneamente em choque, em xeque.
O Movimento Passe Livre (MPL) não comparece aos festejos de carnaval aniversário (ou parece que comparece, mas para apenas para xingar o mundo e jogar garrafa plástica na testa do prefeito também aniversariante). Seguindo o trio de Daniela, eu torço para que tais bravos jovens estejam sim presentes na passeata do prazer, ainda que camufladas em fantasias outras que não as placas e os dizeres de ordem de sempre.
Na militância à moda antiga, do tipo que ainda manda flores e recebe bombas, o MPL-sigla deixa de perceber que, em pleno movimento, a cidade inteira “bloqueada” pelo prefeito é também um movimento de passe livre, sem sigla nem maiúsculas. O movimento, desorientado, queda-se perplexo diante do próprio enigma: menino mimado ou mulher adulta?
Os conceitos de passe livre, de livre passagem e de um mundo sem (ou com) catracas estão em cheque, em xoque. O choque de mentalidades é entre quem pensa que o carro (ônibus, caminhão, helicóptero, metrô, avião etc.) é maior que as gentes e quem pensa que as gentes são maiores que o maior avião supersônico que exista no mundo. As catracas ainda não todas, mas as urnas agora vivem abertas.
A Polícia Militar do governador queda paralisada em meio à festança.
Os robocópteros da Rede Globo não sobrevoam os girassóis.
Há famílias inteiras curtindo a marola, a maré, a maresia (apesar da crise).
O clima é pacífico e ordeiro, ainda que alucinado por hits como “Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás”, de Raul Seixas.
Apesar da paz, da harmonia, das famílias e da crise na mobilidade automobilística na “maior cidade”, o Partido da Imprensa está calado diante do domingo atípico de feriadão aniversariante.
Os black blocs, se vieram, vieram fantasiados de odalisca, padre ou jacaré.
Os anonymous estão beijando na boca atrás da árvore centenária que nem percebíamos que mora no canteiro central da Rebouças com a Paulista e a Consolação.
As artérias da maior cidade da América do Sul estão tentando se livrar do colesterol (estão?).
Enquanto os militantes do Passe Livre hostilizam o promotor da passeata do passe livre, a passeata passeia e passa livremente pelas avenidas desbloqueadas da cidade aniversariante. A chuva e o sol simultâneos demonstram que, chova ou faça sol, a refrega de 2016 será dura na cidade indecisa entre o público e a privada, entre os quadrados e as rodas, entre os bípedes e os quadrúpedes, entre o passado e o futuro.
Fonte: UJS

ECONOMIA: Jessé de Souza: Gramática do golpe modernizou-se no Brasil

Atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o sociólogo Jessé de Souza é conhecido pelo pensamento agudo e a argumentação desassombrada. Seu novo livro, A Tolice da Inteligência Brasileira, confirma essas características. 

Por Miguel Martins*, na Carta Capital


 
 

Ao analisar o desenvolvimento do pensamento no e sobre o País, Souza não poupa ninguém, nem mesmo Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Segundo ele, o pensamento culturalista brasileiro tornou-se um instrumento das elites para influenciar a classe média na demonização das instituições e da classe política, o que esconderia a verdadeira intenção da parcela mais rica do País: apropriar-se novamente do Estado brasileiro. 

Na entrevista a seguir (concedida à revista Carta Capital), Souza também critica o conceito de nova classe média criado por seu antecessor no Ipea, Marcelo Neri. Os setores médios tradicionais, argumenta, possuem privilégios não materiais inacessíveis aos novos trabalhadores. Essa classe média tradicional, acrescenta, é um dos três pilares da atual “gramática do golpe”. Os outros dois são a mídia e a Justiça, que substituiu as Forças Armadas nesta aliança.

Carta Capital: No livro A Tolice da Inteligência Brasileira, o senhor critica a perenidade dos mitos nacionais. A busca dessa identidade teria reforçado preconceitos sobre o brasileiro ser corrupto, levar tudo “no jeitinho”, ser hospitaleiro e amável, entre outros estereótipos. Neste ano de recrudescimento conservador no País, os mitos estão mais fortes?

Jessé de Souza: Os jornalistas, os professores e os livros no Brasil ainda recorrem a intelectuais que moldaram nossa interpretação em torno dessas questões. São ideias equivocadas, não valem um vintém do ponto de vista científico, mas convencem e mandam no País. Sempre que um governo popular chegou ao poder, as elites recuperaram o pensamento culturalista formulado desde 1933.

O ano do lançamento de Casa-Grande e Senzala.

Exato. A genialidade de Gilberto Freyre foi interpretar o País em uma comparação com os Estados Unidos, o grande outro do Brasil. Ele valorizou o encontro de raças e o classificou como um encontro de culturas. Como sempre perdíamos na comparação com os norte-americanos, era preciso criar um mito positivo, algo que a população pudesse aceitar e incorporar. Formulou-se então um mito que valoriza nosso corpo, sentimento e sexualidade. Embora absurdo, tendemos a aceitar que os norte-americanos e os europeus representam o espírito, a racionalidade, são mais produtivos e confiáveis, não são corruptos. Em Freyre, isso ainda é ambíguo.

Quando Sergio Buarque de Holanda reproduz esse mito no homem cordial, acaba por absorver apenas a parte negativa do antecessor, ao opor o homem cordial brasileiro ao homem racional norte-americano. Para pintar o Brasil como o país do atraso, os conflitos reais têm sido postos na sombra em nome de uma disputa entre Estado e mercado que passa a ser incensada. Não existe esse conflito. Cria-se esse falso certame para silenciar a luta de classes, na qual quem monopoliza o conhecimento e domina o capital cultural são as elites e a classe média.

Embora não se veja dessa forma, a classe média brasileira é privilegiada?

Sem dúvida. Apesar de não ter acesso ao capital econômico do 1% mais rico, a classe média tem uma herança invisível, como estímulos emocionais e a capacidade de concentração, algo que os pobres não têm. Muitos entram na escola como potenciais analfabetos funcionais, antes mesmo de sua trajetória escolar. O liberalismo defende que a escola pode resolver os problemas sociais. A questão não é, porém, apenas a qualidade do ensino, mas toda uma construção emocional, sentimental, de estar aberto ou não ao pensamento abstrato, ao cálculo, ao pensamento prospectivo. Nada disso é natural, é um privilégio. A classe média tem tempo para planejar sua carreira ao longo da vida. Por batalharem demais no presente, os trabalhadores precarizados não têm essa perspectiva. 

Há uma crítica no livro à prevalência do economicismo nas análises de Marcio Pochmann e Marcelo Neri, seus antecessores no Ipea, sobre a ascensão social dos últimos anos. Esse foco excessivo na criação de empregos e na distribuição de bens materiais tem pago um preço neste momento de crise econômica?

Esse é o ponto principal. Até 2010, só se falava em nova classe média. Passei a defender então o conceito de nova classe trabalhadora precarizada. Os trabalhadores tradicionais têm diminuído, enquanto o capitalismo financeiro ergue uma classe trabalhadora para suas próprias necessidades, não somente no Brasil, mas na China, na Rússia, em todos os locais onde há quem se disponha a fazer de tudo por muito pouco. E são esses precarizados que cresceram entre nós.

Os governos petistas não fomentaram a formação de uma nova classe média. Os batalhadores continuam sem qualquer privilégio de nascimento. A grande herança desses últimos 15 anos foi a manutenção desse processo de ascensão dos excluídos para uma classe trabalhadora, mesmo precarizada. Há inclusão no mercado, emprego formal e a possibilidade de investimento em educação para os filhos dos batalhadores. É preciso mudanças consequentes para se formar uma classe trabalhadora qualificada com alta produtividade, o grande desafio para o Brasil deixar de ser um exportador de matéria-prima. 

Muitos dos novos trabalhadores têm ficado alheios à atuação sindical, e explicam sua ascensão social mais por méritos próprios ou pela intervenção divina do que pelo sucesso de políticas públicas. Isso fragiliza a base de apoio a um governo popular?

Se a esquerda não construir uma alternativa, a única narrativa válida para os batalhadores será o pentecostalismo, que atrela em grande medida essa classe aos interesses de mercado. Isso não é, contudo, chapado. No Nordeste, essa classe percebe a relação da ascensão com os programas sociais, até porque lá a miséria anterior era muito maior. Sabem que devem a Lula. No Sudeste, a visão de que Deus ou o mérito pessoal foram mais relevantes é mais forte. Têm uma visão egoísta de mundo, atrelada a interesses de mercado. Essa própria classe não percebe quem são seus aliados políticos. O que mostra a pobreza de narrativa da própria esquerda. 

Sobre as manifestações de junho de 2013, seu livro afirma que o dia 19 foi a grande virada, com a formação de um novo pacto conservador. Como o senhor interpreta a atual crise política em face desse pacto?

 Existe uma estrutura, uma gramática do golpe no Brasil. Ele mudou, modernizou-se, mas mantém a mesma estrutura. O golpe precisa do “bumbo” tocado pela imprensa conservadora, do suporte da classe média e de um elemento constitucional para dar a aparência de legalidade à captura da soberania popular. Nos governos democráticos de Getúlio Vargas e João Goulart, esse elemento eram os militares, pois a Constituição previa a intervenção das Forças Armadas em caso de desordem. Essa gramática modernizou-se: não está ancorada mais na botina do general, mas na toga da lei. O elemento constitucional atual são as agências de controle, a Polícia Federal, os juízes justiceiros, postos para além do bem e do mal. 

Vivemos um momento crucial?

É uma esquina da nossa história. Ou aprofundamos o que conquistamos nos últimos 15 anos, um processo abortado há 60 anos, ou voltamos a um Brasil governado para 20%, aquele erguido pelo golpe de 1964. 



*Miguel é jornalista. A entrevista foi publicada originalmente na edição 876 de CartaCapital, com o título "O demolidor".
Fonte: vermelho.org.br

MUNDO: Lênin, risonho e bem humorado

Conservados nos arquivos do então Partido Comunista da União Soviética, os filmes vão de 1918 a 1921, quando Lênin dirigiu o início da construção do socialismo na URSS.

Os filmes conhecidos que registram a figura histórica de Vladimir Ilyich Lenin foram reunidos, em 1969, por Mikhail Romm, no documentário Lenin vivo, ou Lenin em vida. Postos em ordem cronológica e acrescidos de comentários, formam material indispensável ao estudo do comunismo, da União Soviética e do século 20. 

Por José Carlos Ruy


São notáveis as cenas do segundo (1920, das "21 condições" da Internacional Comunista) e terceiro (1921, da adoção da "frente única" pela IC) congressos da Comintern, que forjou o marxismo-leninismo e os partidos comunistas no século 20. 

O discurso com a voz de Lenin, no meio do documentário ("Apelo ao Exército Vermelho", pode ser lido e ouvido na íntegra aqui: http://fishuk.cc/lenin-fala4. . É uma raridade! 

Alguém disse certa vez que o pleno entendimento da dialética só é possível se houver bom humor. Pois bem, nestes filmes podemos ver um Lênin sorridente, de olhar vivaz, e quase sempre (como ele próprio preveria, segundo o testemunho de Gorki) no meio do povo e dos militantes.  


Do Portal Vermelho
Fonte do vídeo: You Tube

BRASIL: Eleição para líder do PMDB se acirra e tem disputa voto a voto

A eleição para definir o próximo líder do PMDB na Câmara ganhou dimensões maiores que o previsto até o final do ano, e os candidatos parecem disputar cada voto como se concorressem à presidência da Casa. Com 67 parlamentares, a bancada da legenda, a maior da Câmara, demonstra divisão ainda maior que em outras disputas.

Por Por Hylda Cavalcanti, na Rede Brasil Atual


 
 

E os candidatos, o atual líder, Leonardo Picciani (RJ), e o deputado Hugo Motta (PB) já iniciaram maratonas de reuniões nos estados para conversar com cada um dos colegas.

Picciani esteve duas vezes em Minas Gerais, participa de reuniões em Brasília até sexta-feira (29) e promete seguir um roteiro de viagens nas próximas semanas. Diz que pretende conversar, inclusive, com representantes de diretórios estaduais, para negociar apoio ao seu nome. Já Motta, que tem como padrinho o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), dá ênfase, neste momento, aos estados nordestinos. A exceção foi Minas Gerais, onde Motta compareceu a um encontro no final de semana. Mas ele já confirmou que dará início às visitas aos demais estados durante o período do carnaval, com a presença do próprio Cunha – que prometeu acompanhá-lo.

Nos bastidores, a grande repercussão do dia, hoje, foi a notícia de frase pronunciada por Cunha no domingo entre amigos. “Ganho essa eleição de todo jeito, nem que me ferre inteiro”, teria dito ele sobre a disputa e o empenho para alçar Motta à liderança. Para os aliados do presidente da Câmara, sua insatisfação com Picciani, que era um antigo aliado e por quem se sente traído nos últimos meses, passou a fazê-lo ver a eleição e vitória de Motta como “questão de honra”.

Será, também, um bom termômetro para o deputado testar a popularidade que ainda tem, depois das denúncias e investigações contra ele, o envolvimento na Operação Lava Jato, a retomada dos trabalhos do Conselho de Ética da Câmara, em que tramita o processo que o investiga e, principalmente, o julgamento da ação que pede o seu afastamento do Cargo – prevista para fevereiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Nesse cenário turbulento, os grupos dos dois candidatos agem como sempre: em reservado, demonstram preocupação, dizem que o pleito será disputadíssimo e pedem votos. Em público, garantem contar com a maioria dos votos necessários para ganhar.

Maioria simples

Depois da desistência de Leonardo Quintão (MG), na última quinta-feira (21), a única certeza sobre o pleito é que não haverá segundo turno. Como o sistema de votação definido será por maioria simples (o equivalente à metade dos votos mais um), os cálculos da liderança do PMDB (ocupada hoje por Picciani e formada por assessores ligados a ele) são de que o atual líder conta com 37 votos garantidos. Entre os adeptos de Hugo Motta, o que se diz é que faltam 12 votos para decidir a disputa.

Duas preocupações estão ligadas ao apoio do Palácio do Planalto e aos votos que estavam garantidos para Quintão antes de ele desistir da candidatura. No caso do Planalto, a tendência sempre foi por ajudar Picciani, visto pelo Executivo como o líder ideal do partido. Mas nos últimos dias Hugo Motta tem feito jogo duplo e, apesar de ter o apoio de Cunha – que faz oposição cerrada ao governo –, pediu para ter audiências com ministros da coordenação política.

O discurso de Motta é de que discutirá as propostas legislativas encaminhadas ao Congresso da forma como for decidido pela bancada, mesmo que elas não sejam do interesse do governo. Mas estará sempre disposto a conversar e negociar com o Planalto. “Farei o que deve ser feito, como é o papel de um líder. Procurarei ouvir e conduzir a bancada do PMDB como deve ser feito. É isso que nos falta, porque é tudo o que o Picciani não tem feito”, alfinetou.

Já Picciani se mantém quieto em declarações mais ácidas e tem se preocupado no retorno de peemedebistas que estejam licenciados, caso a eleição fique mais apertada do que se espera. Um destes pode ser o ministro da Saúde, Marcelo Castro (PI).

Desgastado no governo por declarações desastrosas que tem dado sobre o combate ao zika vírus, Castro tem sido alvo de integrantes do governo, que pedem a sua saída do cargo. Mas, de certo, o que se sabe mesmo é que o ministro – que é deputado licenciado e do PMDB – deverá se ausentar da pasta por um ou dois dias para retornar à Câmara e votar a favor de Picciani. Outros nomes que estão incluídos na mesma estratégia são de deputados que ocupam secretarias no Rio de Janeiro, em Alagoas e em Mato Grosso.

Transferência de votos?

Em relação ao deputado Quintão, ficou claro já no dia seguinte à sua desistência que o parlamentar não conseguirá transferir os votos que tinham sido prometidos a ele para Leonardo Picciani, com quem fechou acordo. Isso porque Quintão se comprometeu a apoiar a recondução do atual líder, mas muitos do grupo que o apoiava fazem parte da ala oposicionista do PMDB e preferem votar em Hugo Motta.

“Não se faz o que ele fez, de última hora (sobre a atitude de Quintão). Vamos apoiar o Motta porque queremos mudar o líder que está aí, que não lidera nada, apenas reproduz os recados que recebe do governo”, diz o deputado Osmar Terra (RS). “Não esperávamos essa reviravolta porque o Quintão se lançou como candidato próprio. Se ele acha que o grupo que iria votar nele o seguirá, vai perder feio”, completa o oposicionista Darcísio Perondi (PMDB-RS). 

Fonte: vermelho.org.br