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domingo, 9 de dezembro de 2018

O FUTURO DO BRASIL- Jovens: bucha de canhão do mercado de trabalho de um país subdesenvolvido

Juventude
por Cláudia Motta, da RBA - Foto: GALERIA DE FORA DO EIXO/CC
Como grande excedente da força de trabalho, são obrigados a encarar qualquer tipo de ocupação para sobreviver. O Brasil vê o futuro repetir o passado, perdendo na formação da juventude.
São Paulo - “Eu me sinto péssimo. Quando você pensa que justo no momento em que você está começando a vida, o mundo está vivendo uma crise e seu país um grande retrocesso. Isso acaba com seus sonhos, suas perspectivas vão para o fundo do poço. A vontade que se tem é largar todos os estudos e voltar a trabalhar em qualquer coisa.”
Ygor Silva Santos tem 20 anos. Está no segundo ano de Análise e Desenvolvimento de Sistemas na Fatec do bairro de Heliópolis, região sudeste da cidade de São Paulo, onde vive com a mãe e um irmão.
O jovem, que trabalhava como office-boy, deixou o emprego para estudar, já que a Fatec só tem aulas diurnas. Mas já corre o risco de, como outros tantos milhões, voltar a ser engolido pela falta de oportunidades e o desemprego que voltaram a assolar o país.
Na década de 2000, explica o professor Euzébio Jorge Silveira de Sousa, o Brasil experimentou um substantivo crescimento econômico, fruto do ciclo das commodities, que favoreceu as exportações brasileiras, a elevação do nível médio dos salários e a ampliação do crédito e do consumo dada a melhor distribuição de renda.
“Com o fim desse ciclo de crescimento e o aprofundamento da crise política e econômica, o mercado de trabalho voltou a reproduzir suas características estruturais de país subdesenvolvido: baixos salários, alta rotatividade e elevado desemprego, com grande exploração dado o maior número de trabalhadores pressionando o mercado de trabalho”, explica Euzébio, que é presidente do Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ) e doutor em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp.
E os jovens, segundo o especialista, são os mais afetados pela crise. “Com o declínio da renda das famílias, a juventude, que experimentou protelar o ingresso na vida laboral a fim de ampliar sua escolarização, busca um espaço no mercado de trabalho, qualquer tipo de ocupação para contribuir na composição da renda familiar”, afirma. “A verdade é que no Brasil inexistem condições de permanecer desempregado para se dedicar aos estudos. É uma juventude que trabalha e estuda e não estudantes que trabalham.”
Na sua casa, Ygor foi o primeiro a “fazer faculdade”. A mãe estudou somente até a 4ª série do ensino fundamental. O irmão tem o ensino médio completo.
Na família de Jessy Dayane da Silva Santos, não é diferente. “Como muita gente da minha geração, fui a primeira da família a entrar numa universidade”, conta a vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE). Nascida e criada em Aracaju (SE), mudou-se para São Paulo em 2015, quando trocou o curso de Serviço Social na Federal de Sergipe pelo Direito na FMU paulistana. “Minha mãe é empregada doméstica, não teve acesso à educação em nenhum nível, é analfabeta. Meu pai tem ensino médio, já trabalhou com muita coisa mas atualmente está desempregado.”
“A renda das famílias é determinante para o tempo de estudo dos filhos”, afirma Euzébio, explicando porque tantos pais e mães, jovens de antigamente, nunca puderam completar os estudos.
Euzébio: “A juventude será impactada de forma não homogênea pela crise, mas todos os jovens do país serão afetados”,
“A juventude é uma categoria que muda ao longo da história, é fruto de um processo histórico. Mais que a fase entre a infância e a vida adulta, é um fenômeno que surgiu na sociedade urbana industrial.”
Ou seja, a juventude, mais que uma faixa etária – que no Brasil soma 50 milhões entre os 15 anos e os 29 anos –, é fruto de como a sociedade se relaciona com questões como educação e mundo do trabalho.
“Ela se diferencia pelo processo de construção da autonomia e transição para a vida adulta. Mas existe uma classe que tem de construir autonomia antes da outra”, afirma.
Assim, os jovens cujos pais têm mais escolaridade e nível salarial mais alto, terão mais tempo de estudo e oportunidades no mercado de trabalho. “Os países com menor taxa de participação de jovens no mercado de trabalho são aqueles nos quais esses mesmos jovens têm mais escolarização”, explica Euzébio.
Para o professor, o Brasil guarda relação profunda do mercado de trabalho com o período escravista. “A heterogeneidade étnica não existe nas universidades brasileiras. A abolição não levou à contratação de negros. Importou trabalhadores brancos que ascenderam socialmente. Basta ver que as periferias são eminentemente negras, mas a Mooca (bairro paulistano formado pela imigração italiana) é branca.”

Jovens em perigo, não perigosos

Numa caminhada de dois quarteirões próximos à Escola Dieese, no centro de São Paulo – onde se deu a palestra do professor Euzébio –, a reportagem viu duas “duras” batidas policiais. Ambas tinham como alvo negros e negras jovens.
“Por que o jovem é considerado um sujeito social tão perigoso, exposto a uma política de perseguição e massacre nas periferias?”, questiona o presidente do CEMJ, para responder: “Isso tem a ver com o trabalho, com a não assimilação do jovem negro. A sociedade continuou com esse arranjo para manter o excedente da força de trabalho disposto a aceitar qualquer coisa. O trabalho barato torna a situação da classe média muito mais confortável financeiramente. Basta lembrar o alvoroço causado pela lei das domésticas.”
A situação, para ele, deve se agravar com as recentes mudanças nas leis que regem o mercado de trabalho, com uma reforma que rebaixou direitos e ampliou as possibilidades de trabalho precário, como o temporário e o intermitente. “Vão colocar os jovens numa condição pior do que vivia a geração anterior”, avalia, utilizando como parâmetro a taxa de subutilização da força de trabalho.
“Isso leva em conta quem trabalha só algumas horas, o que não consegue buscar emprego e isso cresce entre os jovens. Enquanto o Brasil crescia essa taxa era menor. Mas voltou a subir em 2015. Dois em cada três jovens estavam procurando emprego em 2017. Com o passar dos anos jovens foram entrando mais tarde no mercado de trabalho e isso está retrocedendo e afetando a escolarização.”
Jane Rosa da Silva, 24 anos, é um retrato do receio diante dessa precarização. Formada em Geografia pela Unesp, tinha como perspectiva fazer um concurso e trabalhar numa instituição pública. “Tenho visto isso se reduzir cada vez mais, principalmente depois de 2016, com o golpe, com Michel Temer. E agora, no ano que vem, não tenho perspectiva de que isso vai melhorar, até porque a lógica de Bolsonaro (presidente eleito) é privatizar tudo”, afirma.
“Não vão abrir concursos e vou ser contratada por empresa terceirizada e terceirização significa precarização do trabalho. Daí fico pensando: pra mim, profissionalmente, quais serão as condições de trabalho. Acredito que será precarizado, muito diferente do que eu imaginava quando entrei na faculdade em 2013. Ou então o desemprego.” Como jovem e mulher, Jane se preocupa: como sobreviver a esse mundo? “A gente vê a composição do governo Bolsonaro, majoritariamente de homens. A gente vinha num movimento oposto, com mulheres ocupando cargos de poder. Não existe representatividade pra mim, no governo dele.”
Esse otimismo que moveu Jane em seus anos de estudo tinha base no mundo real. Um período de crescimento vivido pelo Brasil entre os anos de 2003 e 2014, que chegou a se aproximar do pleno emprego, de carteira assinada, a ampliação do acesso às universidades, mas que, na avaliação de Euzébio, não foi suficiente para romper com as deficiências do mercado de trabalho brasileiro. “Ele está estruturado de forma a manter a atual estrutura social e, para isso, é indispensável que os jovens ofertem sua força de trabalho o mais cedo possível”, critica.
E agora, com a degradação das relações de trabalho e a perspectiva de sucateamento do ensino e da pesquisa, além do retrocesso nas políticas de acesso ao ensino, como será a vida dessa moçada?
“A juventude será impactada de forma não homogênea pela crise, mas todos os jovens do país serão afetados”, lamenta Euzébio. “A reforma trabalhista provocará a elevação da informalidade, redução dos salários e elevação da subutilização da força de trabalho.”
O professor acredita que a queda da renda das famílias obrigará uma grande massa de jovens a ingressar mais cedo no mercado de trabalho, o que elevará o desemprego e reduzirá o nível de escolarização dos jovens. Isso, acompanhado pela reforma do ensino médio e a destruição das universidades públicas, para ele, garantirá a consolidação de nossa histórica desigualdade.
“Enquanto as famílias mais abastadas terão recursos para manter seus filhos estudando, as famílias pobres verão seus filhos, jovens ou crianças, buscando alguma ocupação precária, na maioria das vezes em ocupações informais e inseguras. As consequências para políticas tão excludentes será a explosão da violência urbana que tende a ser combatida pelo novo presidente Bolsonaro com toda a violência possível. A juventude volta a ser vista como questão de polícia e não de política.”
A esperança, mais uma vez, reside na capacidade da juventude de resistir. “Esperamos que façam o que sempre fizeram no Brasil, lutem para continuar existindo e ajudem a transformar o país.”
Fonte: REDE BRASIL ATUAL - RBA

Alinhamento com os EUA será tragédia econômica e moral, afirma Amorim

 Celso Amorim foi ministro das Relações Exteriores
Imagem: EBC
Ex-ministro das Relações Exteriores alerta para a cegueira política e ideológica do governo Bolsonaro.

Em artigo no jornal Folha de São Paulo, Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores (2003-2010, governo Lula) e da Defesa (2011-2015, governo Dilma), faz uma espécie de balanço do sucesso da sua missão como representante da política externa brasileira. Ele recorda que ao longo dos últimos 30 anos após a queda da ditadura — excetuados os dois ou três últimos —, o Brasil se foi firmando como uma potência independente, com papel aglutinador na América Latina e no mundo em desenvolvimento, em particular em relação à África e com peso nas relações internacionais, inclusive junto às grandes potências.

De acordo com o ex-ministro, com a democratização, a estabilização financeira e a eleição de um líder oriundo das camadas mais pobres da população, profundamente engajado com a diminuição da desigualdade social, foram sendo sucessivamente criadas as condições objetivas e subjetivas para o exercício de um papel próprio e afirmativo do nosso país no cenário internacional. “Como ministro de Itamar Franco e embaixador de Fernando Henrique Cardoso, vivenciei alguns dos processos que prepararam o grande salto dado no governo do presidente Lula. No curto período Itamar, institucionalizamos o Mercosul e não permitimos que fosse ‘engolido’ pelo projeto de dominação da Alca”, escreve ele.

Amorim cita que, como embaixador na ONU no governo FHC, atuou, sem que Brasília objetasse, em favor de uma solução pacífica para a questão do Iraque, buscando introduzir certo grau de racionalidade no sistema de inspeção de armamentos e procurando pôr termo ao regime de sanções que penalizava o povo (e não o governo) iraquiano. “Como embaixador em Genebra e com o apoio do então ministro da Saúde, José Serra, negociei, em nome do Brasil, a Declaração de Doha sobre propriedade intelectual e saúde pública, até hoje um marco de referência na busca de soluções adequadas e acessíveis para enfermidades como a aids, a malária e a tuberculose”, afirma.

Segundo ele, seria necessário recapitular as posições e iniciativas tomadas pelo Brasil durante o governo Lula e que levaram o Brasil ao centro do tabuleiro das grandes negociações internacionais. “Na Alca, paramos uma negociação injusta, que nos privaria da capacidade de desenvolver políticas sociais e econômicas necessárias ao nosso desenvolvimento. Na OMC, o Brasil, junto com a Índia, se tornou um ator incontornável na defesa dos interesses dos países em desenvolvimento. Não obtivemos o que queríamos na Rodada de Doha, em virtude da obstinação dos países ricos em manter injustos e nocivos subsídios à agricultura, mas impedimos um acordo que teria tornado ainda mais desequilibradas as regras do comércio internacional”, escreve.

O ex-ministro lembra também que na área da paz e segurança, “fomos um dos pouquíssimos países de fora da região a serem convidados para a Conferência de Annapolis, nos EUA, que, por algum tempo, pareceu dar uma chance real à paz no Oriente Médio”. “Juntamente com a Turquia, concluímos com o Irã uma negociação sobre seu programa nuclear, que abriu caminho para o acordo que Obama assinaria alguns anos mais tarde (com mais cinco países) com Teerã”, destaca.

Tudo isso — em diferentes governos e em distintos graus — só foi possível em razão do respeito que só uma atitude de altivez e independência propicia, ressaltou. “Excetuados certos espasmos de curta duração, foi somente no início do governo militar, entre 1964 e 1966, que o Brasil se deixou conduzir pelo alinhamento acrítico com os EUA. Foi a época das ‘fronteiras ideológicas’, refutadas de forma explícita no período Geisel/Silveira”, afirma. 

Segundo Amorim, é essa política subserviente, que em nada aproveita ao país, que se pretende reeditar agora, justamente no momento em que Washington se isola do mundo, adota atitudes protecionistas no plano econômico e abandona os instrumentos multilaterais que os próprios EUA ajudaram a criar ao final da Segunda Guerra Mundial. “Alinhamento automático com Washington (ou com quem quer que seja) nunca foi boa política. Com Trump, além de um desastre político, será uma tragédia econômica e moral”, concluiu.

Fonte: Portal Vermelho

Economia As "reformas" de Bolsonaro começaram em 1964.


 Bolsonaro e Guedes seguem a cartilha neoliberal contrária aos trabalhadores
 Bolsonaro e Guedes seguem a cartilha neoliberal contrária aos trabalhadores




Tática é enfraquecer o trabalho para trair o capital.

Por Osvaldo Bertolino*


Uma das mais nefastas medidas anunciadas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro é a de avançar com a chamada “reforma” trabalhista, combinada com a “reforma” da Previdência Social. Segundo ele, seu governo pretende obter “avanços” nos seis primeiros meses do seu mandato. Ao ser questionado se daria prioridade às “reformas” ou às privatizações, Bolsonaro afirmou que "a ordem dos fatores não altera o produto". Ele voltou a dizer que pretende aprofundar ainda mais a “reforma” trabalhista e que a equipe econômica também está debruçada sobre a “reforma” tributária. 

Quando a direita fala em “reforma”, na verdade ela está dizendo anti-reforma. Não se trata de algo com o objetivo de melhor o que existe, mas de desmontá-lo. Trata-se de um tema que reflete uma questão de fundo: o que serve só ao capital não pode servir ao trabalho. Há, desde já, uma clara contradição entre o que diz a equipe de Bolsonaro e os problemas reais dessa relação. Esse debate talvez seja uma das discussões que mais mobilizarão as energias do país. 

O Brasil precisa de medidas para incorporar milhões de trabalhadores ao mercado regulado de trabalho. Em resumo: modernizar a lei para combater a informalidade e o subemprego. Para tanto, seria necessário a revogação da lógica de é preciso enfraquecer o trabalho para atrair o capital. Bolsonaro repete o discurso fantasioso sobre a "era Vargas" do neoliberalismo, cujo resultado fez do Brasil um dos recordistas mundiais de desregulamentação trabalhista. 

Lincoln Gordon

Esse processo de sabotagem dos direitos dos trabalhadores é, a rigor, um componente básico do modelo econômico que vigora predominantemente no Brasil desde o golpe militar de 1964. Quando os golpistas tomaram posse do país, uma das primeiras medidas adotadas foi a de pôr um ponto final nas "reformas de base" e alterar radicalmente as relações entre capital e trabalho. Além da violência aberta contra os trabalhadores, a ditadura militar operou mudanças profundas na legislação trabalhista por meio de decretos leis e atos institucionais.

O corte rompeu uma linha que vinha se condensando desde o início dos anos 1950, quando o segundo governo do presidente Getúlio Vargas definiu claramente duas estratégias para o país — o desenvolvimento independente, com distribuição de renda, e a dependência de capitais estrangeiros, que satisfaziam os monopólios brasileiros. Essa dubiedade marcou os governos seguintes e se rompeu com o golpe de 1964, depois de a balança começar a pender para o lado das forças nacionalistas e populares no início daquela década.

A brusca e forçada mudança na correlação de forças entre capital e trabalho obedecia, ainda, a regra do capital monopolista internacional e seu centro dominante — os Estados Unidos —, de expandir o modelo brasileiro para outros países vizinhos. As ditaduras fascistas insufladas pelos norte-americanos logo se espalharam pela América Latina. Falando ao jornal O Estado de S. Paulo na ocasião, o embaixador de Washington no Brasil, Lincoln Gordon, disse que "a revolução de 64" estava entre os acontecimentos mais importantes para o "ocidente", ao lado "do Plano Marshall, do bloqueio de Berlim e da derrota dos comunistas na Coréia".

A ideia dos que passaram a comandar esse modelo é a mesma, em essência, que vigora hoje. Mário Henrique Simonsen e Roberto Campos, os mais destacados formuladores daquela política econômica, publicaram, em 1974, um livro chamado A Nova economia brasileira no qual disseram que os objetivos básicos dos golpistas eram o combate à inflação, o reequilíbrio do balanço de pagamentos e a criação de bases sobre as quais deveria ocorrer o desenvolvimento de longo prazo. Qualquer semelhança com a atual política econômica não é mera coincidência.

Produtivismo ou distribuitivismo

Ali os trabalhadores sofreram uma extensa e profunda derrota. Recuperamos terreno nos anos 1980, principalmente na Assembleia Constituinte de 1988. Hoje, no que toca à política econômica, o cenário que se apresenta tem igual dimensão ao de 1964. Um Estado algemado por essa ideologia liberal é, sem dúvida, um entrave para as aspirações nacionais. É que o pano de fundo do problema tem a mesma coloração liberal. E um dos pré-requisitos para esse modelo é o de garantir força de trabalho barata — incluindo nesse conceito, além do achatamento salarial, o enfraquecimento dos sindicatos e a "flexibilização" das leis trabalhistas. 

Os dois ícones do liberalismo brasileiro colocaram o dilema: produtivismo ou distribuitivismo? "A primeira estabelece como prioridade básica o crescimento acelerado do produto real, aceitando, como ônus de curto prazo, a permanência de apreciáveis desigualdades sociais individuais de renda. A segunda fixa como objetivo fundamental a melhoria da distribuição e dos níveis de bem-estar presente", escreveram. O modelo seguido, evidentemente, foi o produtivista — que se tornou popular anos depois quando Delfim Netto afirmou que primeiro era preciso fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. 

Estado de Bem-Estar Social

Na economia, a linguagem cifrada em geral tem o objetivo de ofuscar as verdadeiras intenções de uma determinada política. Ao definir os aumentos salariais como uma das principais causas da inflação, coerentemente os gestores desse modelo estabelecem uma austera política salarial — como se viu ao longo desse tempo principalmente com o salário mínimo — e uma total desproteção do vínculo empregatício.

A ordem estabelecida em 1964 também inaugurou a gestão econômica do país por uma tecnocracia privada, que representa os negócios privados dentro do governo. Já em 1981, no livro O Brasil pós-milagre, Celso Furtado constatou amargamente: "Poucas vezes ter-se-á imposto a um povo um modelo de desenvolvimento de caráter tão anti-social."

Muita coisa mudou, evidentemente. A Guerra Fria acabou, e com ela a importante influência do campo socialista em todo o mundo, e o Estado de Bem-Estar Social como elemento que balanceava as relações entre capital e trabalho entrou em crise. O mundo hoje, enfim, é rasgadamente distinto daquele do passado. O jogo unilateral, que faz os recursos fluírem em mão única dos países periféricos para os países centrais, voltou com força. Vivemos a época do império expansionista que emergiu com força da Segunda Guerra Mundial — os Estados Unidos — reinando absoluto.

Mais do que nunca, as relações baseadas numa lógica metrópole-colônia, de guerras por interesses econômicos e de amplo desbalanceamento de forças, vigoram em escala quase planetária. E, consequentemente, o padrão de vida dos trabalhadores desaba em todo o mundo. E isso só pode significar uma coisa: as relações econômicas entre países ricos e pobres, entre empresas e governos, entre capital e trabalho voltaram ao processo de verticalização dominante até o início do século XX.


 *Osvaldo Bertolino é jornalista e escritor.
As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Portal Vermelho