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quarta-feira, 21 de junho de 2017

Haroldo Lima: A UNE e os jovens dão exemplo a ser seguido

 Marianna Dias é a nova presidenta da UNE



Marianna Dias é a nova presidenta da UNE - Foto: Henrique Silveira/Grito




Carina Vitral, a presidenta que encerrou com luzes seu mandato vitorioso de presidenta da UNE, é de Santos, a cidade onde fica o famoso “porto vermelho de Santos”, assim descrito nos “Subterrâneos da Liberdade” por Jorge Amado, pelas lutas memoráveis lá travadas pelos portuários. 

Essas duas jovens guerreiras seguem o caminho aberto em 1982 pela também baiana Clara Araújo, primeira mulher a presidir a UNE em toda sua história, caminho depois palmilhado por outras jovens, todas aguerridas, Gisela Mendonça (1986-1987), Patrícia de Angelis (1991-1992), Lúcia Stumpf (2007-2009) e Virgínia Barros, a Vic (2013 -2015). 

Participei desse 55º Congresso de Belo Horizonte, palestrando sobre petróleo, em um dos painéis montados pela UNE para pensar e discutir o Brasil. Abracei calorosamente a Carina Vitral e a Marianna Dias. Senti o clima efervescente do Congresso, envolvi-me nele. Depois, fiquei a refletir sobre o momento por que passa nosso país e a atitude daqueles jovens.

Vivemos uma grande crise. A pedra de toque dos nossos problemas está na existência de um governo ilegítimo, que chegou ao poder nos braços de um golpe e que ao se aboletar nos postos de comando do país levou para lá uma quadrilha. A cena é tão mais chocante quanto se sabe que o caminho para o assalto foi aberto com gritos hipócritas contra a corrupção. E os quadrilheiros, profissionais da corrupção, botaram para fora uma presidenta honesta, eleita pelo povo, contra a qual não se provou nada de ilícito, apoiando-se numa farsa deslavada, a tal “pedalada fiscal”. 

Mas esse golpe, urdido no Parlamento, no Ministério Público e no Judiciário foi propalado há anos pela grande mídia monopolizada, que fez campanha sistemática para desacreditar, em primeiro lugar os políticos de esquerda, e depois, a própria atividade política, colocando todos os homens públicos sob suspeita de corrupção, como se fossem “farinha do mesmo saco”. Com isso, protegia e embelezava seus comparsas, os corruptos, igualando-os a homens de bem, e difamava os homens de bem, nivelando-os aos corruptos. 

Essa cantilena mentirosa perseguia o objetivo de desmoralizar a Nação brasileira, de botar a autoestima de nosso povo “pra baixo”, fazendo-lhe acreditar que “esse país não tem jeito”. 

Um método faccioso de enfrentar a corrupção – o método da Lava Jato - foi posto em prática e incensado pela grande mídia: uma pirotecnia gigantesca alardeava que se estava combatendo a corrupção; alguns gatunos eram presos; pessoas eram escolhidas para serem liquidadas politicamente; “delações premiadas” eram providenciadas para comprometerem essas pessoas; “provas” eram substituídas por “convicções”; e o país ia descendo a ladeira e levado a um impasse. 
Paralelamente, com extrema eficácia, arrebentava-se, não com a corrupção e suas causas, mas com um conjunto de grandes empresas brasileiras, suspendendo contratos, paralisando obras, desempregando dezenas de milhares de postos de trabalho, tudo, supostamente para “combater a corrupção”. 

O país foi ficando desgovernado, ou melhor, governado por uma quadrilha de assaltantes e por alguns Procuradores e Juízes que nunca receberam um voto para nada. Céleres, as portas vão se abrindo rápidas para os homens do capital estrangeiro, tidos como “honestos”. A desesperança vai sendo alimentada diuturnamente.

É nesse quadro cinzento que o 55º Congresso da UNE rasga o véu para um outro discurso completamente diferente, enérgico, corajoso, vibrante, o de que o Brasil tem jeito sim, e de que, na base da mobilização de seu povo, com a juventude ao seu lado, dando-lhe força, poremos fim ao governo golpista e, através de eleições diretas, reconquistaremos a legitimidade do Poder soberano e abriremos o caminho para um futuro grandioso de Nação. 

A diversidade de posições políticas e de opiniões sobre os caminhos brasileiros para o futuro estiveram presentes no Congresso da UNE e, com muita convicção, foram respeitadas. Mas, é incrível como, no meio daquela moçada entusiasmada aos milhares, não se ouvia ninguém defendendo o governo que está aí. Ao contrário. Havia divergências e pontos de vista diferenciados em muitas coisas, mas unidade em torno do Fora Temer e Diretas Já.

As falas da Marianna Dias foram empolgantes. Foi bonito escutar a verve de suas mensagens contagiando a multidão de seus colegas orgulhosos de tê-la. 

Defendeu a união na luta. Expressou a força das ideias que unem. Disse que o caminho para a vitória é o da unidade. Afirmou que naquele Congresso, "a esquerda atingiu um nível de unidade nunca antes visto na história do país". Partidos, grupos, correntes, facções todos estavam lá democraticamente participando e prestigiando a UNE. Este é o exemplo dos nossos jovens estudantes para o avanço da luta libertária. 

A jovem ex-presidente da União dos Estudantes da Bahia, aluna de Pedagogia da Universidade Estadual da Bahia, a Uneb,, galvanizou seus pares ao chama-los para que seguissem esse exemplo da UNE, que é o da própria história de 80 anos da entidade, no qual sempre deu “prova de amor ao Brasil”. 

O chamamento de Marianna Dias, calou fundo no coração dos estudantes. Deve sensibilizar os brasileiros amantes da sua Pátria e da democracia, prontos a acolher o seu chamado e dar “uma prova de amor ao Brasil”, lutando por ideais grandiosos, que, como o Congresso da UNE definiu, passa pelo Fora Temer e Diretas Já.

Unidade e entusiasmo marcaram o 55o Congresso da UNE I Foto:Vitor Vogel/Cuca da UNE 

Haroldo Lima é membro da Comissão Política do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Marianna Dias: “A UNE é uma grande prova de amor ao Brasil”

 A nova presidenta ao falar no 55º Conune
 A nova presidenta ao falar no 55º Conune -Foto: Vitor Vogel

A estudante Marianna Dias, apesar de muito jovem, já tem uma larga experiência no movimento estudantil. Integrou o diretório acadêmico de Pedagogia da Uneb, presidiu a União dos Estudantes da Bahia (UEB) e era diretora de Relações Internacionais da UNE. Marianna integra a União da Juventude Socialista (UJS), organização juvenil que encabeçou o movimento Vem Quem Tem Coragem que uniu diversas correntes do movimento estudantil para participar do 55º Conune.

Ao assumir a presidência da histórica entidade dos universitários brasileiros, Marianna considera que a UNE tem três grandes desafios no campo político. O primeiro é fazer com que as pessoas acreditem na política. Para ela, “quando as pessoas deixam de acreditar que a política pode transformar a vida delas, a gente tem mais dificuldade de estabelecer mudanças no Brasil”. A líder estudantil considera que a política não pode ser vista como sinônimo de sujeira, de corrupção, de coisa ruim. Para ela é essencial disputar a consciência dos jovens, dos estudantes, no próximo período.

Outro desafio, segundo a nova presidenta da UNE, é fazer muita mobilização e colocar muito estudante na rua. O objetivo é “barrar os retrocessos, o avanço desse projeto que não foi aprovado pelas urnas no Brasil”, afirmou. O terceiro desafio é contribuir para que a democracia seja restabelecida no Brasil através do voto. Segundo Marianna, “a UNE tem feito uma campanha muito grande pelas Diretas Já, mas a próxima gestão terá ainda mais responsabilidade de falar sobre isso”.

Marianna Dias fala sobre os desafios da UNE


Prova de amor

Marianna Dias considera que a UNE tem um grande papel junto à juventude brasileira. Para ela a entidade “faz os estudantes acreditarem na política, faz os estudantes acreditarem que a educação é transformadora e luta para que os estudantes tenham acesso ao ensino superior no Brasil”. Até mesmo em termos de perspectiva de vida, a UNE dá esperança para que os estudantes. “A UNE é uma grande prova de amor ao Brasil”, afirmou.

Sobre a importância do 55º Conune, Marianna afirma que o evento contribuiu para comemorar em alto estilo os 80 anos da UNE porque os estudantes voltam para suas universidades animados e com coragem para transformar o Brasil. Ela considera que “fazer parte da luta política é tudo que o Brasil precisa e esta geração de jovens que confia na UNE, que constrói a UNE sairá do congresso para construir uma grande greve geral e reconstruir a democracia no Brasil”.

Marianna no Congresso da UNE


Unidade em defesa do Brasil

Ao ser apresentada aos participantes do congresso como candidata a presidenta, Marianna discursou para os milhares de estudantes reunidos no ginásio Mineirinho. Ela destacou a trajetória da UNE ao completar 80 anos de fundação em seu maior congresso. Lembrou que a entidade surgiu em 1937 para convocar os estudantes brasileiros para defender o Brasil de forma unitária. Destacou que a UNE nasceu clamando pela liberdade ao fazer parte da campanha contra o nazi-fascismo. Também ressaltou o protagonismo da entidade na campanha pelo Petróleo é Nosso para defender a soberania do Brasil. A mesma UNE lutou contra a ditadura militar, que levou diversos militantes, diversos estudantes brasileiros por conta da repressão, por conta da violência e do autoritarismo. “Lutamos e conquistamos a redemocratização do Brasil bravamente para que a liberdade, para que a soberania, para que os direitos do povo pudessem ser resguardados. Também não nos furtamos, na década de 1990, de lutar contra o neoliberalismo e a tentativa de retirar os direitos dos trabalhadores, contra as privatizações”, afirmou a dirigente estudantil.

Ainda se dirigindo aos estudantes de todo o Brasil, Marianna destacou “que o momento que o Brasil vive exige que as forças democráticas e populares se unifiquem”. Para ela, a história da UNE demonstra que era necessário conformar uma grande unidade de forças para dirigir as lutas da entidade. Destacou que o Brasil conseguiu construir um país melhor, em situação de quase pleno emprego, de democratização da universidade, como demonstrava a cara do congresso estudantil. Nordestina, citou a transposição do Rio São Francisco, que levou água para o Nordeste. “Eu sei e o meu povo do Nordeste sabe que a fome e a miséria, que a seca e a fome não podem ser a cara do Brasil”, afirmou. 

Para Marianna, só com muita unidade será possível transformar o Brasil. “Tenho a convicção de que com a força de sete milhões de universitários do Brasil nós seremos vitoriosos. Porque Honestino Guimarães disse que nós voltaríamos e seríamos milhões. E nós estamos aqui e nós somos milhões! E nós vamos derrotar o presidente golpista da República e construir uma grande jornada de luta, uma grande greve geral”, afirmou sob forte emoção. Para ela, a vitória só será possível com a união de todo o conjunto do campo democrático e popular. 

Ao encerrar seu discurso, a nova presidenta afirmou: “nós somos os estudantes e este congresso da UNE representa a esperança que o povo brasileiro pode ter numa juventude que não abandona o Brasil, que não abandona a luta política, que acredita que através da unidade nós construiremos  futuro melhor. Viva a Frente Brasil Popular! A unidade é a bandeira da esperança e nós somos a esperança do Brasil. A UNE somos nós, nossa força, nossa voz”.

 

 Marianna Dias e Carina Vitral, que presidiu a UNE entre 2015 e 2017 I Foto: Carol Burgos