ELEIÇÕES 2022: MOVIMENTO 65

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CAMPANHA MOVIMENTO 65

domingo, 27 de outubro de 2019

América do Sul mostra o caminho: não ao neoliberalismo

Por Pepe Escobar

O neoliberalismo está – literalmente – queimando. E do Equador ao Chile, a América do Sul, mais uma vez, está mostrando o caminho. Contra a cruel e única receita de austeridade do FMI, que utiliza armas de destruição econômica em massa para esmagar a soberania nacional e promover a desigualdade social, a América do Sul finalmente parece pronta para recuperar o poder de forjar sua própria história.
Três eleições presidenciais estão em jogo. A Bolívia parece ter sido resolvida no domingo passado – mesmo quando os suspeitos de costume gritam “Fraude!” Argentina e Uruguai serão no próximo domingo.

A reação contra o que David Harvey concebe esplendidamente como acumulação por desapropriação é e continuará sendo uma vadia. Finalmente chegará ao Brasil – que, como está, continua a ser despedaçado por fantasmas pinochetistas. O Brasil, depois de imensa dor, ressurgirá. Afinal, os excluídos e humilhados em toda a América do Sul estão finalmente descobrindo que carregam um Coringa dentro de si.

Chile privatiza tudo

A questão colocada pela rua chilena é gritante: “O pior é evitar impostos ou invadir o metrô?” É tudo uma questão de fazer a matemática da luta de classes. O PIB do Chile cresceu 1,1% no ano passado, enquanto os lucros das maiores empresas cresceram dez vezes mais. Não é difícil encontrar de onde a enorme lacuna foi extraída. A rua chilena realça como a água, a eletricidade, o gás, a saúde, a medicina, o transporte, a educação, o salar de Atacama e até as geleiras foram privatizadas.

É o acúmulo clássico por desapropriação, pois o custo de vida se tornou insuportável para a esmagadora maioria de 19 milhões de chilenos, cuja renda mensal média não excede US $ 500.

Paul Walder, diretor do portal Politika e analista do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE) observa como menos de uma semana após o fim dos protestos no Equador – o que forçou o abutre neoliberal Lenin Moreno a evitar um aumento no preço do gás – O Chile entrou em um ciclo de protestos muito semelhante.

Walder define corretamente o presidente do Chile, Sebastian Pinera, como o peru em um banquete de longa duração que envolve toda a classe política chilena. Não é de admirar que a rua chilena louca como o inferno não faça diferença entre o governo, os partidos políticos e a polícia. Pinera, previsivelmente, criminalizou todos os movimentos sociais; enviou o exército para as ruas por repressão sem mitigação; e instalou um toque de recolher.

Pinera é o 7º bilionário mais rico do Chile , com ativos avaliados em US $ 2,7 bilhões, espalhados em companhias aéreas, supermercados, TV, cartões de crédito e futebol. Ele é uma espécie de Moreno com carga turbo, um pinochetista neoliberal. O irmão de Pinera, José, era na verdade um ministro sob Pinochet, e o homem que implementou o sistema de assistência social privatizado do Chile – uma fonte essencial de desintegração social e desespero. E está tudo interligado: o atual ministro das Finanças do Brasil, Paulo Guedes, morava em Chicago e trabalhava no Chile na época, e agora quer repetir o experimento absolutamente desastroso no Brasil.

O ponto principal é que o “modelo” econômico que Guedes quer impor no Brasil entrou em colapso total no Chile.

O principal recurso do Chile é o cobre. As minas de cobre, historicamente, eram de propriedade dos EUA, mas depois foram nacionalizadas pelo presidente Salvador Allende em 1971; assim, o criminoso de guerra Henry Kissinger planejou eliminar Allende, o que culminou no 11 de setembro original, em 1973.

A ditadura de Pinochet mais tarde privatizou novamente as minas. A maior de todas, Escondida, no deserto de Atacama – que responde por 9% do cobre do mundo – pertence ao gigante anglo-australiano Bhp Billiton. O maior comprador de cobre nos mercados mundiais é a China. Pelo menos dois terços da renda gerada pelo cobre chileno não se destinam ao povo chileno, mas a multinacionais estrangeiras.

O desastre argentino

Antes do Chile, o Equador estava semi-paralisado: escolas inativas, falta de transporte urbano, falta de alimentos, especulação desenfreada, sérios distúrbios nas exportações de petróleo. Sob o fogo da mobilização de 25.000 indígenas nas ruas, o presidente Lenin Moreno covardemente deixou um váquo de poder em Quito, transferindo a sede do governo para Guayaquil. Os povos indígenas assumiram o governo em muitas cidades importantes. A Assembléia Nacional ficou sem governo por quase duas semanas, sem a vontade de tentar resolver a crise política.

Ao anunciar um estado de emergência e um toque de recolher, Moreno estendeu um tapete vermelho para as Forças Armadas – e Pinera repetiu o procedimento no Chile. A diferença é que, no Equador, Moreno aposta no Dividir para Reinar entre os movimentos dos povos indígenas e o restante da população. Pinera recorre à força bruta.

Além de aplicar as mesmas velhas táticas de aumentar os preços para obter mais fundos do FMI, o Equador também exibiu uma articulação clássica entre um governo neoliberal, grandes empresas e o embaixador americano, neste caso Michael Fitzpatrick, ex-secretário assistente do Hemisfério Ocidental da região andina, Brasil e Cone Sul até 2018.

O caso mais claro de falha neoliberal total na América do Sul é a Argentina. Há menos de dois meses, em Buenos Aires, vi os efeitos sociais cruéis do peso em queda livre, inflação de 54%, uma emergência alimentar de fato e o empobrecimento de setores sólidos da classe média. O governo de Mauricio Macri literalmente queimou a maior parte do empréstimo de US $ 58 bilhões do FMI – ainda há US $ 5 bilhões para chegar. Macri está pronto para perder as eleições presidenciais: os argentinos terão que pagar sua imensa cota.

O modelo econômico de Macri não podia deixar de ser de Pinera – na verdade de Pinochet, onde os serviços públicos são administrados como um negócio. Uma conexão importante entre Macri e Pinera é a ultra-neoliberal Freedom Foundation, patrocinada por Mario Vargas Llosa, que pelo menos se orgulha da qualidade redentora de ter sido um romancista decente há muito tempo.

Macri, um milionário, discípulo de Ayn Rand e incapaz de demonstrar empatia por alguém, é essencialmente uma cifra, pré-fabricada por seu guru equatoriano Jaime Duran Barba como um produto robótico de mineração de dados, redes sociais e grupos focais. Uma análise hilária de suas inseguranças pode ser encontrada em La Cabeza de Macri: Como Piensa, Vive y Manda el Primer Presidente de la No Politica , de Franco Lindner.

Entre inúmeras travessuras, Macri está indiretamente ligada à fabulosa máquina de lavagem de dinheiro HSBC. O presidente do HSBC na Argentina era Gabriel Martino. Em 2015, quatro mil contas argentinas no valor de US $ 3,5 bilhões foram descobertas no HSBC na Suíça. Esta espetacular fuga de capitais foi projetada pelo banco. No entanto, Martino foi essencialmente salvo por Macri e se tornou um de seus principais conselheiros.

Cuidado com os empreendimentos de abutres do FMI

Todos os olhos agora devem estar na Bolívia. Até o momento em que este artigo foi escrito, o presidente Evo Morales venceu as eleições presidenciais de domingo no primeiro turno – obtendo, por uma pequena margem, o spread de 10% necessário para um candidato vencer se não obtiver os 50% mais um dos votos. Morales essencialmente acertou no final, quando os votos das zonas rurais e do exterior foram totalmente contados, e a oposição já havia começado a sair às ruas para pressionar. Não surpreende que a OEA – servil aos interesses dos EUA – tenha proclamado “falta de confiança no processo eleitoral”.

Evo Morales representa um projeto de desenvolvimento sustentável, inclusivo e crucialmente autônomo das finanças internacionais. Não é de admirar que todo o aparato do Consenso de Washington odeie suas entranhas. O ministro da Economia, Luis Arce Catacora, foi direto ao ponto: “Quando Evo Morales venceu sua primeira eleição em 2005, 65% da população era de baixa renda, agora 62% da população tem acesso a uma renda média”.

A oposição, sem nenhum projeto, exceto privatizações violentas, e nenhuma preocupação com as políticas sociais, é deixada a gritar “Fraude!”, Mas isso pode dar uma guinada muito desagradável nos próximos dias. Nos subúrbios de Tony, no sul de La Paz, o ódio de classe contra Evo Morales é o esporte favorito: o presidente é chamado de “índio”, “tirano” e “ignorante”. Os cholos do Altiplano são rotineiramente definidos pelas elites proprietárias de terras brancas nas planícies como uma “raça do mal”.

Nada disso muda o fato de que a Bolívia é agora a economia mais dinâmica da América Latina, como destacou o principal analista argentino Atilio Boron .

A campanha para desacreditar Morales, que se tornará ainda mais cruel, faz parte da guerra imperial do 5G, que, segundo Boron, elimina totalmente “a pobreza crônica que a maioria absoluta da população sofreu por séculos”, um estado que sempre ” manteve a população sob total falta de proteção institucional ”e“ pilhagem da riqueza natural e do bem comum ”.

É claro que o fantasma dos empreendimentos de abutres do FMI não desaparecerá na América do Sul como um encanto. Mesmo que os suspeitos de costume, via relatórios do Banco Mundial, agora pareçam “preocupados” com a pobreza; Os escandinavos oferecem o Prêmio Nobel de Economia a três acadêmicos que estudam a pobreza; e Thomas Piketty, em Capital and Ideology , tente desmontar a justificativa hegemônica para a acumulação de riqueza.

O que ainda permanece absolutamente fora dos limites para os guardiões do sistema mundial atual é realmente investigar o ultra neoliberalismo como a causa raiz da hiperconcentração da riqueza e da desigualdade social. Não basta oferecer Band-Aids. As ruas da América do Sul estão iluminadas. O contragolpe está agora a pleno vigor.

*Pepe Escobar é analista geopolítico independente, escritor e jornalista.

Fonte: Strategic Culture Foundation, via Geopolítica

Foz do Rio São Francisco é ameaçada com manchas de óleo petrificadas

O local fica próximo ao Pontal do Peba, outra região fortemente afetada pelo derramamento de petróleo. Corais e pedras também foram afetadas
Por Luísa Fragão e Wilfred Gadêlha, na revista Fórum
O município de Piaçabuçu, local onde deságua o Rio São Francisco no litoral sul de Alagoas, enfrenta uma situação até então inédita desde que se iniciou o vazamento de petróleo no litoral nordestino, no final de agosto deste ano. A praia da região, que é uma reserva de proteção ambiental, apresenta grandes manchas de óleo petrificadas, que se assemelham a rochas. O local fica próximo ao Pontal do Peba, outra praia fortemente afetada pelo derramamento de petróleo.
O repórter especial da Revista Fórum, Wilfred Gadêlha, que está em caravana pelo Nordeste para cobrir os impactos dessa tragédia ambiental, flagrou nesta sexta-feira (25) as enormes manchas de óleo petrificadas nas praias de Piaçabuçu. De acordo com ele, corais e pedras naturais também foram afetadas.
Walmir dos Santos, pescador da região, contou ao repórter que está muito preocupado com o vazamento de óleo e que a prática de pesca está impossibilitada no local, pois os peixes emergem nas redes já sujos com a substância.
Nesta mesma sexta-feira (25), equipes da Marinha e Exército, além de voluntários locais, atuavam na região de Pontal do Peba para retirar o óleo. O repórter Wilfred Gadêlha tentou conversar com a capitã Larissa para que comentasse a operação, mas ela não quis se pronunciar.
Fonte Portal da CTB Nacional

Folha divulga áudio de Queiroz: "MP tem cometa para enterrar na gente"

Ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz tem áudios vazados.

Ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz tem áudios vazados.

Áudios divulgados pela Folha de S.Paulo neste domingo (27) aponta falas do ex-assessor Fabrício Queiroz em referência a ele próprio e ao filho do presidente Jair Bolsonaro, preocupado com as denúncias que o Ministério Público tem: “Um cometa para enterrar na gente”, disse. Queiroz cita ainda a demissão de funcionária-fantasma, diz que quer voltar para o PSL, da necessidade de "lapidar" e "blindar" o partido e sugere ainda, uma "porrada" no presidente da Câmara, Rodrigo Maia.


Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro são investigados por um suposto esquema de “rachadinha” instalado no gabinete do senador, quando este exercia mandato como deputado estadual na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) detectou movimentações atípicas de Queiroz na ordem de R$ 1,2 milhão de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. O MP do Rio de Janeiro abriu investigação, que foi suspensa no último dia 30 pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Os áudios divulgados pelo jornal tratam de julho deste ano. “É o que eu falo, po. O cara lá está hiperprotegido. Eu não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar aí, entendeu? Ver e tal… É só porrada, cara. O MP [Ministério Público] tá com uma pi** do tamanho de um cometa para enterrar na gente e não vi ninguém agir”, disse em julho deste ano.

Em outras gravações obtidas pela Folha, Queiroz disse que tem vontade de voltar para o PSL e “lapidar a bagunça” pela qual passa o partido. A fonte que passou o material foi mantida sob sigilo.

“Resolvendo essa pi** que está vindo na minha direção, que se Deus quiser vai resolver, vamos ver se a gente assume esse partido aí, cara. Eu e você de frente aí. Lapidar essa po**”, afirmou a 1 interlocutor não identificado.

Queiroz acrescentou ao interlocutor para ficarem os 2 “de frente” e “blindar” os problemas partidários. Atualmente, Flávio Bolsonaro é quem comanda o diretório do PSL no Rio. O irmão e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) está à frente do diretório em São Paulo.

“Então, cara, eu politicamente, só posso ir para partido. Trabalha isso aí com o chefe aí. Passando essa ventania aí, ficamos eu e você de frente. A gente nunca vai trair o cara. Ele sabe disso. E a gente blinda, a gente blinda legal essa porra aí. Espertalhão não vai se criar com a gente”, afirmou.

O ex-assessor disse que o governo está sendo feito de “chacota” e que está “pegando mal” a atividade do presidente Jair Bolsonaro no Twitter. Afirmou que Bolsonaro deveria “dar porrada” no presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e que o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) deveria ir “no calço” de Maia.

“Estão fazendo chacota do governo dele. Rodrigo Maia está esculachando. Rodrigo Maia… As declarações dele humilha [sic] o Jair. Jair tinha que dar uma porrada nesse filha da pu**. Botar o [ministro da Justiça] Sergio Moro para ir no calço [sic] dele. Tem pi** na bunda dele aí, antiga”, falou em março.

Numa outra gravação, Queiroz dá a entender que Bolsonaro comunicou a ele que demitiria a funcionária-fantasma do gabinete de 1 de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). O ex-assessor fala sobre Cileide Barbosa Mendes, de 43 anos, doméstica da família.

“Na época, o Jair falou para mim que ele ia exonerar a Cileide porque a reportagem estava indo direto lá na rua e para não vincular ela ao gabinete. Aí ele falou: ‘Vou ter que exonerar ela assim mesmo’. Ele exonerou e depois não arrumou nada para ela não? Ela continua na casa em Bento Ribeiro?”, perguntou.

Na última  quarta-feira (24), o jornal O Globo publicou numa reportagem que Queiroz supostamente continuava ativo em indicações para gabinetes. O ex-assessor afirmou que seria possível ser escolhido para cargos sem que houvesse vinculação direta à família Bolsonaro:

“Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara, no Senado… Pode indicar para qualquer comissão, alguma coisa, sem vincular a eles [família Bolsonaro] em nada. Vinte continho pra gente caía bem, pra c**, caía bem pra c**. Não precisa vincular a um nome.


Com informações do Poder 360
Fonte: Portal Vermelho

Aniversário de Lula mobiliza milhares no Brasil e exterior

 

Ex-presidente e preso político completou 74 anos neste domingo (27); data é marcada por comemoração de sua vida e pedidos de justiça e liberdade.

Com a irreverência e alegria características do povo brasileiro, milhares de integrantes de movimentos populares, partidos, apoiadores e admiradores do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva organizaram atos em diversas cidades do país e do mundo para celebrar seu aniversário neste domingo (27).

Os festejos para celebrar os 74 anos do líder de Luiz Inácio Lula da Silva, nascido no interior de Pernambuco, marcam também a resistência pela sua liberdade após 568 dias de sua prisão política.

Uma das principais festas de aniversário organizadas para Lula  foi realizada na Vigília Lula Livre, a poucos metros da sede da Polícia Federal em Curitiba (Paraná), onde o ex-presidente está detido desde abril de 2018.

Com um bolo de mais de 5 metros de extensão, feito por grupos da economia solidária, e milhares de participantes de todas as regiões do país que viajaram em caravanas até a capital do Paraná, a festa da Vigília Lula Livre contou com diversas apresentações musicais e falas políticas.

A presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, também esteve em Curitiba para felicitar Lula e relembrou seu legado para o país.

“Lula deixa um dos maiores legados de governo ao povo brasileiro e vai deixar um das maiores legados de resistência e coragem ao estar aqui de cabeça erguida e não trocar sua dignidade pela liberdade”, afirmou.
Bolo de aniversário para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante comemoração na Vigília Lula Livre, em frente à Sede da Polícia Federal onde está preso desde abril de 2018.

A data comemorativa não passou despercebida no estado natal do ex-presidente, onde estão sendo realizadas confraternizações em vários municípios, e os pernambucanos abusaram da criatividade na hora de comemorar. 

Em Caetés, cidade onde nasceu o ex-presidente, a população se reuniu a partir das 8h na casa onde Lula viveu, e realizaram festividades durante toda a manhã.

No Recife, o dia amanheceu com mobilizações no rio Capibaribe, que cruza a cidade. Recifenses realizaram a “Barqueata” Lula Livre, a partir das 8h, navegando em homenagem ao aniversariante, com mais de 30 barcos. Às margens do rio, foram realizados bandeiraços em diversas pontes da cidade.

Ainda no Recife, quem não quis tomar o caminho das águas, também pôde celebrar os 74 anos de Lula com o Pedal Lula Livre. A ação dos ciclistas teve início às 9h, no Parque da Jaqueira. As ações na capital seguiram por todo o dia e o bolo de aniversário com parabéns foi cortado no final desta tarde, na av. Rio Branco, no Marco Zero.
Em Olinda, a festa foi celebrada já em clima de Carnaval. com a realização do bloco “Parabéns Presidente”. Em Camaragibe, na região metropolitana do Recife, a comemoração acontece na principal praça da cidade.

Em São Paulo, no Armazém do Campo, os festejos foram intercalados por reflexões à respeito da prisão do petista, que segue encarcerado em Curitiba desde o dia 07 de abril de 2018.

Passaram pelo Armazém do Campo mais mil pessoas, que almoçaram o Escondidinho Pernambucano, feito pela chef Carmen Virgínia, e curtiram as atrações musicais como a banda Conjuntura, o DJ Roger e o bloco especial com canções de Belchior, comandado por Taciana Barros, Natália Barros, Igor Brasil e Zeli Silva.

Barqueata, carreata, caravana

É o segundo aniversário que Lula é forçado a permanecer sozinho, em sua cela na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, mas cercado de atenções do lado de fora, na Vigília Lula Livre, e em mais de uma centena de atividades que ocorrem em cidade brasileiras, na América Latina, na Europa, nos Estados Unidos.

Barqueada em Recife

Tem almoço, bolo, carreata e até uma barqueata no rio Capibaribe, em Recife, onde haverá festa no Armazém do Campo, assim como em São Paulo.

Caravanas partiram de todo o Brasil para a capital paranaense. Uma delas, de ônibus, saiu de Brasília levando mais de 500 pessoas por 1.500 quilômetros para o parabéns a Lula na Vigília. Entre elas a cozinheira Maria de Jesus Oliveira da Costa, a Tia Zélia, uma das personagens brasilienses mais queridas do ex-presidente, para quem cozinha um de seus pratos prediletos: a rabada com polenta.
As comemorações pelo aniversário de Lula confirmam a tese defendida pelo ex-presidente, quando falou a uma multidão em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no dia em que foi preso, em 7 de abril de 2018. “Não adianta tentar parar o meu sonho, porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês, pelo sonho de vocês. Não adianta eles acharem que vão fazer com que eu pare. Eu não pararei porque eu não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia. E uma ideia misturada com a ideia de vocês.”

Pedidos de aniversário

Em entrevista concedida ao Brasil de Fato, na última quarta- feira (23). Lula falou sobre as comemorações Brasil afora pelo seu aniversário, e a rotina dentro da prisão em Curitiba.

“Vou até falar para o diretor aqui, o doutor Luciano, que ele poderia vir aqui na hora do aniversário, eu sair daqui com ele e ir lá, soprar as velinhas. São 74 velinhas, e eu não vou ter fôlego para assoprar tudo. Aí eu vou lá, vejo o aniversário, como um pedaço de bolo e volto para cá, não tem nenhum problema”, brincou Lula.

Entre os pedidos de aniversário do ex-presidente está a resistência contra o governo de Jair Bolsonaro (PSL). Durante a conversa, ele pediu que “as pessoas não deixassem destruir o país”. Em relação ao contexto internacional, Lula também expressou também sua expectativa pela vitória do candidato Alberto Fernández nas eleições presidenciais da Argentina que acontecem hoje.

“Graças a Deus, nós estamos com expectativa de que [Alberto] Fernandez ganhe na Argentina. Será o meu presente de aniversário”, declarou.

Alberto Fernández, apontado como possível vencedor das eleições deste domingo, é uma das personalidades internacionais que parabenizou o ex-presidente brasileiro através de suas redes sociais.

“Também faz aniversário hoje meu amigo Lula, um homem extraordinário que está preso injustamente há um ano e meio. Parabéns pra você, querido Lula. Espero te ver em breve” escreveu em sua conta no Twitter.

Assunto mais comentado nas redes sociais

A hashtag #ParabensLula é o assunto mais comentado nas redes sociais tomadas por vídeos que saúdam a vida do preso político. A magistrada Carol Proner toca um Parabéns a Você no clarinete, ao lado do namorado, o cantor e compositor Chico Buarque. Fernanda Takai e a banda Pato Fu cantam parabéns com bolo e tudo para o ex-presidente.

O compositor Francis Hime adaptou ao piano a letra de Meu Caro Amigo, clássico em que ele Chico mandam notícias ao amigo Ruy Guerra no exílio, nos anos 1970, para dizer a Lula: “Mas o que eu quero é lhe dizer, que a gente está te esperando, para que o Brasil de novo volte a ser feliz”.

A filósofa e ativista norte-americana Angela Davis conta que pelo mundo todo as pessoas estão dizendo “Lula livre”. O linguista Noam Chomsky afirma: “Queremos ver Lula livre em breve”. O ator Osmar Prado deseja a Lula muita saúde, amor, paz, resistência e muita coragem. O cantor Martinho da Vila deseja felicidades e avisa: o próximo ano vai ser muito bom para você. Zeca Pagodinho mudou a foto do seu instagram para desejar feliz aniversário ao amigo Lula.

História

Lula nasceu em Caetés, no agreste pernambucano, cidade localizada a 248 km de Recife, capital do estado, em 27 de outubro de 1945. O petista é um dos nove filhos de Aristides Inácio da Silva e Euridice Inácio da Silva, a dona Lindu.


Em 1952, aos sete anos, Lula migrou para São Paulo com a família em um pau-de-arara, onde moraram em Santos, no litoral paulista. Três anos depois, dona Lindu se separa de Aristides, por conta de violência doméstica, e migra para a capital paulista.

No início da década de 1960, o ex-presidente começa sua trajetória como metalúrgico em uma fábrica de parafusos, onde recebia meio salário mínimo. Cinco anos depois, incentivado pelo irmão, Frei Chico, visita pela primeira vez o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. À época, os sindicalistas buscavam alternativas para enfrentar a ditadura militar.

No ano de 1969, Lula ocupa o primeiro cargo na direção do sindicato e se casa pela primeira vez, com Maria de Lourdes. Dois anos depois, o petista sofre com a morte da esposa, durante o parto do filho do casal, que também falece.

Se casa com Marisa Letícia em 1974 e um ano depois é eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos com impressionantes 92% dos votos. Já em 1978 é reeleito com 98% dos votos.

A trajetória na política institucional tem seu pontapé em 1980, quando participa da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), no colégio Sion. Já no primeiro congresso da nova legenda, Lula é eleito o presidente.

Sem esquecer a atuação sindical, Lula articula a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983, a maior central sindical da América Latina.

Em 1986, Lula é eleito deputado federal em São Paulo. Três anos depois, se lança, pela primeira vez, como candidato à presidência da República, perdeu. A candidatura se repetiu em 1994 e 1998, com votações expressivas, mas com derrotas nas urnas.

Porém, em 2002, aos 57 anos, Lula é eleito presidente do Brasil, após derrotar José Serra (PSDB). Outro tucano, Geraldo Alckmin, perde para o petista em 2006, que é reeleito com 58 milhões de votos.

Desde 2015, Lula enfrenta uma perseguição política promovida pela Operação Lava Jato. O processo é apontado como ilegal por diversos juristas. Em abril de 2018, o petista é preso e se torna símbolo de uma campanha que ganha adesão em todo mundo, pedindo sua liberdade.

Com informações do Brasil de Fato e Rede Brasil Atual

sábado, 26 de outubro de 2019

Nota: O voto do PCdoB sobre o Centro de Lançamento de Alcântara

Foto: Karla Boughoff

A seguir a íntegra da Nota do PCdoB, assinada pela presidência  do partido, sobre o voto da legenda pelo acordo de Salvaguarda Tecnológica entre o Brasil e os EUA.

Nota

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) votou a favor do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) para o uso do Centro de Lançamento de Alcântara. Nossa posição foi manifestada de forma esclarecedora pelo deputado do PCdoB do estado Maranhão, Márcio Jerry, encarregado de encaminhar o voto do nosso Partido.

Da mesma procedeu a nossa deputada Perpétua Almeida, do estado do Acre, que na fase anterior da tramitação da matéria, na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), apresentou o voto favorável em separado do Partido, com ressalvas incluídas em um Projeto de Decreto Legislativo. Dois dos principais destaques do voto foram o desafio de o nosso país dominar o ciclo completo da ciência espacial decorrente de uma política de Estado e, sob hipótese alguma, abdicar de sua autonomia e soberania sobre essa matéria ou qualquer outra.

Há também o pronunciamento enfático do nosso governador maranhense, Flávio Dino, no qual assegura que o AST não viola a soberania nacional. Como explicou o nosso governador, o Acordo em si é o instrumento que apenas viabiliza a exploração comercial do Centro de Lançamento de Alcântara. É falso dizer que teremos um enclave estadunidense no território brasileiro, porque o Acordo tem caráter civil, segue uma prática internacional e não bloqueia o Projeto Espacial Brasileiro (PEB). Acordos deste tipo também foram firmados, por exemplo, entre EUA e Rússia e, ainda, com a China.

Também não há indícios de que as comunidades quilombolas sejam atingidas, como enfatizou Márcio Jerry. No Acordo, diz o nosso deputado, não consta nada sobre o remanejamento de famílias, tampouco ampliação do perímetro do Centro Espacial.

O voto favorável do PCdoB nesta matéria, portanto, é coerente com a trajetória quase secular de nossa legenda. Estamos e sempre estivemos, desde as primeiras décadas do século passado, na linha de frente das grandes lutas em defesa do desenvolvimento soberano de nossa pátria.

O PCdoB tem a compreensão de que o desenvolvimento tecnológico múltiplo e intensivo é um dos alicerces da soberania nacional. E por isso defende que a retomada das atividades de Alcântara cumpre um papel importante. Descortina um impulso novo ao projeto espacial brasileiro.

Contudo, a exploração comercial de Alcântara não será, por si, suficiente. Por isto, seguiremos lutando por uma política de Estado neste setor que contemple projeto e forte investimento público, um norte radicalmente oposto ao do governo Bolsonaro.

Finalmente, como já afirmaram os parlamentares de nossa Bancada, o mesmo parlamento que debateu e aprovou o AST em tela tem a obrigação de fiscalizá-lo. Se a qualquer momento houver distorções que acarretem prejuízos ao país, à sua soberania, ele deve ser denunciado, ou seja, extinto.

Brasília, 24 de outubro de 2019

Luciana Santos
Presidenta do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

Manuela d’Ávila: “ser de esquerda é resistir, apresentar alternativas"

Manuela d'Ávila (PCdoB-RS): "governo Bolsonaro ameaça democracia"
Foto: Igor Sperotto

Em entrevista ao Extra Classe, publicação do Sinpro/RS, a ex-deputada Manuela D’Ávila falou sobre sua possível candidatura à prefeita da cidade de Porto Alegre, onde já lidera as pesquisas de intenção de voto.

“Eu sou muito grata por ser a que lidera (as pesquisas). Isso diz muito, eu sou uma pessoa que é cotidianamente atacada pela família Bolsonaro, que é todos os dias destruída pelas fake news, e isso significa que Porto Alegre me conhece. E isso, não tem nada no mundo que pague, a minha cidade me colocar em primeiro lugar nas pesquisas. Porque significa que no meu lugar me conhecem, aqui as mentiras não pegam. Mas, politicamente, o mais importante é que a nossa unidade [dos partidos da esquerda] pode ganhar as eleições e eu espero que a gente saiba construí-la”, afirmou.

Manuela também abordou sua relação com o jornalista fundador do site The Intercept, Glenn Greenwald; a conjuntura brasileira e mundial e citou países e líderes que a inspiram. A comunista avaliou o governo Bolsonaro, que para ela coloca o país como “nova colônia resignada”, e é ameaça à democracia.

Por fim, tratou do Instituto E Se Fosse Você, do ativismo no combate às fake news, sobre seus livros, feminismo e o papel da mulher na sociedade contemporânea.

“Para mim, lutar como uma garota é dizer ‘Sim, é possível reinventar a política’”, definiu.

Leia a íntegra da entrevista:

Extra Classe – O termo comunista tem sido usado como adjetivo para ofender e atacar lideranças e militantes da esquerda. É também uma tentativa de convencer parte da população de que ser comunista ou ser de esquerda é uma condição que desqualifica o indivíduo para a política ou para a vida pública. Afinal, o que é ser comunista ou ser de esquerda no Brasil contemporâneo?

Manuela d’Ávila – Concretamente, ser de esquerda hoje no Brasil é resistir às destruições apresentadas pelo Bolsonaro e por seu governo e pensar em como construir alternativas de desenvolvimento, de superação da crise e de esperança. Hoje, para mim, a esquerda deve compreender que o seu papel é o da construção de uma frente democrática de resistência diante desse governo fascista. Então, ser de esquerda é resistir, apresentando alternativas de futuro, e o futuro passa pela ideia de esperança. O Duca (Leindecker, músico e marido de Manuela) tem uma música em que ele fala: “o futuro que virou presente acaba de passar.” Ou seja, a ideia de futuro é sempre muito breve. A gente planeja, e quando vê, já virou presente e já virou passado. E se a gente não conseguir apresentar uma perspectiva de futuro como esperança para o povo, a gente não estará à altura dos desafios do nosso tempo. Nosso campo político ainda não se apresentou como uma alternativa de futuro diante dessa crise tão cruel que a humanidade vive e que o Brasil também vive.

Existe hoje alguma liderança política mundial que te inspire?

O presidente Lula é um dos maiores líderes do mundo. Mas existem muitas novas lideranças surgindo. Não só indivíduos. Tem saídas interessantes ocorrendo no mundo. O que Portugal tem conseguido construir é uma referência interessante de maturidade de partidos e de movimentos políticos.

Que outros países se tornaram referências de garantias de liberdades e de direitos de igualdade e poderiam servir de exemplo para o Brasil?

Acho que cada país tem uma caminhada única. Uma das maiores lições da esquerda global, com a queda do muro de Berlim, é a ideia de que não existem modelos a serem seguidos. O que existe são experiências interessantes. Os nossos vizinhos uruguaios, para o seu povo e para o seu país, constroem uma experiência muito significativa. Uma experiência política com a Frente Ampla, quer dizer, um bloco político de partidos que superam diferenças e se revezam em posições na prefeitura de Montevidéu há quase três décadas no governo, devem ir para uma quinta ou sexta eleição. Os argentinos têm um processo de mobilização social que deve resultar na eleição do Alberto (Alberto Fernández, candidato de centro-esquerda à presidência do país) com a Cristina (Kirchner) de vice, que será muito interessante. A Bolívia constrói um processo com o Evo Morales, também próprio, com os cocaleiros, com um povo indígena interessantíssimo. O que Barcelona vive com a experiência Barcelona em Comum, com a Ada Colau, que é uma mulher jovem, que é mãe, como eu, e que construiu uma experiência diferente a partir do poder local. E também o que Bernie Sanders representa hoje nos Estados Unidos. Ele arrecadou 19 milhões de dólares para sua campanha eleitoral, a partir de um milhão de pessoas que doaram, em média, 19 dólares cada uma. Com uma campanha que é mais radical do que qualquer candidato apresentou no Brasil programaticamente. No coração do capitalismo atual, o Sanders representa uma proposta de enfrentamento radical à crise econômica do capital. Então, eu acho que hoje existem muitas experiências interessantes acontecendo “do lado de cá” e existe um gigante “do lado de lá” que é a China, que é uma experiência que os socialistas do mundo devem estudar. Eu sempre divido o “lado de cá” do “lado de lá” porque nós estamos no Ocidente. Se comparar o Brasil com o Uruguai já é difícil, imagina com a China. Mas o mundo deve estar atento para o que acontece com a China, um país que era paupérrimo, onde a população morria de fome e que em 30 anos a renda per capita dos trabalhadores dobrou, comparada com a do trabalhador brasileiro.

Você cita as experiências do Uruguai, da Argentina e da Bolívia. Qual sua análise da situação atual da Venezuela?

A situação é e sempre foi complexa, porque a Venezuela é a maior produtora de petróleo da nossa região, é o país que produz mais petróleo fisicamente mais perto dos Estados Unidos. Também é um país que tem uma fronteira por terra com o Brasil, na região Amazônica. Então, acho que é bom que os brasileiros fiquem atentos, que façam uma leitura sobre a política venezuelana com os óculos certos. E os óculos certos para ler a política venezuelana são: o petróleo localizado naquela região e a fronteira com o Brasil na região amazônica, ou seja, a biodiversidade e a água potável da região amazônica. A instabilidade na Venezuela sempre foi fomentada pelos Estados Unidos. No período com mais estabilidade na política interna promovida pelo Chávez, ela era fomentada, e nesse período de maior instabilidade, governada pelo Maduro, segue sendo fomentada pelos Estados Unidos. Eu acho que o papel que o Brasil assumiu nesse momento é lamentável, associado ao chamado Grupo de Lima. Não à toa, outros países, que têm a posição mais mediada, como o Uruguai e a própria Argentina, já anunciam que sairão do Grupo de Lima. Por quê? Porque os países da região, sabedores da situação sempre tensa naquele país, deviam buscar construir uma solução mediada, uma solução de paz, que busque resolver, assumir um papel de mediadora dos problemas da região tentando garantir a paz. Isso é algo que o Fernando Henrique fez, não é algo que o Lula inventou. O Lula ocupou esse papel num período mais recente, então a gente sempre tem na memória, “ah, isso é algo do Lula”, que construiu aquele grupo, não lembro como chamava, acho que Grupo de Amigos da Venezuela. Mas é algo que foi criado, pioneiramente, pelo Fernando Henrique, e que os outros países da região se somavam, porque saídas militares não servem ao continente. Então, o Brasil assumiu essa posição, com o Bolsonaro, de uma nova colônia resignada, é quase um governo colonial, parece um príncipe-regente aqui.

Qual sua avaliação da política ambiental do governo Bolsonaro e qual o impacto dessa política na relação com outros países?

Ela é um desastre total. A região amazônica sempre foi uma região em que os outros países tiveram muito interesse. Nenhum país é ingênuo para debater a região amazônica. Nem a França, com seus ímpetos coloniais. A gente tem que lembrar que, há menos de 50 anos, a França tinha colônias na África, mantinha uma relação bastante dura, bastante cruel com suas colônias africanas. Então, todos têm interesses e esses interesses são muito claros. O principal deles é a água e a biodiversidade. Por isso, o papel do Brasil deve ser o mais altivo possível, em garantir a soberania sobre a região. O professor Ennio Candotti sempre disse: “por que o estado do Amazonas, há poucos anos, era o que menos tinha floresta destruída com relação ao estado do Pará? Porque era o estado da Zona Franca de Manaus.” Tinha emprego gerado para o povo. Então, as políticas nacionais têm que ser políticas que preservem a floresta em pé, justamente para que o mundo não questione a soberania do Brasil sobre aquela região. O que o Bolsonaro faz é justamente o inverso. Ele destrói um conjunto de órgãos, como o Inpe e a Funai, que são os responsáveis pela manutenção da floresta em pé, pela garantia da vida das populações originárias, ribeirinhas e indígenas e, simultaneamente, se emparceira com os Estados Unidos que têm interesses de estabelecer inclusive manobras militares. Me parece um discurso para legitimar a intervenção dos seus parceiros. Porque de ingênuo ali não tem nada. Aqueles que defendem a floresta e a soberania nacional têm que estar atentos, porque são dois pilares do nosso discurso. Nem só a floresta, nem só a soberania sobre o território amazônico. São os dois. Que eu acho que nós corremos o risco de nos abraçarmos só num dos dois pilares.

Muitos dizem assim: “esse governo não tem um projeto”. Tem, sim. O projeto é a destruição do Brasil. Nós construímos muito, nosso país é um país novo. Muitas pessoas falam assim “a gente não tem nada”, mas a gente tinha muito, a gente tinha uma Petrobrás que descobriu o Pré-Sal em pouquíssimo tempo; a gente tinha uma Eletrobras que produzia 70% de energia limpa, num mundo onde os países não produzem energia limpa. Muito do que nós tínhamos, sendo um país tão jovem como o Brasil.

Quais os impactos das reformas trabalhistas e da Previdência propostas pelos governos de Michel Temer e Bolsonaro para a sociedade brasileira?

Quando a gente caracteriza o governo Bolsonaro como governo neocolonial, para mim, a junção dessas duas reformas, a trabalhista, originária do governo Temer, e a previdenciária, como uma política já deste governo, simboliza bem o tipo de mão de obra de países que são colônias, que é o trabalho escravo, no caso do Brasil. Que país é esse que vai sobrar se a gente não agrega valor ao que a gente produz? A reforma trabalhista gera subemprego, vai gerando cada vez um trabalho de menor remuneração, sem direitos. Com qual perspectiva? A da não aposentadoria. É o empobrecimento e a exploração dos nossos trabalhadores.
Justamente, numa conversa recente com o Fernando Haddad, você falou da falta de perspectivas de desenvolvimento de um país que não investe em educação, ciência e tecnologia. Como isso afeta nossos jovens e o futuro do país?

No caso do Brasil, a ideia de desenvolvimento nacional necessariamente passa pela universidade, diferente de outros países. Às vezes, a direita, os liberais, dizem assim: “ah, nos EUA não tem investimento em universidade pública”. Em parte, é verdade, mas tem investimento em ciência, a partir do Ministério da Defesa, por exemplo, assim como em Israel. No Brasil, a produção de ciência básica se dá na universidade pública e não existe perspectiva de desenvolvimento sem investimento em ciência e tecnologia. Se a gente não tem produção de ciência e tecnologia, qual a perspectiva de nos desenvolvermos plenamente enquanto Nação? Junto a isso, tu vês a destruição das nossas estatais, como é o caso da Petrobras, da Eletrobras, da Embraer, empresas que têm essa ideia também, de ciência, de soberania nacional, a ideia de um país, uma Nação. Quando se soma isso, o que sobra de trabalho? O trabalho de baixa remuneração. A imagem do que está acontecendo é a imagem de uma grande nova colônia, com o trabalho altamente precarizado, no presente e no futuro.

O Requião propôs um referendo revogatório dessas medidas e eu acho que esse é um caminho. Nós pensarmos em medidas revogatórias, porque são medidas antipátria mesmo, antipovo. Como imaginar qualquer caminho para o desenvolvimento nacional se nós não tivermos empregos formais? Existe algum caminho que não gere uma previdência deficitária se nós não tivermos trabalho formal? Eles criaram algo sórdido. Os referendos são caminhos democráticos, de ouvir a população, para que nós voltemos a ter direitos, direitos que conseguimos em outros momentos com muita luta popular. Nós ouvimos muito pouco o povo brasileiro. E acho que também os referendos têm esse sentido de ampliar os espaços da democracia.

Que avaliação você faz da atual administração municipal de Porto Alegre?

Acho que o governo Marchezan tem a cara dos governos atuais de direita no Brasil. São governos que destroem os mecanismos básicos de atendimento à população, porque não colocam as pessoas no centro da política. Na verdade, quando nós olhamos os governos de direita, o que a gente vê? A gente vê que o ser humano não é o centro. O centro não é se a pessoa, de manhã cedo, consegue deixar o seu filho na escola ou não, mas são outras coisas. Por isso, a destruição tão permanente do serviço público, por isso esse conjunto de postos de saúde que fecham e abrem, por isso que nós tivemos, no início desse governo, os ônibus interrompidos nos dias de vacinação. Quando se olha o surto de sarampo, ninguém lembra que os ônibus foram interrompidos, e que para as pessoas que não têm dinheiro, o ônibus é essencial para poder se deslocar e poder se vacinar. Como ninguém lembra que a principal causa de os alunos saírem do Julinho (Colégio Júlio de Castilhos) é o preço da passagem de ônibus? Porque as pessoas não fazem parte das políticas públicas nos governos de direita. Então esse governo é um desastre. Por isso a reprovação dele é tão alta. A tristeza tomou conta das pessoas e das ruas de Porto Alegre. É a tristeza da grama alta, mas a grama alta vai ser cortada até a eleição, porque é o mais fácil de tudo. Nós vivemos há quatro anos com a grama alta, exceto em alguns bairros da cidade em que a grama é sempre cortada, porque a iniciativa privada gosta de parcerias nos bairros ricos. É a tristeza das obras inacabadas desde a Copa. A Copa do Brasil acabou e já tivemos uma Copa e meia depois. Esses dias teve uma criança resgatada de dentro de uma obra abandonada, de um buraco das obras da vila Tronco. Essas pessoas não existem para esses governos.

Pesquisa do Instituto Methodus divulgada no dia 8 de outubro a coloca na liderança para a prefeitura de Porto Alegre nas eleições do próximo ano. Podemos dizer que é pré-candidata?

Para mim, a pesquisa dá dois recados. O primeiro é que, sim, eu estou na liderança, mas que nós temos muito mais força porque estamos todos juntos. Então, para mim, o que a pesquisa captura é que nós temos que ter a maturidade de construir a nossa unidade. Eu não sei como nós construiremos a nossa unidade.

Essa unidade já vem sendo discutida nos últimos tempos?

Sim, ela vem sendo discutida. E nós temos algumas formas. Alguns acham que ela deve ser construída por prévias, outros acham que temos capacidade de construí-la dialogando entre as direções partidárias. Para mim, qualquer forma que nós chegarmos a ela, é uma forma. Mas o que eu acho importante é que nós cheguemos a ela. Porque nós temos consenso no que há de mais importante: que esse governo é um desastre, que desrespeita os porto-alegrenses, que não coloca as pessoas no centro das ações da prefeitura e que nós precisamos vencer. Se nós temos consenso nisso, nós temos que ter condições de estarmos unidos. Então para mim, isso é o mais importante da pesquisa: juntos, nós somos muito fortes, temos muito mais força. E eu posso ser candidata, se eu for o nome que tiver mais condições de construir essa unidade.

Você está disponível para estar à frente de uma chapa?

Para a construção dessa unidade, sim. Se outro nome construir a unidade desses três partidos, eu não serei empecilho para isso. Podem ser três, podem ser quatro, podem ser cinco. Então, se PT, PDT, PSB, PCB, PSol e PCdoB chegarem a um acordo em torno de qualquer nome, eu serei a primeira a apoiar esse nome. Eu acho que o mais importante é nós olharmos isso daquela pesquisa. Eu sou uma pessoa que tem 17 pontos, mas eu chego a 25, quando os três estamos juntos. Eu fui a única testada com os três juntos. Então, o que revela, é a nossa força, a força dos três juntos. E depois, dos quatro juntos, eu chego a 27 com os quatro juntos e acho que nós temos essa obrigação com Porto Alegre. Eu sou muito grata por ser a que lidera. Isso diz muito, eu sou uma pessoa que é cotidianamente atacada pela família Bolsonaro, que é todos os dias destruída pelas fake news, e isso significa que Porto Alegre me conhece. E isso, não tem nada no mundo que pague, a minha cidade me colocar em primeiro lugar nas pesquisas. Porque significa que no meu lugar me conhecem, aqui as mentiras não pegam. Mas, politicamente, o mais importante é que a nossa unidade pode ganhar as eleições e eu espero que a gente saiba construí-la.

Recentemente, você declarou em uma rede social “quem luta contra essa gente tem que ter medo, e eu tenho” referindo-se aos ataques recebidos de um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro e de Olavo de Carvalho em razão das repercussões das revelações feitas pelo site The Intercept. O que especificamente você teme?

Como todas as pessoas lúcidas, eu temo a morte. Como eu não sou alguém desajuizada e eu vivo no país em que a Marielle Franco foi executada (a vereadora do PSol do Rio de Janeiro e seu motorista, Anderson Gomes, foram executados por milicianos em 14 de março de 2018 no Estácio) e em que a polícia não esclarece a execução, eu temo a morte. Mas eu também sei que não tenho como não lutar contra esse governo. Então, para mim é muito claro, quando o Eduardo Bolsonaro e o Olavo de Carvalho estimulam a milícia virtual deles com agressões, eles sabem que flertam com lobos solitários. Eu sei quem são as pessoas que eu encontro nos eventos que organizo. Então eu sei quem são essas pessoas, como alguns de vocês também sabem. Mas eu não tenho outra opção. Eu decidi continuar vivendo no Brasil e continuar lutando contra eles.

Passou pela tua cabeça, em algum momento, sair do Brasil?

Continuar fazendo política hoje no Brasil é uma escolha cotidiana. O Lênin dizia que ser revolucionário é uma opção cotidiana. Então, para mim, todos os dias têm sido uma escolha continuar fazendo política aqui. Porque o nível de ameaça com que nós lidamos é muito intenso. E eu sou alguém muito responsável com a minha vida. Eu sou alguém que tem 38 anos e que chegou até aqui caminhando com os próprios pés. Eu não tenho um pai presidente da República, eu sou de um partido pequeno, eu construí tudo com a minha militância e dos meus camaradas. Então, se tem algo que eu sou, é muito responsável comigo, com a minha militância e com a vida dos meus familiares. Não sou dada a essas falas que eu julgo muito vinculadas a esse padrão heteronormativo messiânico dos grandes líderes da política, que faz parte de algo também a ser combatido pelos políticos de uma nova política. Eu não nasci com vocação para vender um discurso de heroína.

Eu sou humana e assumir que eu faço política com medo no Brasil de hoje não é nenhuma grande revelação. Toda nossa militância tem medo. A gente sobrevive desde pequena com medo. Eu ensino minha filha a atravessar na faixa com medo: “olha para os dois lados!” Não é assim? Isso a impede de atravessar a rua? Ao contrário. Isso a ensina a atravessar a rua. E é assim que eu faço política.

Sobre as agressões e ameaças que você recebe nas redes sociais, que medidas judiciais foram tomadas? Houve alguma punição aos agressores?

Eu achei incrível que o prefeito Marchezan, a primeira vez que o prefeito sofreu uma ameaça com a família dele, a Polícia Civil descobriu rapidamente a pessoa que estava lá em Goiânia. A pessoa rapidamente foi presa lá em Goiânia. E eu fiquei muito feliz, porque isso aconteceu várias vezes comigo e as pessoas nunca foram descobertas. Comigo, nunca conseguiram descobrir ninguém. Eles não descobrem nada. Denunciei várias vezes. Uma vez ameaçaram que iam me matar a machadadas, ameaças de estupro, ameaças horríveis. Nunca pegaram ninguém.

Em manifestações recentes, você tem falado na necessidade da construção de uma Frente de Defesa da Democracia e Antifascista. Eu gostaria que falasse um pouco a respeito disso.

Eu sou muito responsável com o uso das palavras. Então, o que caracteriza os membros que estão no governo, e que apoiam o governo, como fascistas são algumas características da prática deles, a principal delas é a desumanização dos adversários. Por exemplo, quando minha filha é agredida, com 40 dias de idade, e eu sou agredida repetidas vezes, não acho que eu sou agredida enquanto pessoa, que a minha filha é agredida enquanto uma criança, ela é agredida como “a filha da comunista e eu como comunista”. Portanto, ela é um alvo a ser exterminado. Como eram as crianças que eram torturadas na ditadura, se tornam um alvo a ser exterminado. Isso é o que a Hannah Arendt trata como a desumanização do adversário, a criação de um inimigo comum. E isso os meus adversários fazem, não todos, mas alguns. Existem muitos flertes dessa turma com o fascismo. É importante que nós saibamos que não estamos apenas diante de um governo de direita. Nós estamos diante de um governo que permanentemente ameaça a democracia. E por isso nós temos que ter responsabilidade e nos aliarmos com todos aqueles que defendem a democracia e são antifascistas. Não dá para ter do nosso lado na defesa da democracia só quem sempre soube que era golpe, quem sempre defendeu o Lula Livre.

As pessoas vão tomando consciência ao longo do processo. Se a pessoa não sabia que era golpe, mas agora se deu conta que tem a democracia ameaçada, meu amigo, seja bem-vindo porque eu estou num país em que eu faço política com medo de ser executada. É importante que nós nos juntemos, todos os que lutam contra as ameaças à democracia.

Passados quatro meses dos primeiros conteúdos revelados pelo site The Intercept Brasil, eu gostaria que você fizesse uma análise desses vazamentos e das medidas que foram ou deixaram de ser tomadas pela Justiça brasileira a partir dessas revelações.

Na verdade, eu acho que o que o Intercept vazou, ao longo desse período, uma parte de nós já imaginava que acontecia e já denunciávamos: a operação Lava Jato foi uma operação política, o que nós chamamos de lawfare, a construção do estado judicial, que constrói juridicamente um conjunto de ações políticas. O que nós denunciávamos a partir de outros elementos que tínhamos, nas próprias sentenças. Nós conseguimos captar isso na realidade. São medidas comprobatórias disso. E eu espero que agora nós tenhamos, no sistema jurídico, punições aos envolvidos.

Sérgio Moro e Deltan Dallagnol serão punidos?

Eu acho difícil, mas eu tenho visto que o Supremo Tribunal Federal tem reagido com algum grau de intensidade, no entanto, o Conselho Nacional do Ministério Público não tem uma tradição de punir os seus membros. Não é a tradição. Mas as tradições também estão aí para serem quebradas. Quem sabe? Sou uma esperançosa.

Você tem mantido contato com o Glenn Greenwald? Tem conversado com ele a respeito das matérias que estão publicando e sobre o que ainda será revelado?

Não, eu nunca conversei com o Glenn sobre as matérias. Quando eu sugeri que fosse ele o jornalista, eu sabia que isso ia ser um trabalho dele.

Ser uma das grandes vítimas das fake news acabou te levando a criar o instituto E se fosse você? Que trabalho o Instituto vem desenvolvendo e quais os resultados alcançados até o momento?

Nós criamos o Instituto em fevereiro desse ano e estamos permanentemente ajustando as nossas vocações. Hoje, nosso foco central é produção de conteúdo virtual para buscar sensibilizar as pessoas sobre a potência das fake news. Como eu não acredito que toda a população brasileira é fascista, eu acho que a maior parte delas entra no método de construção do fascismo que é a distribuição de notícias falsas. Tentamos quebrar isso, humanizando os personagens ou colocando conteúdo por trás da desinformação. Distribuímos vídeos com histórias de personagens públicas: Quem é o Jean, quem é a Marielle, quem é a Maria do Rosário, quem é a Lola… Agora, nós estamos com uma nova campanha. Uma vez por semana nós pegamos uma fake news que viralizou e explicamos a verdade sobre isso. Estamos trabalhando com vacinação, Terra Plana, Paulo Freire, urna eletrônica e outros assuntos que foram utilizados para construir esse caldo cultural em torno da extrema direita brasileira. Ao mesmo tempo, realizamos palestras em escolas, ensinamos as pessoas a checarem o que é verdadeiro e o que é falso.


No seu primeiro livro, Revolução Laura, entre outras questões, você aborda o feminismo e a liberdade. O que é ser uma feminista?

Eu gosto muito daquela frase que diz que o feminismo é aquela ideia muito radical de que nós somos pessoas com dignidade. Porque talvez uma grande parte da humanidade não tenha noção de como as mulheres não vivem com dignidade no mundo. De como é diferente a vida das mulheres e dos homens e como aquilo que nós chamamos de cultura reveste uma vida marcada por muita diferença e uma diferença para muito pior. Como as mulheres trabalham mais que os homens, como as mulheres sofrem mais violência que os homens, outros tipos de violência diferente que os homens, como as mulheres sentem mais medo que os homens de andar na rua. Como é diferente ser mulher, para pior, do que ser homem numa sociedade como a nossa. Tem uma frase da Márcia Tiburi, que para mim é a mais bonita de todas, estou até me convencendo a tatuar, que é “o feminismo é o contrário da solidão”. Porque quando nós nos encontramos como mulheres feministas, nós entendemos que muitas das coisas que nós achamos que são problemas nossos, que nós passamos a vida inteira sozinhas sentindo, são coisas que todas as mulheres sentem. É muito potente essa ideia de que o feminismo é o contrário da solidão por isso, porque as mulheres, como nós não tínhamos e não tivemos espaço durante décadas para falar sobre quase todas as coisas que nós vivemos, nós fizemos nossos caminhos solitariamente pensando: só eu que acho que acho que sou mais burra que os outros, só eu que escuto que foi a que deu para o chefe, só eu que tenho medo de andar na rua de noite, só eu que não consigo trabalho por ser mulher, só eu que não tenho com quem deixar meu filho, só eu que não tenho o nome do homem na certidão de nascimento do meu filho. E tudo isso, que é solitário para metade da população brasileira, tem um fio que conduz, que é o machismo, e que quando nós nos encontramos no feminismo, também encontramos respostas para problemas que não são individuais, que são vividos individualmente, mas que são coletivos.

Estás lançando, na próxima semana, Por que lutamos? Um livro sobre Amor e Liberdade.

É um livro sobre o feminismo para quem não sabe o que é feminismo. Para quem acha que feminismo é o oposto do machismo, para quem não sabe por que menino tem que brincar de boneca, para quem acha que ideologia de gênero existe. Ele é um livro escrito para pessoas de todas as idades, mas pensando que existem pessoas que não têm a mesma consciência que nós e que também têm o direito de saber. Uma das coisas que mais me preocupa é que nós não queiramos falar com quem não sabe. E que nós desistamos de falar com quem pensa diferente da gente. Então, ele é um livro sobre feminismo, claro, para quem é feminista, mas, sobretudo, para quem não é. Para quem não sabe o que é. Ele é um livro que tem conceitos básicos, conceitos que a gente incorpora no discurso e acha que as pessoas nasceram sabendo. Elas não nasceram sabendo, nós não nascemos sabendo.

De que forma a maternidade transformou ou influenciou a tua atuação política?

Eu sou outra pessoa depois da Laura. Não por uma visão idealista da maternidade. Acho que eu nunca tive essa visão porque a minha mãe tem cinco filhos e ela nunca me deixou ter essa visão de que era uma maravilha ter filhos. Como eu fui uma mulher que teve muito êxito profissional antes de ter a Laura e sempre ocupei muitos espaços e sofri muito machismo, eu imaginava que eu já tinha me deparado com as situações que o machismo me imporia. Eu já tinha sido a “bonitinha” do Congresso e já tinha sido líder da minha bancada num lugar onde nenhuma mulher era líder. Então, eu achava que sabia o que é o machismo, eu já estive no ápice do que a minha profissão pode me dar de espaço e já enfrentei isso. E aí eu me dei conta que, que na verdade, talvez o que eu possa viver, enquanto mulher branca, talvez o que estruture mesmo o machismo seja a maternidade, porque até a maternidade, no fundo, no fundo, estava tudo ok. Mas a minha existência com a Laura, ela é perturbadora para os homens.

A frase Lute como uma garota, estampada em uma camiseta, se popularizou como uma de suas frases mais usadas no Brasil, principalmente entre as mulheres jovens, a partir da campanha presidencial. Afinal, qual é a luta ou quais as lutas da Manuela d’Ávila?

Para mim, lutar como uma garota é dizer “Sim, é possível reinventar a política. É possível, depois de ter concorrido à vice-presidente, pegar o carro e pagar a gasolina desse carro vendendo camiseta, como eu faço.” É não querer ocupar um grande cargo, e não achar que isso é menos, mas achar que isso é extraordinário, porque isso me permite falar, em Arroio Grande, com pessoas que nunca ouviriam um candidato a vice-presidente da República que foi para o segundo turno. E é isso que tem sentido. Para mim, lutar como uma garota é achar que o mais legal é estar nessa sala agora, sustentando a atividade do Instituto com a doação do dinheiro do meu próprio livro. Lutando para conseguir grana com outros parceiros e com outros projetos, sendo que eu sei que eu poderia ter caminhos mais fáceis. Não tem preço chegar em Jaguarão na quinta de noite e poder falar com 400 mulheres. É isso que me fez entrar na política.

Fonte: Cristiano Goldschmidt, do ExtraClasse,  publicação do Sinpro/RS

Juristas preparam ato em defesa da democracia e da Constituição

A reunião contou ainda com o presidente da Fundação Mauricio Grabois, Renato Rabelo.
A reunião contou ainda com o presidente da Fundação Mauricio Grabois, Renato Rabelo.
Juristas e entidades jurídicas se reuniram nesta sexta-feira (22), na residência do jurista Pedro Serrano, para definir a data do próximo Ato em defesa da democracia e da Constituição e o lançamento do livro “Por que a Democracia e a Constituição estão sendo atacadas?“. O ato deverá ser realizado no próximo dia 12 de dezembro, às 19h, no TUCA Arena da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

A reunião contou ainda com o presidente da Fundação Mauricio Grabois, Renato Rabelo. A reunião contou ainda com o presidente da Fundação Mauricio Grabois, Renato Rabelo.

O livro sobre a democracia e a Constituição contará com o prefácio do professor Celso Antônio Bandeira de Mello e artigos dos constitucionalistas Lênio Streck, Marcelo Cattoni, Martônio Mont’Alverne e Pietro Alarcón e do deputado constituinte de 1988, Aldo Arantes.

Além da participação das organizações estudantis, entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (SP), a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC), que organizam o evento.

O encontro deverá contar com a presença de importantes personalidades do meio jurídico tais como Dalmo Dallari, Fabio Comparato, Celso Antônio Bandeira de Mello, Felipe Santa Cruz, Claudio Lembo, Roberto Amaral, Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakai), Carol Proner, José Eduardo Cardoso, José Gregori, e Tecio Lins e Silva.

Para as entidades, o evento deverá ser um momento de profunda denúncia do meio jurídico, aos retrocessos que o Brasil vem passando, com a democracia sendo ameaçada pela possibilidade de implantação de um regime policial de caráter neo-fascista.

No próximo dia 12 de novembro uma nova reunião ocorre para dar continuidade a articulação do ato com a convocatória aberta para demais entidades comprometidas com a defesa da democracia e da constituição cidadã.

Com informações da ADJC nacional