*Secretário-adjunto de Movimentos Sociais do Comitê Central (PCdoB)
terça-feira, 30 de julho de 2019
Manuela se coloca à disposição da Justiça no caso Vaza Jato
Foto: Reprodução
A ex-deputada gaúcha Manuela d’Ávila (PCdoB) emitiu nota na sexta-feira (26) em que confirma o depoimento prestado à Polícia Federal por Walter Delgatti Neto em que diz ter obtido o contato do jornalista investigativo Glenn Greenwald por meio da Manuela.
Em nota à imprensa, a ex-deputada, além de esclarecer o caso, se coloco à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos, diz ainda que orientou seus advogados a entregarem à polícia cópias das mensagens que recebeu e colocou seu aparelho celular à disposição da perícia.
Leia abaixo:
Nota à imprensa
Tomando ciência, pela imprensa, de alusões feitas ao meu nome na investigação de fatos divulgados pelo “The Intercept Brasil”, e por me encontrar no exterior em atividades programadas desde o início do corrente ano, esclareço que:
1. No dia 12 de maio, fui comunicada pelo aplicativo Telegram de que, naquele mesmo dia, meu dispositivo havia sido invadido no Estado da Virginia, Estados Unidos. Minutos depois, pelo mesmo aplicativo, recebi mensagem de pessoa que, inicialmente, se identificou como alguém inserido na minha lista de contatos para, a seguir, afirmar que não era quem eu supunha que fosse, mas que era alguém que tinha obtido provas de graves atos ilícitos praticados por autoridades brasileiras. Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, afirmou que queria divulgar o material por ele coletado para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza.
2. Pela invasão do meu celular e pelas mensagens enviadas, imaginei que se tratasse de alguma armadilha montada por meus adversários políticos. Por isso, apesar de ser jornalista e por estar apta a produzir matérias com sigilo de fonte, repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald.
3. Desconheço, portanto, a identidade de quem invadiu meu celular, e desde já, me coloco a inteira disposição para auxiliar no esclarecimento dos fatos em apuração. Estou, por isso, orientando os meus advogados a procederem a imediata entrega das cópias das mensagens que recebi pelo aplicativo Telegram à Polícia Federal, bem como a formalmente informarem, a quem de direito, que estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o ocorrido e para apresentar meu aparelho celular à exame pericial.
Manuela d’Ávila
26 de julho de 2019
Do Portal PCdoB
O conluio da ultra direita americana com o nepotismo de Bolsonaro
Além de ato de nepotismo vergonhoso e afrontoso, a indicação de Eduardo Bolsonaro é uma manobra urdida pela ultradireita americana
O nepotismo exacerbado do Bolsonaro indicando seu filho Eduardo, o 03, para embaixador em Washington, é um problema grave, acentuado pelo enorme despreparo do 03 para o cargo. Mas a rumorosa indicação é um projeto da ultra direita americana para garantir a submissão da América do Sul aos desígnios do seu país, reduzindo esse subcontinente ao que foi em tempos passados, um quintal dos Estados Unidos.
Por Haroldo Lima*
Na História do Brasil, sempre foi marcante e insolente a ingerência dos Estados Unidos. Quando governos nacionais tiveram postura de independência, como os de Getúlio, Jango, Lula e Dilma, o Império encontrava jeitos de torpedear seus planos, sabotá-los e até derrubá-los. O golpe de 1964 foi o exemplo maior. Um porta-aviões de propulsão nuclear, o Forrestal, foi deslocado para a costa brasileira com tropas americanas prontas para desembarcar, caso houvesse resistência ao golpe.
Se, entretanto, um governo acata os ditames imperiais, se o presidente bate continência até para funcionário subalterno dos americanos, se seu ministro das Relações Exteriores em seis meses transforma o Itamaraty em acessório secundário da política dos Estados Unidos, então o Império manda, desmanda, faz festa, humilha. É o que está acontecendo agora no governo servil e aloprado do capitão reformado.
O último gesto acanalhado da súcia que comanda hoje a política externa brasileira foi o de não abastecer navios iranianos fundeados em portos brasileiros, que carregavam milho brasileiro a ser exportado. Só para bajular os americanos. Uma vergonha.
É nesse contexto que se sobreleva a propalada indicação de Eduardo Bolsonaro para embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Ela é um ato de nepotismo vergonhoso e afrontoso do governo de Bolsonaro, mas não só isso, é também uma manobra urdida pela ultradireita americana, que poderá ter graves consequências para nosso país e a América do Sul. As digitais de Steve Bannon estão na origem da artimanha.
Steve Bannon é um destacado prócer da extrema direita americana. Ex-banqueiro, dirigiu um site de notícias chamado Breitbart News, descrito por ele como “a plataforma da alt-right”, direita alternativa. A revista Time disse que o Breitbart News “instilava material racista, sexista, xenofóbico e antissemita na veia da direita alternativa” (Time 18/11/2016).
Bannon afastou-se do Breitbart para assumir, em 2016, a diretoria-executiva da campanha presidencial de Trump. Em janeiro de 2017, fundou com o belga Mischaël Modrikamen uma organização a que chamam de The Moviment, destinada a respaldar e promover grupos direitistas. Eleito Trump, Steve Bannon ocupou cargo de primeiro escalão na Casa Branca, como estrategista de Trump, até abril de 2017, quando foi defenestrado por desentendimentos pessoais com o presidente, ao que consta.
A partir de meados de 2018, o ex-estrategista de Trump circula pela Europa articulando partidos nacionalistas e populistas de direita para o The Movement e incorpora no grupo um destacado direitista italiano, Matteo Salvini, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, a italiana Giorgia Meloni, líder do grupo fascista Irmãos da Itália, o holandês Geert Wilders, a conhecida direitista francesa Marine Le Pen e outros. A organização planeja ter um escritório em Bruxelas, sede da União Europeia, e Bannon declarou à Bloomberg que a proposta do The Moviment está crescendo e atingirá “outros continentes”.
A campanha presidencial no Brasil estava em curso, quando, em 4 de agosto de 2018, Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL de São Paulo, encontrou-se em Nova York com Steve Bannon. O Twitter do Eduardo exibiu no mesmo dia sua foto com o Steve, dizendo que tiveram “uma grande conversa”, verificaram ter a “mesma visão do mundo” e uniram-se no desejo de “somar forças, especialmente contra o marxismo cultural”. Eduardo emprega aqui a expressão “marxismo cultural”, cunhada pela extrema-direita americana a partir de ideias originalmente expostas por Adolf Hitler, no seu Mein Kampf.
Eduardo informou ainda, na mesma ocasião, que Bannon deliberou ajudar a campanha de seu pai, em “atividades de inteligência, ações na internet e análise de dados”. (Wikipédia) A campanha de Bolsonaro notabilizou-se pelo uso abusivo de “fake news”.
Talvez seja a partir desse momento que Rubens Ricúpero, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e ex-ministro da Fazenda, registra que Eduardo Bolsonaro passou a dirigir “na América do Sul o movimento de extrema-direita de Steve Bannon”. Dito movimento, observa Ricúpero, é “uma seita de extremistas que os americanos chamam de lunatic fringe” (franja lunática, ou borda lunática, em tradução livre) (UOL, 18/07/2019).
A propalada indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington é tida, ademais, como patrocinada também pelo empresário Clifford Sobel, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, no Brasil de 2006 a 2009, durante o governo de George W. Bush. Sobel é próximo ao presidente Donald Trump e ao assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton (Estadão, 12/07/2019).
Foi com entusiasmo que Steve Bannon saudou a eventual indicação de Eduardo para o posto mais importante da diplomacia brasileira no exterior, vendo nisso oportunidade de crescimento do The Moviment, apesar de Eduardo ter de “provavelmente” deixar a chefia do grupo na América do Sul, porque “o cargo de embaixador vai lhe tomar 100% do tempo” (CP, Porto Alegre).
Assim, tem inteira procedência a indagação do velho diplomata de carreira Ricúpero: “Como poderia ele (Eduardo) representar todos os brasileiros se é o representante de uma seita?”.
Contudo, a ideia de representar todos os brasileiros não é a preocupação do presidente. Ele pensa que o embaixador representa a sua pessoa, não a Nação. “Pretendo beneficiar um filho meu, sim. Pretendo, está certo. Se puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou” (FSP 18/07/2019).
A indicação do embaixador para Washington tem ainda um caminho a percorrer. Passará por uma sabatina e duas votações secretas no Senado. Pressões e campanhas devem ser feitas intensamente para impedir que a direita americana, mancomunada com o desejo nepotista do presidente dar um filé mignon ao seu filho 03, ponha como embaixador do Brasil nos Estados Unidos o chefe para a América do Sul de uma sua seita reacionária. Será uma grande vitória para o Brasil.
* Haroldo Lima, engenheiro, foi deputado federal (PCdoB-BA) e diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). É membro da Comissão Política Nacional do PCdoB.
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