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domingo, 24 de março de 2019

Nota PCdoB sobre prisões de Michel Temer e Moreira Franco


Foto: Mateus Bonomi/AGIF/AFP
A Comissão Executiva Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) repercute as prisões do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro de Minas e Energia Moreira Franco ocorridas na manhã de quinta-feira (21). Em nota, a direção destaca o estranho fato de que as prisões tenham ocorrido justamente quando o “governo Bolsonaro perde apoio e começa a ser desmascarado”.
A nota destaca ainda que a detenção deve obedecer rigorosamente ao devido processo legal e o amplo direito de defesa. Na tutela do patrimônio público brasileiro, a executiva do Partido pede que as investigações prossigam até o fim.
Abaixo a íntegra da Nota:
Sobre as prisões de Michel Temer e Moreira Franco
Michel Temer, um dos líderes da escalada golpista que resultou no impeachment fraudulento de agosto de 2016, foi preso no dia de hoje pela Operação Lava Jato. Também foi recluso o ex-ministro Moreira Franco. Chama a atenção que o fato tenha ocorrido justamente quando o governo do presidente Jair Bolsonaro perde apoio e começa a ser desmascarado com sua ânsia de acabar com a aposentadoria da classe trabalhadora.
As prisões ocorrem, ainda, quando cresce no país – inclusive no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal (STF) – o combate ao Estado de exceção que hoje sufoca o Estado Democrático de Direito.
O PCdoB considera que as garantias e os direitos assegurados pela Constituição devem valer para todos. As prisões devem rigorosamente respeitar o devido processo legal e o amplo direito de defesa. Ao que parece, no caso em tela, trata-se de mais um episódio da banalização das prisões preventivas e cautelares que há muito se impôs no país. Mas somente a abertura do processo dirá se essa arbitrariedade se repetiu ou não.
O PCdoB, coerente com a defesa que faz do patrimônio público, também defende que devem prosseguir até o fim as investigações sobre os crimes de corrupção que pesam contra Michel Temer. Ao final, com base na lei, se comprovada a culpa, deve ser punido conforme o estatuto jurídico do país.
Brasília, 21 de março de 2019.
Comissão Executiva Nacional do Partido Comunista do Brasil-PCdoB
Do Portal PCdoB

PCdoB, PT, PSB, PDT e PSol lançam frente partidária pró-previdência


O vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino, fala sobre a unidade dos partidos em defesa da Previdência.
Representantes do PCdoB, PSol, PSB, PT, PDT se reuniram nesta quinta-feira (21), na Câmara dos Deputados, em Brasília, para articular ações contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6/2019, que altera as regras previdenciárias, apresentada pelo governo. Um novo encontro acontecerá na próxima terça-feira (26), às 11 horas, na Câmara, para apresentar as estratégias de luta.
O vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino, afirmou que o encontro se trata de uma articulação suprapartidária, envolvendo entidades sindicais e movimentos sociais e o “ataque feroz à Constituição”.
“É essencial para derrotar a reforma da Previdência de Bolsonaro. Se Bolsonaro quer destruir o Brasil nós estamos juntos para defende-lo. Temos a certeza de que esta é uma luta em defesa do Brasil. Haverá muito debate, mas estamos confiantes e comprometidos com esse processo”, destacou.
A líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) disse que “a primeira grande expressão dessa reunião é a unidade política da Oposição, da esquerda, e para além da esquerda. Estamos buscando outros partidos e parlamentares independentemente de suas legendas, além de uma grande articulação com a sociedade para construir um grande movimento cívico nacional, porque estamos discutindo a concepção de Estado”, disse.
Segundo ela, a grande questão está entre um Estado que irá negar proteção aos idosos, mulheres e à grande massa trabalhadora, negando direitos e favorecendo apenas o mercado, ou manter um Estado que “garanta na sua Constituição a proteção dos direitos dos trabalhadores que labutam uma vida inteira e precisam ter direitos ao final da sua vida laboral”,O líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE), disse que a frente de esquerda quer, juntamente com outras forças políticas, fazer o contraponto para evitar mais um retrocesso na questão dos direitos previdenciários.
“A reforma como todo vem penalizar a população mais pobre, justamente por isso nós vamos buscar unir toda a oposição e mais deputados de outros partidos que estão insatisfeitos com essa situação”, disse a deputada Lídice da Mata (PSB-BA).
O vice-presidente nacional do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), disse que na terça-feira (26) seis partidos, incluindo a Rede, vão anunciar a unidade contra a destruição da rede proteção social no país.
“Vamos derrotar essa proposta do mesmo jeito que no governo de Michel Temer eles esperavam aprovar com muita rapidez e não conseguiram isso, porque teve mobilização popular”, acrescentou o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ).
Fonte: PCdoB na Câmara


Manifesto dos 97 anos: PCdoB forte e à frente da oposição a Bolsonaro

Para comemorar os 97 anos da fundação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), serão realizados atos em vários estados do país. O ato nacional ocorrerá, este ano, em Olinda-Pernambuco. O evento ocorrerá na próxima segunda-feira (25), às 18 horas, no Centro de Convenções de Pernambuco. Em alusão a importante data para os comunistas, a presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos lança o seguinte Manifesto:
PCdoB faz 97 anos fortalecido e na linha de frente da oposição a Bolsonaro
O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) chega, neste 25 de março, a 97 anos de atuação ininterrupta na história de nosso país, presente nas principais batalhas e jornadas da nação e da classe trabalhadora, cumprindo uma agenda que ajudou a construir o Brasil e a formar uma consciência patriótica, nacional e popular. O PCdoB comemora quase um século de existência revigorado com a recente união com o Partido Pátria Livre (PPL) que, numa decisão elevada e histórica, se incorporou à legenda comunista. Tal processo foi liderado por Luciana Santos, presidenta do PCdoB, e por Sérgio Rubens Torres, ex-presidente do PPL e hoje um dos vice-presidentes da legenda revolucionária fundada em 1922.
O Partido Comunista do Brasil, num percurso que abarca quase toda a história republicana do nosso país, se destaca na defesa da democracia como alicerce do desenvolvimento soberano. Essa tem sido a tradição dos comunistas, que se levantaram com vigor sempre que o autoritarismo atentou contra as liberdades e o Estado Democrático de Direito, tal como se deu nas jornadas contra o Estado Novo e a ditadura militar.
Nessa história quase centenária, o PCdoB, por sua conduta combativa, sofreu longos períodos de clandestinidade, e um grande elenco de militantes comunistas integra a galeria dos heróis e mártires de nossa pátria.
A legenda comunista, mesmo nas mais duras condições, empunhou firmemente a bandeira do socialismo sempre entrelaçada com os estandartes da democracia, da soberania nacional e dos direitos da classe trabalhadora.
Nesta data, homenageamos várias gerações que construíram o PCdoB, enaltecendo o legado de Astrojildo Pereira, talentoso líder dos fundadores, Luiz Carlos Prestes, épico personagem de nossa história, e João Amazonas, ideólogo e construtor de nossa legenda que a trouxe forte e revolucionária até o início deste século.
O Partido, ao lado de um conjunto de forças patrióticas e populares, esteve na vanguarda da campanha O Petróleo é nosso!, nas décadas de 1940 e 1950, e na atualidade foi decisivo para a aprovação da Lei do Regime de Partilha, dispositivo legal-chave para assegurar a riqueza do Pré-sal ao desenvolvimento e ao progresso social – riqueza agora ameaçada pelo entreguismo de Bolsonaro.
Mais recentemente levantou-se contra as privatizações das empresas estatais e também se opôs à desindustrialização e à desnacionalização da nossa economia, promovidas pelos governos neoliberais; processo que se agravou desde o golpe de agosto de 2016.
Não há nenhum direito conquistado pela luta da classe trabalhadora ao longo das últimas nove décadas que não tenha tido a participação dos comunistas.
O Programa do PCdoB aponta a luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento como caminho para nosso país se tornar uma nação próspera, soberana, democrática e desenvolvida. Este novo projeto de desenvolvimento soberano, na visão dos comunistas, é o caminho brasileiro para o socialismo!
O PCdoB celebra seu aniversário de 97 anos de mãos dadas com as forças democráticas e progressistas. Comemora essa data importante irmanado com o povo e, mais uma vez, na linha de frente do combate aos retrocessos impostos pelo avanço da extrema-direita desde que a marcha golpista, em 2015, se pôs em movimento. Em diferentes fases desse processo regressivo, o PCdoB defendeu a união das forças democráticas, populares e patrióticas como condição para enfrentar a escalada reacionária.
Agora, quando tem início um novo e sombrio ciclo político marcado pelo governo de Jair Bolsonaro, de extrema-direita – disposto a ferro e fogo a impor um programa ultraliberal, autoritário e neocolonial –, os comunistas renovam sua tática de ampla unidade das forças progressistas, associada à mobilização crescente do povo para conter os retrocessos e defender os interesses da nação e os direitos da classe trabalhadora.
Diante de um governo de vocação ditatorial, que ameaça as liberdades, os direitos e garantias constitucionais, que cultua a intolerância e a violência, que aponta a esquerda e os movimentos do povo como “inimigos internos”, o PCdoB faz o alerta de que está sob ameaça o regime democrático instituído pela Constituição de 1988.
A prisão política, injusta e arbitrária, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um ponto saliente dessa perigosa realidade. Nestas circunstâncias, emergencialmente a defesa da democracia se torna uma tarefa central. Ela, a democracia, é a condição básica para a luta em defesa dos direitos do povo, da soberania do país e do patrimônio público nacional duramente sob ataques do governo Bolsonaro.
No momento, destaca-se a necessidade de uma ampla mobilização das forças populares e progressistas – no parlamento, nas ruas, nas redes sociais – em defesa do direito à aposentadoria seriamente ameaçado pelo projeto de “reforma” da Previdência. A PEC da Previdência de Bolsonaro quebra o conceito de seguridade social, suprime direitos previdenciários da Constituição, impõe a idade mínima (65 anos para os homens e 62 para as mulheres), eleva o tempo de contribuição para 40 anos, retira a variação da inflação do reajuste dos benefícios e reduz para R$ 400 o benefício para idosos pobres.
É sobretudo perversa para com os pobres, as mulheres e os trabalhadores rurais. Visa a privatizar a Previdência pública, com a instituição do regime de capitalização e assegurar R$ 1 trilhão – que sai da aposentadoria da classe trabalhadora – para pagar os juros da dívida pública. Temos de lutar, mobilizar o povo, pressionar os parlamentares. Temos de barrar essa reforma perversa e injusta.
O PCdoB, como força protagonista nesse processo, tem uma grande e especial motivação para comemorar seus 97 anos. A incorporação do PPL à legenda comunista concretiza a união entre duas históricas correntes políticas do campo democrático, popular, patriótico e revolucionário do nosso país. Essa união foi motivada e impulsionada pelas ameaças que pairam sobre o Brasil, pela necessidade de uma esquerda mais forte, mais vigorosa para empreender a resistência democrática e se opor tenazmente ao governo Bolsonaro.
A união entre o PCdoB e o PPL reforça o papel das forças revolucionárias, populares e patrióticas que lutam por uma pátria livre, democrática e socialista. As afinidades programáticas e históricas entre os dois partidos pavimentaram a decisão histórica e elevada do PPL de se incorporar ao PCdoB, desencadeando um processo de integração política, programática, ideológica e orgânica entre as duas legendas. Os comunistas e a esquerda em geral ganham um reforço considerável exatamente no curso de um grave momento da vida nacional.
O Partido Comunista do Brasil, ao comemorar seus 97 anos, transmite ao povo brasileiro a certeza e a confiança de que não será fácil a Bolsonaro realizar a obsessão de sepultar a democracia brasileira. Ela deitou raízes profundas no solo pátrio, custou à nação muitas lutas e vidas.
A resistência rumo a uma oposição forte realiza seus primeiros passos e tem potencial para se efetivar no âmbito de toda a vida política e social do país, a começar pelo Congresso Nacional e outras casas legislativas, se estendendo para os movimentos sociais, as organizações da classe trabalhadora, segmentos do empresariado, o universo acadêmico, a intelectualidade, os artistas, o mundo jurídico, setores religiosos, e inclusive os integrantes de instituições da República.
Os governadores e os prefeitos do campo democrático terão importante papel nesta empreitada, tal como têm atuado o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, e o governador do Maranhão, Flávio Dino. Lideranças de expressão, como Manuela D’Ávila, Jandira Feghali, Lídia Corrêa, Orlando Silva, João Vicente Goulart, Brizola Neto, Ildo Sauer, todas elas são chamadas a desempenhar importante papel para unir as forças progressistas e mobilizar o povo.
O PCdoB está convicto de que, no curso das mobilizações e da resistência, uma maioria progressivamente se levantará para defender a democracia, os interesses do Brasil e os direitos do povo e da classe trabalhadora.
Recife, 20 de março de 2019.
Luciana Santos,
Presidenta do Partido Comunista do Brasil-PCdoB
Do Portal PCdoB

Sem reforma, deus-mercado chuta Bolsonaro

Sem reforma, deus-mercado chuta Bolsonaro
Foto: Evaristo Sá/AFP
    Sem reforma, deus-mercado chuta Bolsonaro
A revista Exame, que tem como público alvo a cloaca empresarial nativa, publicou nesta sexta-feira (22) um texto emblemático de um legítimo representante do chamado “deus-mercado”. Sérgio Vale, mestre em economia pela USP e pela Universidade de Wisconsin, é economista-chefe da consultoria MB Associados – um antro dos abutres financeiros.

Por Altamiro Borges*, em seu blog


O título já é bombástico: “Sem reforma da Previdência, presidente não termina mandato”. Em dez parágrafos, o autor deixa explícito que Jair Bolsonaro é um autêntico “laranja” dos rentistas e que foi eleito com a missão principal – quase exclusiva – de acabar com a aposentadoria de milhões de trabalhadores brasileiros para beneficiar os banqueiros e os especuladores. O resto é para enganar os trouxas! 

O olho do artigo é puro terrorismo: “A morte precoce do governo Bolsonaro pela não aprovação da reforma detonará a volta da recessão em cima de uma economia que ainda se encontra muito fraca”. Já a legenda da foto do hilário presidente é ácida: “Bolsonaro: a impressão de ‘pato manco’ começa a se espalhar pelo governo”. Nada mais precisaria ser dito, mas reproduzo a íntegra do texto só para atazanar o presidente-capetão e excitar ainda mais os generais que estão no seu entorno: 

***** 

Sem reforma da Previdência, presidente não termina mandato 

Em menos de três meses de governo, às vezes parece que estamos falando de um mandato que está terminando. A impressão de “pato manco” começa a se espalhar pelo governo Bolsonaro rapidamente e a primeira vítima poderá ser a reforma da Previdência. 

Em coluna anterior, enfatizamos a justiça social por trás da reforma, da qual se esperava que houvesse a mesma visão quando viesse a reforma dos militares. Entretanto, o banho de água fria se instalou quando se viu que as perdas relativas dos militares seriam muito menores do que dos servidores públicos civis e do setor privado. Por estarem entranhados no poder e com um presidente de origem militar a sensação de manutenção de privilégios era tudo o que a turma do contra queria para barrar a reforma. Esse primeiro erro estratégico será cobrado caro nas próximas semanas. 

Na sequência, os atritos entre o Legislativo e o Executivo aumentaram, com a clareza cada vez maior de que não há articulação política para a reforma da previdência. A declaração de Bolsonaro de que preferia não aprovar essa reforma, mas que precisa ser feita não ajuda na frente de batalha. O Congresso não parece querer ficar com o ônus de uma reforma que o presidente insiste em não abraçar como deveria. 

As divergências entre Rodrigo Maia e Sergio Moro e a prisão do ex-presidente Temer dão mais pimenta para um molho que já estava intragável. Resta saber agora se há chance dessa reforma passar. 

Os mercados já começaram a incorporar nos preços o risco de não aprovação da reforma. Depois de bater nos 100 mil pontos, o destino da bolsa por algumas semanas deverá ser novas baixas, da mesma forma que o câmbio caminha célere para R$/US$ 4,0. Mas isso talvez não seja suficiente para acordar o governo. Os mercados poderão ter que reagir mais negativamente para pressioná-lo a mudar a rota e se empenhar mais pela reforma. Parece tom de ameaça dos mercados quando se fala isso, mas é apenas a incorporação do que significará à frente a não aprovação da mesma. O risco que pode ficar crescente é que na instabilidade dos mercados a desarticulação política aumente. Há chance de abandono precoce do barco de um governo que insiste em não negociar e cada vez mais com menos liderança. 

A morte precoce do governo Bolsonaro pela não aprovação da reforma detonará a volta da recessão em cima de uma economia que ainda se encontra muito fraca. O PIB caiu 11% entre dezembro de 2013 e dezembro de 2016 e até agora recuperou apenas 4,5%. As recuperações judiciais voltaram a aumentar ano passado e, para piorar a situação, o cenário internacional tem dado mostras de piora a cada mês, aumentando ainda mais o risco de depreciação mais forte da taxa de câmbio. 

No caso de um cenário de crise econômica será difícil qualquer tipo de Plano B. Certamente o Pacto Federativo do Ministro Paulo Guedes não é uma alternativa e nem passaria em situação de tamanha crise. O problema será de difícil solução pois o grupo político que gerou a crise não terá espaço para pensar em Plano B depois de desperdiçar o Plano A. Isso também inviabilizaria a continuidade das concessões e privatizações, reforma tributária e qualquer outro tipo de acordo com o Congresso. A pura inviabilização de qualquer avanço traria novamente o descontentamento da população com a recessão (aliás, em cima de um governo que já está começando a ficar impopular). Bolsonaro, nesse sentido, não seria diferente de Dilma, sendo que o descaso com a política é o que une os dois presidentes. 

A sequência da crise política com nova crise econômica seria devastadora para o governo. Haveria a opção desgastante de buscar novo impeachment, o que seria facilitado pela recessão, mas com a demora do processo piorando ainda mais o quadro econômico. Golpe parece algo distante, especialmente porque seria de todo interesse do governo trabalhar pelo vice-presidente Mourão, que mostrou evolução impressionante e discernimento para entender o papel que lhe cabe no Planalto. Numa tentativa de golpe, os militares ficariam com Bolsonaro ou Mourão? Creio que o desgaste que a cúpula militar já sofre com Bolsonaro faria a opção Mourão ser facilmente aceita. 

Há também a solução Jânio Quadros. Descontente com o Congresso que não lhe atendia e acreditando que voltaria nos braços do povo, Jânio renunciou com sete meses de governo e virou personagem de triste memória. Seria a solução menos traumática talvez, mas com os filhos do presidente sendo a voz provavelmente contra tal decisão. 

Parece loucura escrevermos sobre esses cenários com três meses de governo, mas é o que tende a acontecer se o Executivo não acordar para a dura realidade de se empenhar mais para que a reforma seja aprovada. Quero crer que o governo tenha plena consciência disso e comece a se articular para aprovar a reforma. 

***** 

A revista empresarial Exame não é a única a explicitar o temor do “deus-mercado”. A maioria dos veículos tem ligações com o capital rentista e está totalmente engajada na aprovação da “deforma” da Previdência. Parte da mídia pode até não gostar de Jair Bolsonaro, mas sabe que agora depende dele para aprovar o golpe contra a aposentadoria. Nesse sentido, ela teme que o pior ocorra com o “laranja” que chegou ao poder entre trancos e barrancos – com golpes, satanização da política e ascensão do fascismo, entre outras desgraças orquestradas nos últimos tempos. Cada solavanco político complica o cenário e aumenta a desconfiança do mercado com a aprovação da “reforma” e com a própria sobrevivência do presidente capetão. 

Como registra Nelson de Sá, em sua coluna na Folha, até a prisão do vampirão Michel Temer abalou o otimismo dos abutres financeiros, inclusive no exterior. Ele menciona as repercussões em alguns veículos rentistas pelo mundo. “No enunciado do Financial Times, ‘Mercados abalados pela ação mais recente da Car Wash [Lava Jato]’. Na avaliação do Wall Street Journal, a prisão ‘favorece a cruzada contra a corrupção, mas dispersa os parlamentares da agenda’. Cita, do analista André Perfeito, que ela ‘joga gasolina nas tensões entre a classe política e as forças da Car Wash’”. O temor da mídia rentista é que as conturbações políticas inviabilizem a votação da “reforma da Previdência".

A mesma Folha, em outra matéria, enfatiza que “a falta de clima político para a votação da reforma na Câmara fica cada dia mais acentuada. Após a chegada da proposta que muda as regras de aposentadoria dos militares, que deveria destravar o andamento do processo, a crise de articulação apenas se agravou. O PSL, partido do presidente, diz não se considerar da base de apoio ao governo. Partidos adiaram a escolha de relator para a proposta e a prisão, na quinta-feira (21), do ex-presidente Michel Temer (MDB) colocou combustível na já tensa relação entre Executivo e Legislativo. Nos bastidores do Congresso, a insurreição contra o governo atingiu, nesta semana, nível que surpreendeu até políticos com anos de experiência”. 

Estes e outros atropelos políticos talvez deem razão ao economista-chefe da consultoria MB Associados, que já prevê que o “presidente não termina mandato”. Sem a “deforma” da Previdência, o fascista Jair Bolsonaro se torna totalmente descartável para o “deus-mercado” – podendo ir mais rapidamente para a lata do lixo da história. A conferir! 


*jornalista, blogueiro, coordenador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, resonsável pelo Blog do Miro.

Reforma de Bolsonaro tira "proteção à gestante" das regras

 

Foto: Acervo/EBC

Em reportagem divulgada neste sábado (23), a Folha de S. Paulo ouviu especialistas sobre a proteção aos direitos das gestantes na reforma da Previdência proposta pelo governo Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional. Na PEC (Proposta de Emenda à Constituição), o trecho é modificado e garante apenas o salário-maternidade como um dos direitos previdenciários. 


Nesta reforma, é retirado do texto da Constituição trecho que garante proteção à maternidade e à gestante nas regras previdenciárias. Hoje, o inciso II do artigo 201 da Constituição, que trata das normas aplicadas ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), estabelece "proteção à maternidade, especialmente à gestante".

Segundo dados revelados pelo último Censo Demográrico realizado pelo IBGE, mais de 68% das mulheres brasileiras com idade a partir de 15 anos têm, no mínimo, um filho. Esse dado indica o quanto são importantes as políticas públicas voltadas à garantia dos direitos das gestantes no País.

A atual legislação brasileira assegura às mulheres grávidas uma série de direitos nas mais diversas esferas, sejam eles trabalhistas, sociais ou relacionados à saúde, não apenas antes, mas também durante e após o parto.

Parte de especialistas em direito constitucional e previdenciário ouvidos pela Folha vê com preocupação a mudança. Para o professor de direito constitucional da FGV Direito SP, Roberto Dias, a mudança para as gestantes representa um retrocesso.

"O Brasil está vinculado a tratados internacionais, entre eles o Pacto de San José da Costa Risca [Convenção Americana de Direitos Humanos], que apontam que os direitos humanos sejam implementados de forma progressiva", afirma Dias. 

"Maternidade e gestante deixam de ser fatores geradores para a hipótese de cobertura previdenciária. No lugar, entra um benefício definido", critica Érica Barcha Correia, doutora em direito social pela PUC-SP e professora universitária.

Para ela, o texto pode dificultar a ampliação da concessão administrativa de benefícios do INSS no futuro. "A intenção também é acabar com discussões judiciais, limitar a judicialização", diz.

A opinião da professora é compartilhada pelo advogado Roberto de Carvalho Santos, presidente do Ieprev (Instituto de Estudos Previdenciários). "Quando há na Constituição uma proteção à gestante, há uma abertura maior [a direitos]", afirma.

Ele cita decisões judiciais que têm concedido ampliação da licença-maternidade quando há o nascimento de um bebê prematuro. Por lei, o prazo é de 120 dias.

"Na minha opinião, o objetivo da PEC é, cada vez mais, tentar evitar que o Judiciário venha estabelecer ou conceder benefícios além daquilo que está taxativamente previsto na lei", diz Santos.

Uma decisão da 17ª Vara Federal de Porto Alegre, por exemplo, garante que todas as seguradas do país com gravidez de risco recebam o auxílio-doença, mesmo que não tenham contribuído por 12 meses ao INSS.

"A Constituição Federal previu, no capítulo destinado à Previdência Social, a proteção à maternidade, especialmente à gestante, como um dos pilares a serem respeitados pelo legislador e pelos aplicadores da lei", escreveu o juiz Bruno Risch Fagundes de Oliveira na decisão.

A ação civil pública foi ajuizada pela Defensoria Pública da União. O INSS recorre.

Direitos trabalhistas

A legislação do País possui uma série de mecanismos para assegurar que as gestantes ou mães não sejam prejudicadas no mercado de trabalho em razão de sua condição. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) busca garantir que a mudança de rotina gerada pela gravidez e, posteriormente, pelo período pós-parto, não seja um empecilho para o desempenho normal da atividade laboral. Além disso, uma das prioridades das leis do País é certificar que a saúde das gestantes e dos bebês em formação não seja afetada pelo trabalho. Confira a seguir as principais medidas:

• Licença-maternidade de 120 dias para gestantes que tiverem carteira de trabalho assinada.

• Não ser demitida durante o período em que estiver grávida e até cinco meses após o parto, a não ser por justa causa.

• Receber uma declaração de comparecimento todas as vezes em que for às consultas de pré-natal ou fizer algum exame. Apresentando esta declaração à sua chefia, as faltas ao trabalho serão justificadas.

• Até o bebê completar seis meses, há o direito de ser dispensada do trabalho todos os dias, por dois períodos de meia hora ou um período de uma hora, para amamentação. 

• O empregador não pode exigir atestados de gravidez ou quaisquer outros que tenham objetivo discriminatório para fins de admissão ou manutenção do emprego de mulheres.

Novas regras

Mas há quem discorde do fim de proteção às gestantes com a PEC do Bolsonaro. A Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, em nota, afirma que "a mudança não retira nenhum direito da gestante, apenas especifica que a proteção a ser oferecida pela Previdência Social é o salário-maternidade".

"A seguridade social continuará ofertando outros serviços e programas de proteção à maternidade por meio da assistência social, conforme previsto expressamente no inciso I do artigo 203", diz.

O trecho citado da Constituição afirma que a assistência social é prestada a quem necessitar e tem por objetivos: "A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice".


Com informações da Agência Brasil e Folha de S. Paulo

Bolsonaro diz que brasileiros ganham muito. Não é verdade

No Chile, o capitão-presidente disse que os trabalhadores brasileiros ganham muito. Não é verdade.
Foto: Reprodução TV
No Chile, o capitão-presidente disse que os trabalhadores brasileiros ganham muito. Não é verdade.
O presidente Jair Bolsonaro não deixa de surpreender. Ele, que é um usuário frequente das redes sociais, é também, tudo indica, um adepto da pós-verdade - a tendência contemporânea que põe a interpretação, a opinião de cada um, acima da verdade dos fatos, não importando o que aconteceu - o que passa a valer é o que está na cebeça da pessoa, e não o fato real. 

Por José Carlos Ruy, especial para o Vermelho


Esta reflexão foi provocada pela declaração do capitão-presidente no Chile, num café da manhã neste sábado (23) com empresários: ele disse que os trabalhadores brasileiros ganham muito: "Tenho dito à equipe econômica que na questão trabalhista nós devemos beirar a informalidade porque a nossa mão-de-obra é talvez uma das mais caras do mundo". 

É uma declaração incompreensível num usuário frequente da internet, na qual uma simples pesquisa revela que a afirmação feita por ele não é verdade. E que os trabalhadores brasileiros, cuja pobreza aumentou severamente desde a ascensão do golpista Michel Temer ao governo em 2016, situação agravada desde a posse de Jair Bolsonaro há menos de três meses. Os trabalhadores brasileiros estão entre os mais mal pagos no mundo, não alcançando sequer a média mundial de salários calculada pela Organização Internaciondal do Trabalho (OIT). Levando em conta os ganhos dos trabalhadores em 72 países, a OIT calculou que o salário mundial médio seria de de US$ 1.480 ao mês, ou cerca de US$ 18 mil ao ano (em valores de março de 2012).
No Brasil, o salário mínimo corresponde, ao câmbio de hoje (24), a 225 dólares (seu valor em reais é de 998.00). Isto significa que, comparado com a média mundial calculada pela OIT, o salário mínimo brasileiro corresponde a 15% daquele valor. 

Esta pesquisa, disse o economista Patrick Belser, da OIT, mostra que a média salarial ainda é muito baixa, e que, portanto, o nível de desenvolvimento econômico mundial ainda é, de fato, muito baixo, apesar da abundância financeira que vemos em alguns lugares". 

No Brasil, ao contrário do que diz o capitão-presidente, em 2016 metade dos trabalhadores tinham salários exíguos: recebiam até um salário mínimo por mês (muito abaixo da média mundial calculada pela OIT), informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada em 2017.

Isto é, o Brasil está entre aqueles lugares referidos pelo economista Patrick Belseror, nos quais a ganância financeira se sobrepõe. Onde o governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro impõe aos trabalhadores os interesses do grande capital especulativo e tenta reduzir sua capacidade de luta e resistência. Investe contra a organização sindical para impor baixos salários, a ponto de recolocar o Brasil no mapa da fome da ONU.

Portal Vermelho