Foto: Agência Brasil
É mais urgente falar da ausência do Cerrado no debate eleitoral, justamente nessas que são eleições cruciais para uma virada de rumo.
Esse não é um texto para falar
das muitíssimas importâncias do Cerrado para a vida no Brasil e no planeta.
Apesar do Cerrado continuar a sofrer com a destruição em mais um dia a ele
dedicado, não escrevo para exaltar sua biodiversidade, os conhecimentos e
culturas dos povos cerratenses, os serviços ambientais prestados, dentre eles o
papel fundamental no fornecimento de água doce para o país, ou ainda seu valor
intrínseco, seu direito de existir, e o dos seres humanos de poderem admirá-lo.
Até poderia dedicar o texto a esses essenciais assuntos, merecedores de toda a
atenção. Mas é mais urgente falar da ausência do Cerrado no debate eleitoral,
justamente nessas que são eleições cruciais para uma virada de rumo, uma
ruptura com o fascismo e a livre “passagem da boiada” em direção a tempos com
mais democracia, empatia e responsabilidade.
Ainda que às custas de muita destruição e perdas de vidas
humanas, a temática ambiental finalmente vem adquirindo força e centralidade no
debate político no país. O centro das atenções é o desmatamento da Amazônia,
alvo de críticas severas ao governo Bolsonaro quanto o assunto é o descaso com
o meio ambiente e a conivência com a violência no campo, e objeto de
preocupação de candidatos e mídia quando o debate se volta aos cuidados com o
planeta e, sobretudo, às relações internacionais e a preocupação global com o
modo como o Brasil tem (des)cuidado da floresta.
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Enquanto isso, o discurso hegemônico de exaltação do Agronegócio
segue firme e inabalável na bancada da mídia comercial e nos pronunciamentos
dos políticos. Apesar de todas as evidências indicarem o Agronegócio como o
principal agente destruidor do Cerrado, ele continua sendo “tech, pop e
parceiro do meio ambiente” para a Rede Globo e afins, e exemplo do “Brasil que
dá certo” nas falas de candidatos liberais e ultraliberais, ligados à bancada
ruralista. Mesmo nos discursos mais afinados com a ideia de sustentabilidade e
de respeito aos povos tradicionais, como é o caso de Lula, o Cerrado não é
sequer citado, ficando de fora do plano de conservação e uso sustentado que
parece incluir apenas a Amazônia.
É, portanto, fundamental que o Cerrado seja incluído nessa onda
de transformar o Brasil em modelo mundial de preservação ambiental e de
desenvolvimento sustentável. Propostas e projetos já existem, inclusive no
Congresso Nacional. A PEC 504/2010, aprovada por unanimidade no Senado, aguarda
desde 2010 ser pautada na Câmara para incluir Cerrado e Caatinga dentre os
biomas tratados como patrimônio nacional no artigo 225 da Constituição Federal.
Já o projeto de lei nº 5462/2019, que dispõe sobre a Política de
Desenvolvimento Sustentável do Bioma Cerrado, anda por alguma gaveta da
burocracia do poder legislativo. Ambos precisam ser tratados como prioridade
pelo novo governo e a nova legislatura. Essas e outras políticas de valorização
do segundo maior bioma brasileiro são primordiais para reverter o quadro de
descaso que tem resultado em tamanha destruição, e que trará consequências para
todo o país, inclusive a própria Floresta Amazônica. Ambientalistas, cientistas
e políticos responsáveis com o futuro do planeta não podem perder essa
derradeira oportunidade de salvar o que resta do Cerrado.
Fonte: https://vermelho.org.br