ELEIÇÕES 2022: MOVIMENTO 65

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CAMPANHA MOVIMENTO 65

domingo, 27 de novembro de 2022

BRASIL: Mulheres negras do PCdoB estão na linha de frente da luta antirracista - por Priscila Lobregatte

 

Daiana Santos. Foto: Cristiane Leite

De diferentes perfis e lugares, elas têm papel fundamental na luta pelos direitos da população negra.

Mesmo num dos estados com maior presença bolsonarista, o PCdoB conseguiu eleger uma das duas primeiras mulheres negras a representarem o Rio Grande do Sul na Câmara dos Deputados, Daiana Santos. Também foi eleita Denise Pessoa (PT). 

Uma das frentes prioritárias na atuação de Daiana, que aos 40 anos cumpre seu primeiro mandato como vereadora de Porto Alegre, tem sido a luta antirracista em suas várias facetas. Nesse sentido, pretende, em Brasília, apostar na luta pelo desenvolvimento de políticas públicas voltadas às periferias, de maioria negra; pela implementação de uma agenda política de reparação e por políticas públicas na área da saúde da população negra, assunto que Daiana, que é sanitarista, também é conhecedora. 

“Bolsonaro sempre demonstrou ser contra os avanços e conquistas civilizatórias em nosso país. Infelizmente, o Brasil sofreu com o sufocamento das políticas de Estado de combate ao racismo. Passamos por quatro anos de ataques racistas perpetrados por membros do governo, além da destruição de uma importante instituição, a Fundação Palmares. Acredito que com a volta da Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), vamos conseguir retomar a nossa caminhada na busca por direitos humanos”, destacou. 

Para Daiana, a eleição de Lula representa um avanço para a população negra. “Nossas pautas devem ser trabalhadas numa perspectiva transversal, ou seja, serem parte de todas as políticas de todas as áreas do governo e não somente da pasta de igualdade racial. Precisamos retomar um governo com uma agenda política para o povo negro, trabalhando na inclusão social, educacional e laboral de todas e todos nós.  Além disso, é de muita importância a construção de políticas que priorizem as mulheres negras, que são a base de sustentação de nossa sociedade, bem como aprofundar e ampliar políticas como a de cotas raciais nas universidades”. 

Bruna Rodrigues. Foto: Júlia D’Ávila

Colega de bancada de Daiana na Câmara de Porto Alegre, Bruna Rodrigues, 35 anos, é outra mulher negra e jovem do PCdoB que vai mudar de casa legislativa em 2023, quando assume como deputada estadual. 

Ao avaliar o atual governo, ela destaca a letalidade que Bolsonaro e o bolsonarismo representam à existência negra. “A política deles é algo que fala não apenas da falta de prioridade à nossa dignidade, mas de combate às nossas vidas. Aqui no RS, por mais que o atual governo seja de uma direita democrática, pouco avançamos em políticas de combate ao racismo”.

Para Bruna, a eleição de Lula “é a chance de promovermos uma grande repactuação no que diz respeito à política de igualdade racial. O movimento negro se mobilizou em torno dessa candidatura e agora temos a oportunidade de retomar uma construção que avance na equidade racial e na superação do racismo”. 

Na Assembleia Legislativa gaúcha, Bruna diz que vai ampliar o trabalho executado na Câmara Municipal, como a Lei 13.274, de sua autoria, que cria o Selo Igualdade Racial. “Essa é uma iniciativa que fomenta e valoriza as práticas antirracistas das empresas em Porto Alegre — e queremos ver isso se tornar realidade por todo o Rio Grande. Além disso, queremos propor mecanismos orçamentários e legislativos para assegurar a implementação de uma Política Integrada à Saúde da População Negra, bem como discutir com o devido mérito e coletividade políticas de segurança pública”. 

Garantindo a vida negra

Dani Balbi. Foto: reprodução/redes sociais

Estreante no parlamento fluminense, Dani Balbi, 33 anos, é mais uma comunista negra a contribuir na luta antirracista. Primeira transexual a conquistar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Dani também foi a primeira professora trans da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Sobre o cenário que marcou o país nos últimos anos, a professora lembra: “tivemos que sair a campo tanto para que a gente pudesse garantir a vida da população negra — a que mais sofre com o desemprego, com a carestia, além do racismo estrutural — como também em defesa da memória da população negra e da luta antirracista. Além disso aqui no estado do Rio de Janeiro, isso se materializou no genocídio promovido pelo desgoverno de Cláudio Castro que arma a Polícia Militar para ceifar vidas negras”. 

Com o novo momento que se inicia com o governo Lula, Dani defende, entre outras medidas, a volta da Seppir  e a implantação de programas de acesso ao ensino público. “É preciso permitir que pessoas negras tenham acesso facilitado aos recursos para construir a sua formação e também ingressar no mercado de trabalho através de uma política nacional orientada para a reserva de vagas em melhores postos de trabalho e fortalecer a luta no campo da cultura pela valorização da memória e resistência das pessoas negras, suas lideranças e também suas figuras históricas”, argumenta. 

Trajetória antirracista

Leci Brandão. Foto: Alesp

Experiente na luta antirracista, seja nos palcos, seja na política, a deputada estadual, cantora e compositora Leci Brandão, 78 anos, foi reeleita para a Assembleia Legislativa de São Paulo, onde cumprirá seu quarto mandato, sempre pelo PCdoB. 

“Quem acompanha minha carreira tanto na arte quanto na política sabe que as questões relativas à população negra sempre estiveram presentes, afinal a pauta da igualdade racial, do combate ao racismo e da cidadania pela de negros e negras é mais do que uma bandeira de ativismo, é quem eu sou, minha vida, minha ancestralidade. Não teria como caminhar no mundo sem falar e agir em prol dessas questões”, diz Leci. 

A parlamentar avalia que “a extinção da Seppir e a entrega da Fundação Palmares a pessoas que estão na contramão de tudo o que o movimento negro sempre defendeu foram golpes muito graves sofridos por todos os que sempre estiveram na luta antirracista em nosso país”. 

Leci aponta ainda o risco constante, sob Bolsonaro, do fim das cotas, e destaca como sendo de extrema gravidade “a autorização dada pelo atual governo para que crimes de racismo fossem praticados, na medida em que esse governo e seus gestores em todas as instâncias reforçaram ou ficaram calados e coniventes diante das demonstrações de racismo”. 

No próximo governo, diz, será preciso reconstruir o que foi desfeito, em todas as áreas e “ter um olhar para a questão racial, que é transversal, passando por todas as áreas. Já está mais do que comprovado que quando não existe esse olhar específico, a população negra, que é a maioria entre os mais pobres, não é alcançada”. 

Olívia Santana. Foto: reprodução

Outra comunista experiente na luta antirracista é a pedagoga Olívia Santana, 55 anos, que renovou seu mandato pela segunda vez para a Assembleia Legislativa da Bahia pelo PCdoB. Durante a campanha deste ano, disse, sua pauta foi a vida, especialmente a da juventude negra. Ela defende “projetos que fortaleçam uma infraestrutura de direitos para a população negra, sobretudo a juventude que é a mais vulnerável em relação à falta de oportunidades de formação, o desemprego e o enfrentamento à violência policial”. 

Olívia alerta para o grave quadro que leva ao assassinato de grande número de jovens negros nas periferias do país em geral e da Bahia em particular, especialmente pelas polícias. “Temos que de fato enfrentar esse desafio utilizando o mandato como instrumento de denúncia, mas também de maneira propositiva. Nós temos um projeto de lei para colocar câmeras nas viaturas e no fardamento policial; há uma mobilização para que isso aconteça na Bahia e a gente está na na linha de frente dessa agenda”.

A parlamentar aponta ainda que “o governo de Bolsonaro representou um revés muito violento, foi um governo que atacou todas as políticas. Lula está encontrando um país destroçado, são muitos escombros, então a gente vai ter que refazer muito do que já tinha sido feito e que foi destruído. Eu digo que o governo de Lula é um governo de reconstrução nacional”. 

Leia também: PCdoB tem quase metade de mulheres entre suas candidaturas 

POLÍTICA: PF frustra bolsonaristas e diz que não houve fraude na eleição

“Não foi encontrada nenhuma ocorrência de fraude ou tentativa de fraude à urna eletrônica no primeiro e no segundo turnos das eleições gerais de 2022”, concluiu a PF.

A Polícia Federal (PF) é mais uma instituição a assegurar a lisura e a credibilidade das eleições 2022. Em nota divulgada na última sexta-feira (25), o órgão frustrou as hordas bolsonaristas ao confirmar que, neste ano, não houve nem sequer tentativas de fraude nas urnas eletrônicas – base do sistema eleitoral brasileiro desde 1996.

A informação foi divulgada pelo portal UOL, que questionou a PF sobre sua participação no “processo de fiscalização e prevenção de fraudes nas eleições”, com peritos, agentes e delegados. Segundo o UOL, encerrada a votação, a Polícia Federal realizou pesquisas ao longo de 18 dias em sistemas de inquéritos.

“Não foi encontrada nenhuma ocorrência de fraude ou tentativa de fraude à urna eletrônica no primeiro e no segundo turnos das eleições gerais de 2022”, concluiu a PF, conforme a nota. O UOL agrega que “nenhum inquérito policial ou procedimento investigativo criminal foi aberto com base em denúncias de supostas fraudes em urnas eletrônicas ou na totalização de votos”.

A acusação de supostas vulnerabilidades nas urnas eletrônicas é uma das bases para apoiadores extremistas do presidente Jair Bolsonaro (PL) questionarem o resultado das eleições 2022. Em 30 de outubro, no segundo turno, Bolsonaro foi derrotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Fonte: Portal VERMELHO

Movimento dos Policiais Antifascismo cresce em contraponto a Bolsonaro - por André Cintra

 

Por defender uma segurança pública “mais democrática, mais comunitária e de aproximação junto ao cidadão”, líder do movimento não poupa críticas a Bolsonaro.

O termo é recente. Foi na década passada que um e outro policial passaram a se qualificar como “antifascistas”. Mal desconfiavam que, em 2019, um presidente de extrema-direita ascenderia ao poder no Brasil. Mas foi no contraponto ao governo autoritário de Jair Bolsonaro (PL) que o movimento mais cresceu. “Éramos 200 em 2016. Hoje, somos mais de 5 mil, graças à mobilização”, diz o policial penal Abdael Ambruster, de São Paulo.

Conforme reportagem de Edison Veiga para a DW, “o movimento, batizado de Policiais Antifascismo, nasceu em 2016 em cidades do Nordeste, foi oficializado em evento realizado no Rio de Janeiro em 2017 e, a partir de 2018, espalhou-se pelo Brasil”. A prioridade do grupo, durante a gestão bolsonarista, foi “demonstrar que o apoio às pautas de extrema direita não é consenso absoluto dentro das forças de segurança”. Ao se posicionar assim, o movimento atraiu oficiais da ativa e aposentados, de diversas forças de segurança.

Este é o caso de Abdael Ambruster, policial há 28 anos com pós-graduação em segurança pública e direitos humanos. “A gente só está seguindo os preceitos constitucionais de nosso país e os preceitos internacionais, apenas isso. Estamos trabalhando o óbvio”, diz. “Nossa profissão, nossa razão de ser, é defender os direitos – e nosso sonho é trabalhar por um Brasil melhor e um mundo melhor”.

Além de participar dos Policiais Antifascismo, Abdael é membro de organizações de defesa dos direitos LGBT e de direitos humanos. Uma de suas frases preferidas é a sentença do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas): “Um policial é, antes de tudo, um defensor dos direitos humanos”.

Na visão de Abdael, é necessário “rever muito a segurança pública” no Brasil. “Um dos conceitos fadados ao fracasso é a ideia de ‘guerra às drogas’. Isso resulta apenas na morte da população pobre, preta e periférica”, analisa. “Mas levantar a bandeira dos direitos humanos dentro das instituições policiais, ainda mais com o avanço do bolsonarismo, é ser a voz dissonante – a voz que tentam abafar.”

O coordenador nacional do Policiais Antifascismo é Luciano Antonio Silva, coronel aposentado da Polícia Militar de Alagoas (PM-AL). De acordo com ele, trata-se de um “movimento progressista suprapartidário”. A seu ver, “ser policial antifascismo é lutar contra o fascismo que existe na nossa sociedade, no Estado brasileiro e principalmente nas forças de segurança pública do Brasil. É valorizar os direitos fundamentais, os direitos sociais previstos na Constituição e em todo o ordenamento jurídico do país. É não aceitar ações fascistas por parte de integrantes das forças de segurança pública”.

Por defender uma segurança pública “mais democrática, mais comunitária e de aproximação junto ao cidadão”, Luciano não poupa críticas a Bolsonaro. “Não concordamos com a frase errada e fora de lugar que tem sido propagada pelo atual presidente da República, que diz que ‘bandido bom é bandido morto”, afirma. “Em nosso país, não existe pena de morte e todas as pessoas, sejam quais forem, devem ser submetidos à legislação, ao que prevê o Estado de Direito.”

Para Edison Veiga, o manifesto do movimento pode ser sintetizado em cinco pontos. Os policiais antifascistas:

– “defendem a desmilitarização da segurança pública, acreditando que todo policial deveria ter formação civil”;

– “pedem a reestruturação das forças policiais, com unificação de carreiras e revisão das hierarquias”;

– “são contra a narrativa de que há uma ‘guerra’ contra o crime, por entenderem que isso não resolve o problema da violência – mas, sim, incentiva”;

– “argumentam que a criminalização das drogas é uma política de encarceramento em massa que vitima principalmente jovens negros”;

– “querem que policiais tenham direitos compatíveis com os de outros trabalhadores, como direito de greve e de livre associação”.


Fonte:  https://vermelho.org.br