
Dos três
comandantes das Forças Armadas, dois enfatizaram a Bolsonaro que os pedidos de
intervenção militar “não têm base legal”. Os atos, além do mais, “estariam
gerado problemas de segurança e discussões internas dentro das corporações”.
As Forças Armadas
estão fartas dos atos golpistas que tomaram os portões dos quartéis após as
eleições. Em reunião com o presidente Jair Bolsonaro (PL), na quinta-feira
(24), no Palácio da Alvorada, os comandantes do Exército, Marco Freire
Gomes, da Marinha, Almir Garnier, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista,
cobraram uma posição do governo.
Conforme o relato
da CNN, a reunião durou duas horas. Dos três comandantes, dois
enfatizaram a Bolsonaro que os pedidos de intervenção militar “não têm base
legal”. Os atos, além do mais, “estariam gerado problemas de segurança e
discussões internas dentro das corporações”. Era visível a insatisfação com o
silêncio do presidente, que chegou a ficar 20 dias em reclusão.
Bolsonaro ouviu
que, sim, há “militares inconformados” com a vitória de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) no segundo turno da eleição presidencial, em 30 de outubro. Esses
militares “estariam fomentando os protestos, com a participação de parentes e
amigos”. Mas, de acordo com os comandantes, esta não é a posição da cúpula das
Forças Armadas, que vai seguir a Constituição.
Num segundo momento
da reunião, Bolsonaro autorizou a participação das Forças Armadas na transição
de governo. O Exército ficará responsável pelo cerimonial militar, enquanto a
Aeronáutica passará a coordenar “as tratativas para segurança do espaço aéreo
no dia da posse”. Já a Marinha vai preparar as honras a chefes de Estado no
Itamaraty.
Nesse ponto, os
comandantes comunicaram a disposição em entregar seus cargos antes mesmo da
posse de Lula, marcada para 1º de janeiro. A Aeronáutica, por exemplo, marcou
para 23 de dezembro a cerimônia de transmissão do cargo.
Segundo o Estadão,
“as demais Forças pretendem fazer o mesmo em datas diferentes. Assim, a
passagem de bastão de um governo para o outro começaria pelas Forças Armadas”.
Bastaria Lula nomear os próximos comandantes. A proposta não é comum. Em geral,
o novo ministro da Defesa assume o posto e, só então, nomeia os comandantes
militares.
Um fato, porém,
cristalizou a ideia de antecipar a transição: a cúpula militar é unânime no
repúdio à escalada golpista do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que
apresentou uma representação fraudulenta ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral),
a fim de questionar o resultado do pleito. Na opinião de generais ouvidos
pela Folha de S.Paulo, “a ação pode inflamar ainda mais as
manifestações em frente aos quartéis”.
Em resumo: os
militares são gratos pela deferência com que o governo Bolsonaro os tratou nos
últimos quatro anos, mas não querem ser vistos como braços armados de um líder
ou de um movimento antidemocrático. O golpismo, mais uma vez, perdeu a batalha.
Fonte: Portal VERMELHO