O Brasil
estreou nesta sexta-feira (25) na Copa do Mundo de 2022 com uma contundente
vitória por 2 a 0 sobre a Sérvia. O herói da partida no Estádio Lusail, em
Doha, no Qatar, foi o centroavante Richarlison, autor dos dois gols.
Craque dentro das quatro linhas, o atleta brasileiro – que atua
no Tottenham, da Inglaterra – também é diferenciado fora de campo. Num elenco
recheado de jogadores despolitizados e, pior, abertamente bolsonaristas,
Richarlison é uma rara exceção.
Dos 26 convocados pelo técnico Tite para a Copa-2022, ele foi o
único que declarou voto, abertamente, em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas
eleições presidenciais de outubro. Mas seu contraponto ao governo Jair
Bolsonaro (PL) é anterior à disputa eleitoral.
Quando a pandemia de Covid-19 começava a fazer as primeiras
vítimas no Brasil, o jogador contrariou publicamente o presidente da República
e saiu em defesa das medidas protetivas, como o uso de máscara. Em abril
de 2020, Richarlison se tornou embaixador da USP Vida na Luta contra a
Covid-19.
“Eu vou confessar a vocês: eu estou muito inquieto por não poder
fazer o que eu mais amo: gols. Mas esse tempo de confinamento me fez entender
que há um outro jogo em disputa, e eu decidi me escalar”, tuitou o atacante.
Ao longo da crise sanitária, ele voltou a se posicionar em
defesa do SUS (Sistema Único de Saúde), da ciência e da vacinação anti-Covid.
Quando o governo Bolsonaro boicotou a entrega de oxigênio hospitalar para
Manaus, Richarlison fez doações do insumo para a capital do Amazonas.
Em longo depoimento ao Blog do Ancelmo Gois (O
Globo), há quase dois anos, o atleta explicou por que é uma
celebridade engajada em pautas sociais e políticas. “As pessoas de onde eu
venho não têm voz e nem vez. Poucos, até hoje, procuraram saber o que é
importante ou o que falta para que elas vivam melhor”, afirmou. “No Brasil é
assim – muitos só recebem atenção em época de eleição.”
Na entrevista, o jogador afirmou que nunca teve preferência
partidária. “Não preciso de um (partido) para saber
que é errado faltar energia elétrica por 22 dias em um estado inteiro. Ou ainda
que é um direito básico ter comida na mesa, saúde, educação e moradia”,
declarou.
Segundo Richarlison, num país onde “75% da população pobre é
preta e 76% das pessoas mortas todos os anos também são pretas”, o esporte é
uma oportunidade rara de ascensão social. “O futebol me salvou. É por isso que
eu falo, me posiciono e mostro a minha indignação: pelo mínimo de dignidade e
igualdade para todos os brasileiros que não tiveram a mesma sorte que eu.”
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