ELEIÇÕES 2022: MOVIMENTO 65

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domingo, 26 de julho de 2020

Lembrar de Mandela e de Mao Zedong, por Haroldo Lima

O nome de Mandela foi trazido pelo governador Flávio Dino como fonte de inspiração, pelo menos para uma parte dos brasileiros. O líder maranhense tem esquadrinhado a realidade oposicionista fracionada à cata de uma saída. Como nordestino sabe como é verdadeira uma das leis de Murphy, a de que “o ruim pode piorar”, o que nos remete à outra que diz que “tudo relegado à própria sorte tende ir de mal a pior.”
Por Haroldo Lima*
Mandela é exemplo pródigo em variadas questões, como nas batalhas políticas que exigem tenacidade, na compreensão de que a luta contra ideias retrógradas deve estar integrada à luta pela construção de um estado nacional e democrático, no otimismo com que aponta futuro luminoso em meio às intempéries do momento.
Existe, contudo, uma situação em que a postura avocada do líder sul-africano é de fato paradigmática, que é a sua posição ao sair da prisão de 27 anos. Aí, livre, famoso e prestigiado em seu país e no mundo, o Mandiba, como carinhosamente seu povo o tratava, não se deixou levar por qualquer postura inflexivelmente rancorosa e vingativa. Ao contrário, optou pelo difícil caminho de unir a maior parte da gente de seu país para pôr abaixo o apartheid, este sim, seu inimigo indefectível. Flávio Dino observa que Mandela decidiu “priorizar mais o futuro dos cidadãos do que o “julgamento” de erros do passado”. Em consequência, empenhou-se na arregimentação de forças díspares, formando uma frente notavelmente ampla que o elegeu Presidente da República e viabilizou a derrocada do odiento regime de segregação racial.
A lembrança do exemplo de Nelson Mandela desperta uma outra recordação, espetacular e absolutamente educativa, a de Mao Zedong após a Longa Marcha, em outubro de 1935.
A retirada épica que começara com mais ou menos 100.000 pessoas, chegou a Yenan, no norte da China, com 20.000 sobreviventes, depois de percorrer em um ano cerca de 10.000 km. O Exército chinês, sob o comando de Chiang Kai-shek, que dera combate mortal aos retirantes durante toda o tempo, chegara também na mesma região, e se instalara em Sian, bem perto de Yenan. O assalto final ao que restava dos comunistas estava sendo preparado. Foi quando o Japão começa a ampliar a invasão da China.
Os comunistas sob a direção de Mao Zedong percebem a mudança na situação e propõem ao Exército até então inimigo mortal um pacto: suspensão das hostilidades e união de forças para enfrentar o Japão. Chiang Kai-shek não aceita a trégua proposta. Seu Estado Maior, em posição contrária, prende-o. Como o Japão avançava, a posição de Chiang Kai-shek é considerada de traição nacional e prepara-se seu julgamento. Ele poderia ser condenado à morte, que era a pena por traição.
Os comunistas sabem desses fatos. Percebem que, matando Chiang Kai-shek naquela hora, o Exército regular se dividiria, o trauma seria grande e o Japão se aproveitaria de tudo. Despacham então para Sian uma comissão chefiada por um exímio negociador Zhou Enlai, com o objetivo de impedir a condenação e morte do Chiang Kai-sheck e selar com ele um acordo para enfrentarem juntos o Japão. E isto foi feito. No curso da luta, crescem as forças dos comunistas. Em 1949 o Japão é expulso, os comunistas tomam o Poder, Chiang Kai-sheck foge.
As experiências não devem ser copiadas, pois as circunstâncias são sempre diferentes. Tentar traslada-las é caminho certo para o erro. Mas erro sério também é o menosprezo às lições gerais das experiências passadas. .
Quando Flávio Dino aponta o caminho seguido por Mandela para derrotar o apartheid e quando, na mesma linha, rememoramos aqui a façanha dos comunistas chineses para expulsar os japoneses e chegarem ao Poder, o que se quer é acentuar que o passado nunca é esquecido, mas que as frentes politicas progressistas se constroem em função de objetivos futuros, de programa, e não de avaliações do passado.
O quadro político brasileiro é delicado. Circunstâncias internacionais e nacionais estão deteriorando o amálgama do bolsonarismo, mostrando-o como uma horda obscurantista e miliciana que ameaça o país. Seu potencial de recuperação, contudo, paira latente e seu poder destrutivo, que tanto prejuízo já nos deu, pode crescer.
Do lado do Brasil, está seu povo, heterogêneo, diversificado, com sonhos nacionais e que, na luta e em frente ampla, pode levar de roldão as falanges bolsonaristas, autoritárias, neofascistas, negacionistas, lambe-botas de americanos.
De Mao Zedong a Mandela, quando o objetivo a atingir é imperioso e elevado, o caminho é o da frente necessária.
*É engenheiro, ex-diretor-geral da ANP, membro do Comitê Central do PCdoB e foi deputado federal na Assembleia Constituinte.

ALÍRIO E GLÊNIO - HOMENS VALOROSOS - Por GEORGE CÂMARA


DEMOCRACIA: Debate relembra legado dos militantes comunistas Glênio Sá e Alírio Guerra 30 anos após tragédia

A trajetória e o legado dos militantes comunistas Glênio Sá e Alírio Guerra serão lembrados neste domingo (26), data que marca os 30 anos do acidente de automóvel ainda cercado de mistérios que vitimou os dois dirigentes do PCdoB do Rio Grande do Norte, em 26 de julho de 1990.
O bate-papo em formato de live será transmitido a partir das 17h, no canal do Youtube do PCdoB/RN. O debate será conduzido pelo presidente municipal da sigla Christian Vasconcelos e terá a participação de Jana Sá, filha de Glênio, e Eveline Guerra, viúva de Alírio, além de dirigentes do PCdoB, incluindo os dois únicos sobreviventes do acidente na década de 1990, Valdo Teodósio e Antenor Roberto, atual vice-governador do Rio Grande do Norte.
Glênio, Alírio, Valdo Teodósio e Antenor Roberto iam de Currais Novos a Jaçanã, no interior do Rio Grande do Norte, para uma atividade de campanha que não estava na agenda e foi comunicada a partir de um telefonema que ninguém consegue mais identificar, quando o carro deles colidiu com um opala de placa fria. O motorista fugiu e nunca foi encontrado. A família de Glênio Sá acredita que o acidente foi forjado em razão de vários acontecimentos ocorridos após a tragédia. Entre eles um documento obtido após a abertura dos arquivos da ditadura militar, durante o governo Dilma Rousseff, que comprova que Glênio vinha sendo monitorado pelo menos uma década após a lei da anistia, em 1979.
Natural de Caraúbas (RN), Glênio Sá foi o único potiguar a participar da mítica Guerrilha do Araguaia, principal ação de luta armada contra o regime militar durante os anos 1960/1970.
No livro “Memórias de uma Guerra Suja”, o ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra, faz referência a um acidente automobilístico no interior do Nordeste forjado pelos militares. O ex-agente da ditadura disse em depoimento à Comissão da Verdade que não lembra o nome do militante assassinado, mas não há notícias de outro “acidente” envolvendo um comunista morto após colisão entre veículos na mesma época relatada por Guerra.
Filha de Glênio Sá, a jornalista e pesquisadora Jana Sá vai reconstituir a morte do pai num documentário a ser lançado após a pandemia.
Além de Jana, o legado de Glênio permanece na luta e defesa pela memória dele em Fátima Sá, Gilson e Beatriz, que nasceu após a morte do avô. Já a trajetória de Alírio teve sequência nas batalhas de Eveline, João Pedro, Manoela e Júlio Borges.
Homenagens
Vários vídeos relembrando a trajetória de Glênio e Alírio serão exibidos durante a transmissão da live neste domingo com depoimentos de familiares, amigos, dirigentes do PCdoB e correligionários. Entre as personalidades que renderam homenagens aos ex-dirigentes comunistas está o ex-deputado federal e ex-presidente do PT José Genoíno, que participou e lutou, ao lado de Glênio Sá, na Guerrilha do Araguaia.