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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Paulo Kliass: Juros ou previdência?

  


O material continua a repetir o mantra tão querido ao povo do financismo: a missão mais nobre para o gestor público é aquela de cortar e cortar despesas. O diagnóstico de nossas dificuldades na área fiscal é encarado como sendo única e exclusivamente um problema de excesso de gastos. Não se cogita que a necessária recuperação da economia deve atuar como um fator de elevação da capacidade de tributação. Assim, com a retomada do crescimento, o Estado pode retomar níveis de arrecadação de receita que sejam capazes de dar conta das reais necessidades das políticas sociais e dos investimentos públicos tão urgentes.

Além de ignorar solenemente a alternativa de recuperação do equilíbrio fiscal pela via do aumento de impostos a curto e médio prazos, a equipe do BM propõe um conjunto de medidas com foco apenas na redução das despesas orçamentárias. Na verdade, como se trata de uma encomenda de uma equipe de governo alinhada com o pensamento da ortodoxia liberal, o pacote de sugestões não oferece nenhuma surpresa para quem acompanha o tom das intervenções do BM pelo mundo afora.

Previdência não é conta “gastadora”

O texto retoma o argumento falacioso a respeito do peso das contas previdenciárias no conjunto do orçamento. Assim, no entender da tecnocracia baseada em Washington, qualquer medida “séria” de contenção fiscal deveria passar pela compressão radical dos gastos com a previdência social. O problema é que o arranjo envolvido no Regime Geral da Previdência Social (RGPS) não se traduz na conta estruturalmente mais deficitária do governo federal. É fato que os gastos são relativamente elevados para dar conta da missão constitucional de apoio à seguridade social. Afinal são mais de 34 milhões de benefícios sob a responsabilidade do RGPS, com todas as consequências em termos de apoio social e de redução das desigualdades socioeconômicas em nosso País. 

Mas o documento do BM se esquiva de mencionar aquela que é, de fato, a conta mais estruturalmente deficitária dos gastos da União. Refiro-me ao total de despesas realizadas com o pagamento de juros e demais serviços da dívida pública. De acordo com as informações constantes na edição mais recente do Boletim de Política Fiscal do Banco Central, os números são impressionantes. Ao longo dos últimos 12 meses foram direcionados R$ 414 bilhões para esse tipo de dispêndio.

E o documento não dedica uma linha sequer a respeito de quais seriam as sugestões do BM para reduzir esse gasto estrondoso, que compromete de forma contundente o nosso equilíbrio fiscal. O fato concreto é que uma parcela expressiva de nosso orçamento é dirigida para a manutenção de um sistema que reproduz e amplia as desigualdades e estimula o parasitismo de um tipo de atividade econômica improdutiva. As preocupações da equipe se resumem a condenar os gastos com saúde, com educação, com assistência social e outros, mas não mencionam medidas para diminuir a despesa que não agrega valor e que não promove a distribuição de renda.

Despesa com juros é privilégio

Os representantes do financismo enchem a boca para nos assustar com os valores do RGPS. É bem verdade que os R$ 554 bilhões alocados ao longo dos últimos 12 meses impressionam. O Boletim Mensal com o resultado da previdência social é bastante elucidativo a esse respeito. No entanto, os defensores do desmonte se esquecem de mencionar que a conta previdenciária tem uma receita arrecadada correspondente. Os trabalhadores e as empresas recolhem a contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento, de maneira que as necessidades de financiamento do regime previdenciário dependem, basicamente, do nível de emprego e da formalização dos contratos de trabalho.

Já a conta de juros, ao contrário, é absolutamente gastadora. Não existe nenhuma receita vinculada a esse tipo de atividade. Trata-se de um ralo de desperdício de recursos públicos, por onde chegou a ser drenado mais de meio trilhão de reais das contas do governo federal em 2015. A respeito disso, o documento do BM nos oferece um vergonhoso silêncio.

Além disso, há que se chamar a atenção para a diferença entre os efeitos multiplicadores dos dois tipos de despesa. O pagamento de benefícios previdenciários se dirige às parcelas mais pobres da população brasileira, aquelas que apresentam o recebimento de valores mais baixos em sua renda mensal. Para se ter uma ideia, 68% dos benefícios do INSS são iguais ou inferiores a um salário mínimo. Caso se incluam os benefícios até 2 salários mínimos, esse percentual sobe a 84%. Ou seja, ao contrário do que afirma o documento do BM, não estamos tratando de privilegiados. Aliás, muito pelo contrário!

Essas camadas da população, por outro lado, acabam sendo ainda mais penalizadas pela regressividade de nossa estrutura tributária. Isso significa que as faixas de renda mais baixa contribuem muito mais que proporcionalmente para arrecadação de impostos, quando comparadas aos estratos de renda mais alta. Assim, de cada real que o governo destina ao pagamento de benefícios do RGPS, quase R$ 0,50 retorna aos cofres públicos sob a forma de impostos (federais, estaduais e municipais).

Ajuste injusto do BM

Já quando se analisa o gasto com juros, a situação é diametralmente oposta. As camadas do topo da pirâmide são as que mais se beneficiam desse tipo de despesa da União e conseguem organizar suas finanças de modo a não pagar os impostos que seriam socialmente justos. Sob o pomposo título de “planejamento tributário”, essa prática análoga à sonegação aprofunda ainda mais o quadro das desigualdades.

As sugestões do “Ajuste justo” são vergonhosas. Ao invés de esclarecer o público a respeito das reais causas de nosso desequilíbrio fiscal, o documento se contenta em sugerir os cortes generalizados nas rubricas de natureza social. O BM não apresenta nenhuma alternativa de arrecadação para elevar as receitas e não menciona a possibilidade de se reduzir a conta mais gastadora de todas - as despesas com juros.

Entre juros e previdência, o BM fez sua escolha. Assim como toda nossa elite financista e os colunistas de economia dos grandes meios de comunicação. A prioridade, no entender dos tecnocratas, é manter intacta a estrutura do modelo concentrador de renda. Assim, oferecer uma aposentadoria mensal de um salário mínimo a um trabalhador que passou sua vida labutando em atividades rurais é um privilégio. Por outro lado, partilhar as várias centenas de bilhões de pagamento de juros entre uns poucos do segmento do topo da pirâmide é ser eficiente na condução da política fiscal.

* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal

Planalto desmente Jucá e diz esperar votação da Previdência esse ano

 
foto: Marcos Corrêa/PR


A expectativa do governo era votar o texto até o dia 19 de dezembro, mas por falta de apoio a data ainda não havia sido confirmada pelo presidente da Câmara, que já afirmou que só colocará o texto em votação se “for para ganhar”.

Desde o ruído na comunicação governistas, líderes da Oposição começaram a cobrar uma definição de Maia sobre a data de votação. 

Leia abaixo a íntegra da nota do Planalto:

Nota à imprensa
13/12/2017 - 19h

Após passar por procedimento cirúrgico em São Paulo na tarde de hoje, o presidente Michel Temer retornará a Brasília nesta quinta-feira (14), com liberação da equipe médica que o acompanha.

Ele espera ainda para amanhã a leitura da emenda aglutinativa do deputado Arthur Maia sobre a reforma da Previdência.

Somente depois disso, o presidente discutirá com os presidentes do Senado Federal, Eunício Oliveira, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a data de votação da proposta.

Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República



Do Portal Vermelho

Previdência: Jucá aperta botão do pânico e não avisa governo

 
Foto: reprodução internet 


A afirmação de Jucá, braço direito de Temer no Congresso, aumentou o desgaste e evidenciou a fraqueza do governo em aprovar a pauta. O Planalto tentou apagar o incêndio com uma nota afirmando que Temer ainda não definiu a data de votação e só o fará após conversar com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).

Nos bastidores, o governo já dava como certa a impossibilidade de votar na próxima semana a reforma, mas queria segurar o anúncio oficial para evitar o esvaziamento do debate sobre o relatório e não dar margem para os indecisos saírem da negociação. 

O governo esperava angariar os votos necessários para pautar a matéria ainda na próxima semana. No entanto, com a ausência de votos, o líder do governo recuou, indicando um enfraquecimento do seu poder de barganha.

Para o líder da Minoria, José Guimarães (PT-CE), o anúncio foi uma derrota importante do governo. “Nós sempre falamos que eles não tinham os votos. O governo deveria ter humildade e admitir isso. Mas quem ganha é o Brasil, pois nós estamos às vésperas de um ano eleitoral e quem tem que reformar o país é um novo presidente, eleito pelo povo”, disse.

Segundo o senador, a decisão foi tomada após acordo entre os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o governo federal. Na terça-feira (12), Michel Temer também já havia admitido a votação em 2018, apesar de querer “resolver isso logo”.

Apesar disso, após o anúncio do líder do governo no Senado, Maia declarou nada saber sobre o tal acordo. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também declarou a jornalistas que o governo ainda pretende votar na próxima semana que Jucá estaria apenas “expressando sua opinião”. O que vai ficando claro é que há uma confusão instalada no ninho governista, o que pode contribuir para o enterro definitivo da proposta. 

Para o líder do PSol na Câmara, Glauber Braga (RJ), Maia deveria dar uma definição sobre o tema, uma vez que a Casa tem agricultores em greve de fome há quase nove dias. “Se existe esta definição é uma irresponsabilidade não declarar a não votação da reforma da Previdência. Estamos todos aguardando essa definição. Tem pessoas passando fome, botando sua vida em risco por conta dessa proposta. Repito, é uma irresponsabilidade não falar nada”, cobrou Glauber Braga.

Busca de apoio caiu por terra

Nas últimas semanas, o governo vinha intensificando suas estratégias para virar votos. Jantares com parlamentares, liberação de verba, negociação de cargos e conversas com o empresariado fizeram parte do jogo de Temer, mas não surtiu efeito. Com uma base desgastada depois de livrar o peemedebista de duas denúncias, Temer deve continuar enfrentando dificuldades para enfrentar a matéria no próximo ano.

Por se tratar de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), o texto precisa do apoio de pelo menos 308 deputados em dois turnos de votação. Depois, segue para a análise do Senado, também em dois turnos.


Do Portal Vermelho