ELEIÇÕES 2022: MOVIMENTO 65

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sábado, 7 de outubro de 2017

Che, o ícone que vai de pensador à revolucionário

 
CHE 


Quando conheceu a luta social e o comunismo, na sua longa viagem pela América Latina, identificou-se totalmente com a causa. 

Che escreveu dois diários publicados, um sobre sua jornada de Buenos Aires até Caracas de moto, quando ainda era jovem, e outra sobre a guerrilha na Bolívia, onde veio a falecer. Escreveu “Paisages de la Guerra Revolucionaria” e também um livro sobre o pensamento socialista em Cuba, onde faz reflexões sobre o marxismo e sua adaptação à economia. Foi fotógrafo, cobrindo os jogos pan-americanos de 1953 no México. 

Quando assumiu como ministro da economia, fazia aulas de matemática para resolver as coisas de forma prática. Estudou metalurgia, mineração e química. Era um idealista, mas era essencial para ele achar meios de pôr em prática o socialismo, quebrando com o modo de produção capitalista e melhorando a vida em Cuba: “como imprimir a dinâmica revolucionária nas estruturas do Estado? ”. Foi pesquisador assíduo do marxismo, sem deixar de fazer suas críticas; a teoria deveria ser colocada em prática nas formas latino-americanas, considerando as peculiaridades próprias do continente. Como disse Fidel, a Revolução foi fruto de cem anos de história de um povo, que vinha desde a luta contra a escravidão. 

Fazia suas próprias reflexões sobre o comunismo. Criticou o socialismo soviético, que fixou preços e criou estímulos comerciais para motivar as pessoas; segundo ele, os soviéticos estavam criando uma mentalidade capitalista. 

Escreveu “O Socialismo e o homem em Cuba”, onde, segundo o educador cubano Alcides Carrazana, reflete sobre a ausência, na etapa de transição em que se encontravam, de uma educação para o trabalho social e a adequada distribuição de riquezas para todos, alertando que “com a vontade de fazer sempre o melhor, mas ainda sem todas as ferramentas e condições necessárias, corre-se o risco de cair na tentação dos caminhos desgastados do interesse material”. 

Segundo Michael Löwy, formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “O Pensamento de Che”, em entrevista para a revista Caros Amigos, disse que “Ernesto Guevara é um dos pensadores marxistas mais criativos e importantes da América Latina. Sua reflexão sobre a revolução latino-americana (...) incluiu uma crítica do papel submisso da burguesia local, uma revalorização do papel revolucionário dos camponeses e uma perspectiva socialista” tudo isso em ruptura com o marxismo-leninismo de corte stalinista. Löwy ainda lembra que Che sempre defendeu a importância da arte para a expressão social. Em “O Socialismo e o Homem em Cuba”, o revolucionário critica abertamente as tentativas soviéticas de impor uma doutrina artística. 

As palavras e a luta de Che continuam atuais. Por exemplo, na luta pelas cotas nas universidades, aprovadas na USP apenas esse ano; na exigência por uma universidade mais democrática e plural. Em um de seus discursos sobre a educação, Che proferiu: “que a universidade se pinte de negro, de mulato, não só entre os alunos, mas também entre os professores, que se pinte de camponês, que se pinte de povo, porque a universidade não é o patrimônio de nada e pertence apenas ao povo”.

O ícone

Quando Che foi capturado na Bolívia, estava sujo e com as roupas completamente desgastas e rasgadas. Em entrevista para a jornalista Maíra Streit, da Caros Amigos, uma enfermeira boliviana responsável por limpar o corpo de Che- já sem vida- conta que, devido a sua semelhança com Jesus Cristo (talvez pelos cabelos e pela barba comprida), até hoje fazem missas para Che no pequeno povoado boliviano onde foi assassinado, acreditando que ele operaria milagres. 

Em La Higuera, há um busto de Che, no qual lê-se “o seu exemplo brilha um novo amanhecer”. Até hoje, inspira milhares de jovens que também defendem que todos os homens e mulheres devem ser iguais. Jean-Paul Sartre, filósofo francês, alguns dias após a morte de Guevara disse: “Che é o maior ser humano de nossa era”. 

Löwy, na mesma entrevista para a Caros Amigos, compara-o com Dom Quixote, personagem idealista que busca combater as injustiças, e que acaba sendo derrotado.

Che passou, através de sua luta e seus princípios, um profundo sentido de humanismo. Sonhador, tornou-se símbolo de toda uma geração. Era contra o sistema, pegou em armas, leu e escreveu poesia e economia política. O jornalista José Eduardo Bernardes, em reportagem sobre como Che se tronou um ícone difundido em todo lugar pela foto de Korda, diz que “a imagem mítica, símbolo de toda uma geração de contracultura espalhada pelo mundo e também do projeto revolucionário cubano”. Ainda na reportagem José Bernardes, ele cita a fala do fotógrafo brasileiro Mauricio Lima, vencedor do Pulitzer 2016, para explicar o porquê de, para os grupos artísticos de contracultura, a imagem de Che se tornou o parâmetro de como agir e se posicionar em uma realidade essencialmente capitalista: “o poder da imagem está no valor que a pessoa fotografada representa, aliado à plataforma de difusão dessa imagem e, claro, os interesses da época”. 

Apesar disso, a lógica do mercado se apropriou da imagem do guerrilheiro com a única intenção de gerar lucro, muitas vezes esvaziando o seu real significado. É um debate. Claudia Furiatti, na sua biografia “Fidel Castro- uma biografia consentida”, diz que “Che era movido por conhecimento, experiência, entrega e martírio, com poesia e humor. Os que o assassinaram se encarregaram de eterniza-lo. O tiro saiu pela culatra de certa forma”. E Löwy completa: “há a criação de uma imagem concreta que age sobre o povo para que ele se insurja e organize sua vontade coletiva”. 

Contudo, como bem disse a jornalista Monica Rivero, “um novo discurso deve nascer. Será guevarista na medida em que seja rebelde. Ser como Che, supõe não o repetir em nenhum lema”. E esse discurso, essa luta, torna-se extremamente necessária no contexto atual, dominado pelo neoliberalismo e pelo imperialismo. Para Micheal Löwy, contudo, a resposta não estará em ícones, mas na organização de base: trabalhadores, juventude, mulheres, indígenas, negros e de todos os explorados e oprimidos. E reitera: “se as lutas de resistência se desenvolverem, com uma dinâmica subversiva, novos ‘ícones’ aparecerão- e serão provavelmente mulheres”. 

As homenagens 

“Ser essencialmente humano, ser tão humano que nos aproxime do melhor do que o ser humano possa ser, purificar o melhor do homem por meio do trabalho, do estudo, do exercício da solidariedade continuada com o povo e com todos os povos do mundo (...) desenvolver a sensibilidade ao máximo. Sentir-se angustiado quando se assassina um homem em qualquer parte do mundo ou sentir-se entusiasmado quando em algum rincão do planeta se levanta uma nova bandeira de liberdade” e por fim: deixa-me dizer-lhe, com risco de parecer ridículo, que o revolucionário verdadeiro é guiado por grandes sentimentos de amor. É impossível pensar em um revolucionário autêntico sem esta qualidade”. 

Difícil não se deixar levar pela emoção de mudar o mundo com os discursos de Guevara. Suas palavras não inspiraram apenas luta, mas também arte. O Portal Vermelho traz algumas dessas homenagens. 

Em 1968, Caetano Veloso compõe “Soy loco por ti américa”, homenageando na letra Che, que acabara de morrer. Em certa ocasião o artista revelou: “Pautei a canção, pedindo que Gil e Capinam fizessem uma homenagem a Guevara e que tivesse essa frase, ‘Soy loco por ti America’, que, aliás, vim a saber que é errada em espanhol. Quando Célia Cruz foi gravar essa música, na verdade, inicialmente ela se recusou ao saber que era uma homenagem a Che Guevara. Mas, finalmente, quando veio ao Brasil, Célia resolveu gravá-la e mudou para ‘Estoy loco por ti America’. Então, acabamos fazendo uma canção em ‘portunhol’ já na primeira frase, mas, na época, não sabíamos disso. Dei essa frase a Gil e Capinam, pedi que fosse uma homenagem a Guevara e também dei outros palpites na letra. Como na época não podíamos botar o nome dele, já que a Censura iria vetar, usamos a frase ‘el nombre del hombre muerto’. Capinam fez uma coisa maravilhosa a partir de um desejo meu. ”

Julio Cortázar, escritor argentino, escreveu e declamou um poema, intitulado “Yo tuve un Hermano” em homenagem a Che: 



Che

Eu tive um irmão.
Não nos vimos nunca
porém não importava.
Eu tive um irmão
que ia pelos montes
enquanto eu dormia.
Quis-lhe a meu modo, 
tomei-lhe sua voz
livre como a água, 
caminhei às vezes 
próximo de sua sombra.
Não nos vimos nunca 
porém não importava, 
meu irmão acordado 
enquanto eu dormia, 
meu irmão mostrando-me 
por trás da noite 
sua estrela eleita. 

Além de homenagear o revolucionário com longos textos:  


“America te Hablo de Ernesto”, música de Silvio Rodriguez: 

 

E, por fim, Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio, o homenageou com um poema: 

Por que será que o Che
Tem este perigoso costume
De seguir sempre renascendo?
Quanto mais o insultam,
O manipulam
O atraiçoam
Mais ele renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!
Não será por que Che
Dizia o que pensava e fazia o que dizia?
Não será por isso que segue sendo
tão extraordinário,
Num mundo onde palavras
e atos tão raramente se encontram?
E quando se encontram
raramente se saúdam
Por que não se reconhecem?

* estagiária no Portal Vermelho 
Do Portal Vermelho 

Após mobilização social Temer veta censura política na internet

Renata Mielli, jornalista, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e secretária geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
Renata Mielli, jornalista, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e secretária geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé - Foto:  Midia Ninja


Em meio ao turbilhão de acontecimentos e votações, os senadores aprovam na surdina uma emenda da reforma política que permitia a censura prévia na internet. De acordo com o texto, os provedores e sites - como Google, Twitter e Facebook - seriam obrigados a retirar conteúdos que fossem enquadrados como “discurso de ódio, disseminação de informações falsas ou ofensa” sem uma decisão judicial para validar tal determinação. 

A aprovação aconteceu na madrugada desta quinta e gerou enorme mobilização de entidades ligadas à imprensa pelo claro caráter de censura da medida. O texto foi proposto pelo deputado Aureo (SD/RJ).

De acordo com Renata Mielli, jornalista, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e secretária geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, a emenda é absurda porque cria uma regra distinta para o período eleitoral, como se ele fosse um período de exceção e os políticos pudessem ter tratamentos especiais, mesmo diante da lei do Marco Civil da internet que arbitra se o conteúdo viola algum tipo de direito.

“Essa emenda é absurda e mostra que estão criando regras excepcionais para os políticos. Além disso, os provedores não podem julgar se o internauta está cometendo um crime ou um discurso de ódio, pois a avaliação é frágil e genérica. Ela não pode ser tomada baseada apenas com uma notificação do denunciante. Exatamente por isso, o judiciário está encarregado dessa decisão por meio do Marco Civil da Internet.”, explicou em entrevista ao Portal Vermelho

Diante de tal ofensiva, diversas entidades ligadas à imprensa repudiaram a censura. As organizações da sociedade civil que integram a Coalizão Direitos na Rede inclusive lançaram uma carta aberta denunciando a censura contida no projeto de lei. Elas ainda consideraram que tal medida seria uma “afronta a nossas garantias constitucionais de liberdade de expressão e pluralidade política".

A Abraji - organização que reúne jornalistas investigativos no país - considerou a aprovação deste dispositivo uma grave ameaça ao regime democrático.

Mobilização e veto

A repercussão negativa da emenda e a mobilização das entidades fizeram com que o deputado Aureo recuasse e pedisse que Temer vetasse esse trecho da reforma. 

Em meio ao enorme repúdio da sociedade e incisivos protestos, Michel Temer então vetou a proposta no final da manhã desta sexta-feira (06).

Segundo Renata Mielli, essa rápida mobilização foi muito importante para impedir que a medida prosperasse e criasse um ambiente de insegurança para a defesa de liberdade de expressão no país.

“O veto do Temer é uma vitória da mobilização social. Esse veto não significa que Temer defende a liberdade de expressão, foi a sociedade que lutou contra os arbítrios do atual governo, conseguiu se mobilizar e fez uma pressão imensa até que o governo não teve escolha. Caso não vetasse, a mobilização seria muito maior. Ou seja, a mobilização social não deixou escolha e obrigou que o governo vetasse essa medida arbitrária votada pelo congresso”, disse a jornalista.

Ambiente de censura

Desde que Michel Temer assumiu o governo, temos observado uma onda de conservadorismo e censura no país como, por exemplo, as proibições de exposições (caso do Queermuseu e do MAM) até a retirada de imagens que contenham nudez nas redes sociais.

Todas essas situações se tornam cada vez mais comuns e criam um ambiente propício para a instauração da censura - característica de regimes fechados – e até, da sua judicialização. Já é possível observar a restrição e retirada de conteúdos políticos de blogueiros e defensores que não agradam os políticos que estão no poder. 

Hoje o Marco Civil da Internet cumpre o papel de regulador para impedir que os direitos e deveres de usuários e provedores da internet fossem desrespeitados. 

Para a especialista, já estamos em ambiente onde as violações de liberdade de expressão são amplas e, se a medida fosse validada, estaríamos a apenas um passo de fortalecer ainda mais esse ambiente de censura. 

Sobre a emenda

Segundo o texto, a publicação deveria ser suspensa "em no máximo vinte quatro horas" após a denúncia feita por qualquer usuário de internet ou rede social em canais disponibilizados pelo provedor para esse fim. A suspensão deveria ocorrer, segundo, "até que o provedor certifique-se da identificação pessoal do usuário que a publicou, sem fornecimento de qualquer dado do denunciado ao denunciante, salvo por ordem judicial".

Confira abaixo a nota do deputado Aureo pedindo a o veto da emenda:

Nota à imprensa

Com relação à apresentação da emenda que determina a suspensão de publicações anônimas em redes sociais, gostaria de esclarecer que minha intenção foi de impedir que os ataques de perfis falsos de criminosos pudessem prejudicar o resultado das eleições. 

Para isso, propus que as plataformas verificassem se os perfis utilizados para disseminar as informações eram verdadeiros ou eram os chamados “fakes”.  O assunto é tão sério que pessoas inocentes já foram assassinadas por causa de notícias mentirosas que foram espalhadas por todo o Brasil vindas de quem se escondia atrás do anonimato.

A emenda foi apresentada no dia 26 de setembro, ou seja, uma semana antes de ser votada no plenário. Nesse período, nenhuma instituição me procurou para questionar ou debater o conteúdo. Na própria Câmara, também não houve questionamentos. O relator da matéria e praticamente todos os partidos políticos encaminharam favoravelmente à aprovação do texto.

Que fique claro: não defendo e nunca defenderei qualquer tipo de censura. A Constituição resguarda a livre manifestação do pensamento vedado o anonimato e, por essa razão, apresentei a emenda. No entanto, após a aprovação pelo Senado Federal, fui procurado por diversos cidadãos e instituições preocupados com o possível mau uso da proposta para suspender publicações legítimas. Entendo que não podemos correr esse risco.

Por isso, procurei o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para que ele peça o veto do trecho ao presidente da República. A repercussão do caso provou que o assunto precisa ser amplamente discutido e precisamos ouvir melhor os cidadãos para construir um texto que preserve a livre manifestação do pensamento e, ao mesmo tempo, combata os criminosos que circulam nos meios digitais.

Deputado Aureo (Solidariedade-RJ)



*Estagiária no Portal Vermelho

Fundo Público: Senado dá com uma mão e tira com outra



Lorotas de quem deseja a volta do financiamento empresarial, que permite sempre o embolso parcial das doações e é porta-larga para a corrupção. Mas como não poderia deixar de ser, na última hora inventaram um modo de favorecer os candidatos mais ricos, com a supressão, pelo Senado, do artigo que impunha limites ao autofinanciamento. Se o ricaço pode gastar quanto quiser, e geralmente ele é empresário, trata-se de um autofinanciamento empresarial.

Foi o Senado que viabilizou a aprovação do financiamento público de campanhas, aprovando um projeto em tempo recorde depois que a Câmara conseguiu enredar-se num impasse sobre a matéria. Mas foi o Senado que, depois de dar com uma mão, tirou com a outra, ao permitir o autofinanciamento ilimitado.

O fundo público foi criado com o apoio decisivo, pela esquerda, de PT, PC do B e PDT, que sempre defenderam a medida. Na centro-direita, por PMDB, PP, DEM, PTB e PSD, que embora no passado tenham combatido a proposta, depois de caírem no desvão gerado pelas doações privadas, renderam-se à necessidade do fundo público. Os tucanos ficaram no muro. O barulho virá de partidos que votaram contra: Rede, PEN, PSOL, PV, PPS, PHS, PRB, PSB e PR. A lenga-lenga será a de sempre, a de que o dinheiro destinado ao fundo de financiamento eleitoral será tirado de educação, saúde, habitação e outras políticas públicas. Lorota. Primeiro, porque o fundo tem fontes definidas. Seus recursos virão de emendas de bancadas e da compensação às emissoras de radiodifusão pela veiculação do horário eleitoral "gratuito". Depois, porque sempre faltou mesmo dinheiro para educação, saúde e outros serviços, enquanto as empresas despejavam dinheiro em seus candidatos. Eleitos, eles sempre lhes garantiram a obtenção de contratos no Estado, geralmente com um superfaturamento que, aí sim, subtraíam recursos que poderiam ter outra destinação, favorecendo a população. O que esta hipocrisia esconde, na maioria dos casos, é a saudade do contubérnio entre partidos e empresas no financiamento das campanhas.

A outra importante virtude do financiamento público é a democratização do acesso à política, permitindo que pessoas das camadas economicamente mais fracas, sem acesso aos financiadores privados do passado, possam agora disputar mandatos eletivos nos três níveis da representação política. Mas isso foi comprometido pelo Senado com a votação de hoje, ao suprimir a imposição de limite para o auto-financiamento. Com o ricaço agora liberado para fazer campanha milionária, usando recursos próprios ou mesmo doados por debaixo do pano, os candidatos pobres novamente perderão competitividade na disputa.

Certamente algum partido acabará judicializando a questão, restando a hipótese, que acho pouco provável, de restauração do limite pelo TSE ou pelo STF. Estariam literalmente metendo a mão numa lei aprovada pelo Congresso.

Aqui não bananão é assim. Quando pensamos que houve um passo à frente, descobrimos que houve um para trás. 


*Tereza Cruvinel é jornalista e colunista do Brasil 247

Senado diz ao STF que afastamento de mandato é inconstitucional

 
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
O Senado enviou hoje (6) ao Supremo Tribunal Federal (STF) parecer no qual sustenta que parlamentares não podem ser afastados do mandato por decisão judicial. A manifestação foi feita para subsidiar o julgamento previsto para a semana que vem, no qual a Corte julgará a necessidade ou não de aval do Legislativo para que o Judiciário possa aplicar medidas cautelares contra parlamentares.


O julgamento será decisivo na revisão de decisão da Primeira Turma que afastou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) do mandato e determinou seu recolhimento à noite.

De acordo com a advocacia do Senado, a Constituição não autoriza o afastamento ou a suspensão do mandato de um parlamentar. Além disso, segundo a Casa, todas as medidas cautelares penais direcionadas a parlamentares são inconstitucionais.

“A previsão constitucional da imunidade processual parlamentar é garantia indispensável ao livre e pleno desempenho da atividade parlamentar, vinculada ao cargo ocupado e não à pessoa do parlamentar”, diz o parecer.

Na próxima quarta-feira (11), o Supremo deve julgar uma ação direta de inconstitucionalidade protocolada pelo PP e pelo PSC para que a Corte declare que todas as medidas cautelares diversas da prisão previstas no Código de Processo Penal (CPP) precisam ser referendadas em 24 horas pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado quando forem direcionadas a parlamentares.

No dia 26 de setembro, a Primeira Turma do Supremo decidiu, por 3 votos a 2, afastar o senador Aécio Neves do exercício de seu mandato e atendeu pedido de medida cautelar solicitada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no inquérito em que o parlamentar foi denunciado por corrupção passiva e obstrução de Justiça, com base nas delações premiadas da empresa JBS.


Fonte: Agência Brasil