O funeral midiático de Teori Savaski
tem servido não só para render homenagens em alguns casos sinceras ao
ex-ministro, mas fundamentalmente para dar sinais claros que a pizza do que
resta da Lava Jato será servida sobre o corpo ainda quente do antigo relator do
caso.
Não interessa mais a ninguém, em
especial a Globo, que a operação continue arrastando para a cadeia a elite
nacional e ao mesmo tempo acabe com o PSDB.
Mesmo que isso custe não prender
Lula, que começa a se tornar a hipótese mais plausível, mas apenas deixá-lo
inelegível.
As delações da Odebrechet, Camargo
Correia e quetais esquentaram demais o jogo e avançaram para o terreno da
imprevisibilidade total.
Há esquemas tucanos aos montes nessas
delações e por um bom tempo havia uma clara orientação de Marcelo Odebrechet de
também tratar do esquema de propinas da mídia. No MP, havia rejeição a inclusão
deste capítulo.
O esquema de propinas com as vestais
da mídia funcionava assim. A empreiteira fazia uma grande obra. A titulo de
exemplo, o Rodoanel. E o governador ficava com um caixa para operar. O dinheiro
não precisava ser depositado na conta de um laranja, de um cunhado ou seja lá
quem fosse. De repente um assessor de confiança deste político ou o próprio
ligava para o responsável pelo caixa e dizia: faz um negócio lá com o jornalão
dos fulano.
E esse dinheiro era debitado da
conta.
Como a Odebrechet fazia para
legalizar a propina é que o pulo do gato. Ela publicava imensos cadernos
falando de sustentabilidade e coisas do gênero. E ainda dava um jeito de
elogiar o governo do pagador da propina.
Marcelo Odebrechet tinha mandado que
na delação esse esquema fosse revelado com todas as provas. E elas eram muito
claras de que não se tratava de uma operação comercial padrão.
Quando a mídia, em especial a Globo,
viu que a lama da Lava Jato poderia atingi-la e que já partia para cima de
setores como o dos frigoríficos e dos bancos, passou-se a avaliar formas de
como iniciar o fim da operação.
O leitor mais curioso deve estar se
perguntando, então foi por isso que mataram o Teori?
Por mais que a morte do ex-ministro
seja absolutamente vantajosa para que essa estratégia seja bem sucedida, um
jornalista com um pingo de seriedade não arriscaria falar isso sem provas para
além de uma conversa na mesa de um bar.
Mas é óbvio que a morte de Teori
ajuda em muito no enterro da Lava Jato e que a Globo já está operando neste
sentido.
Por exemplo, a declaração do ministro
Marco Aurélio Mello sugerindo o nome de Alexandre de Morais para o STF não
causou espasmos dos comentadores da GloboNews e nem nos bate-paus da mídia
tradicional. Foi tratada com naturalidade como se natural fosse para um momento
desses o ministro do presidente investigado na operação ser indicado para a
vaga de relator do caso.
Alem disso, Morais não tem nenhuma
das qualidades que se espera para o cargo. Muito pelo contrário, tem um
currículo marcado por denúncias, entre elas a proximidade como advogado com
cooperativas que seriam ligadas ao PCC.
É também na gestão dele no
ministério da Justiça que o Brasil vive a maior crise do seu sistema prisional.
Mas Morais tem uma qualidade de
poucos. É corajoso e não dá bola para a torcida. Se tiver que fazer algo, não
se emociona com as críticas.
E é de alguém assim que o atual
governo e a mídia precisam para cuidar do enterro da operação que serviu para
dar o golpe em Dilma e tornar o PT um partido em frangalhos, que de tão perdido
que está decidiu ontem que se permitirá apoiar golpistas na eleição da Câmara e
do Senado.
Morais não seria doido de enterrar a
Lava Jato na primeira curva, mas cuidaria para que houvesse tempo para a
construção de alguns acordos. E quem os conduziria seria quem tem poder hoje no
país, a família Marinho. Que é quem pode dizer a Moro e aos procuradores que o
momento é de baixar a bola.
A delação da Odebrechet e da Camargo
Correia ficariam um pouco no forno. E quando viessem a público teriam
tratamento frio. Sem grandes alardes para que a investigação e os processos
também fossem sendo tratados em banho maria.
E ainda restariam trunfos para 2018,
quando, no momento eleitoral, partes da denúncia poderiam ser seletivamente
usadas.
Evidente que esse roteiro pode ser
dinamitado pela realidade. Mas ele já vem sendo claramente construído na
narrativa do velório de Teori. É só prestar atenção nas frases de ministros de
Temer, nas análises de jornalistas que falam pelos patrões, nas caras sérias de
tucanos a avaliar o momento.
E se a morte de Teori foi ou não
encomendada isso também já não interessa tanto. Interessa dizer que ele foi um
grande homem, que era sério, bom amigo etc e tal. E ao mesmo tempo aproveitar
essa oportunidade para ir colocando o barco no rumo menos arriscado. Até porque
o barco da Lava Jato já foi longe demais para muita gente que achava que não
corria o risco de ser abarroado por ele.
Fonte: Blog do Rovai (Por Renato Rovai)