ELEIÇÕES 2022: MOVIMENTO 65

ELEIÇÕES 2022: MOVIMENTO 65
CAMPANHA MOVIMENTO 65

domingo, 11 de junho de 2017

Mesmo moribundo, Temer prepara jogo nebuloso para continuar no governo


Mas em se tratando do atual Congresso, tudo é possível. Enquanto os meios de comunicação conservadores se ocupavam horas e horas do julgamento no TSE, o Senador Aécio Neves, do PSDB, conseguia com seus pares que o atual presidente da Comissão de Ética daquela Casa Legislativa, João Alberto Souza (PMDB-MA), abrisse o jogo e se manifestasse afirmando que “eu sinto que o Senado não concorda com o afastamento do senador”. E complementou dizendo que “os senadores questionam por que afastar e por qual argumento?”.

Com essas palavras, o presidente da Comissão de Ética do Senado sinalizou que Aécio Neves, por mais que seja acusado, mesmo com provas, será poupado por seus pares.

Não será propriamente nenhuma surpresa. Basta um levantamento sobre os senadores para verificar que pelo menos um terço está sendo investigado na Justiça,, acusado de corrupção, para concluir que até por uma questão de ética, ética entre eles, claro, jamais adotariam alguma medida contra alguém prestes a virar réu. É a chamada solidariedade geral e irrestrita, pois amanhã os próprios acusados de hoje podem virar réus e até perder o mandato e precisar de um acusado, como o atual Aécio Neves.

Quanto a Temer, se continua ou não, os fatos estão a indicar que a sua situação caminha cada vez mais para a condição de moribundo. O episódio da utilização do jato da JBS tem mais agravante a partir da declaração do piloto, que confirmou a gentileza da entrega das flores para Marcela, a recatada e do lar esposa de Michel Temer.

Como confirmação de como funciona a base de sustentação do golpista, basta mencionar a opinião do apoiador Senador Romero Jucá, também ex-ministro deste presidente moribundo. Jucá considerou normal o então vice-presidente pegar carona em avião de empresário.

É preciso dizer mais alguma coisa para concluir como vai o Brasil com Temer e o atual Congresso, também apoiado pelos irmãos Batista e outros do mesmo estilo?


Brasil de Fato

Haroldo Lima: O que houve no TSE

 
 Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE


No mesmo diapasão crítico, pela manhã, antevendo o resultado que não desejava no julgamento do TSE, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, dos mais vorazes de Curitiba, no seu estilo agressivo e desrespeitoso dizia “ o verdadeiro cúmulo do cinismo é a cegueira intencional da maioria dos ministros do TSE...” (Blog Fausto Macedo).

Realmente, o resultado do julgamento do TSE foi uma derrota para a república de Curitiba. Membros do Tribunal Superior Eleitoral, especialmente seu presidente, o controvertido Juiz Gilmar Mendes, que também é do Supremo Tribunal Federal, STF, fizeram críticas contundentes a métodos arbitrários da Lava Jato e deram elementos jurídicos que mostravam o golpe que foi dado contra Dilma Rousseff. 

O processo no TSE foi aberto pelo PSDB em 2014 e pedia a cassação da chapa Dilma/Temer vitoriosa na eleição daquele ano. Seu mentor foi Aécio Neves, principal concorrente de Dilma na eleição de 2014, e que sustentava ter sido derrotado por causa do uso de poder econômico e político pela chapa Dilma/Temer. Se seu pleito prosperasse, ficaria assentado que a chapa Dilma/Temer ganhou a eleição por abuso de poder econômico e político, seria então cassada e em seu lugar haveria a proclamação de Aécio como vencedor do pleito e presidente da República. Mas tudo saiu diferente. 

Um golpe parlamentar-judicial-midiático foi dado contra Dilma, Temer traiu a presidenta e esta foi afastada. O golpista então assumiu a presidência com o compromisso de levar avante um governo de desconstrução nacional. Foi flagrado em manobras espúrias de corrupção aberta e apanhado em conciliábulos vergonhosos com corruptos, tramando obstruir a Justiça. Ficou desmoralizado, rejeitado pelo povo e com seu mandato ameaçado. Para sobreviver, assumiu com a direita brasileira o compromisso de comandar a aprovação de duas reformas reacionárias no Congresso, a trabalhista e a previdenciária.

Quando emitiram seus votos, os ministros do TSE apresentaram suas justificativas. E aí alguns fizeram formulações categóricas que permitiam, a quem estivesse ouvindo, perceber o golpe que foi dado contra Dilma em 2016 e, por outro lado, como eram atrabiliários certos métodos usados pela Lava Jato. 

O presidente do STE, ministro Gilmar Mendes, declarou: “não se substitui um presidente da República a qualquer hora, ainda que se queira”. E mais: só se tira presidente em casos absolutamente claros e extremos, “em situações inequívocas”. Agregou: é evidente a baderna que foi a circulação de dinheiro de caixa 2, 3, propina etc. na eleição de 2014, mas - perguntava Gilmar - “foi só um lado que fez isso?”. Ele próprio respondeu: não, os outros candidatos também fizeram. E completava: não se pode concluir até que ponto esses ilícitos repercutiram na eleição e, sobretudo, a soberania popular não pode ser desrespeitada, cassando mandato de presidente assim, por qualquer motivo; se crime houve que se julguem as pessoas envolvidas e se as condenem, mas não cassando o mandato do presidente. 

Na verdade, esse raciocínio é correto. As fartas provas levantadas pelo ministro Relator Herman Benjamin mostravam que houve sim utilização indevida de recursos na campanha de 2014, mas isto foi feito por todos os candidatos, e isto se faz há muito tempo no Brasil, como o Relator salientou. Então, como se pode concluir que foram aqueles recursos indevidos que levaram à vitória eleitoral de uma chapa? Por que os concorrentes não foram vitoriosos se fizeram a mesma coisa? 

Entendendo como justo esse cuidado em não cassar mandato de presidente de qualquer maneira, ainda que tenha havido problemas, há que se criticar com força o fato de que, quando foi cassado o mandato de Dilma Rousseff, nem os Juízes da Suprema Corte, nem os Parlamentares tiveram esse cuidado, afastando a presidenta por uma razão mentirosa, que sequer foi provada, a chamada pedalada fiscal. Nesse caso, essas autoridades optaram por montar uma farsa e participar de um golpe. Golpe este que mergulhou nosso país em grandes dificuldades, especialmente por estar sendo governado por uma quadrilha.

O presidente Gilmar Mendes, que não tem um passado de coerente defesa democrática, ontem, entretanto, chegou a dizer que vivemos sob o risco de um “estado policial”. Falando sobre as delações premiadas, tão abusivamente usadas pela Operação Lava Jato, disse: estamos sabendo de que forma são feitas essas delações; chega-se diante de um preso e diz-se: aceitamos sua delação desde que você diga algo sobre as pessoas desta lista aqui, e exibem uma lista com nomes. Acrescentou Gilmar: o sujeito, assim, é “capaz de denunciar a mãe”. E neste contexto afirmou o ministro: “não se combate crime cometendo crime”, em clara referência aos métodos criminosos da Operação Lava Jato.

Também o ministro Napoleão Maia Filho foi duro ao se referir à “cobertura falsa” de certos fatos pela grande mídia e ao tecer comentários sobre a delação premiada. Disse: “A delação está servindo para isso”. Alguém é “solicitado a denunciar alguém em troca de benesses”, e é o que está acontecendo. 
A república de Curitiba saiu enfraquecida do julgamento de ontem no TSE. Nele, percebe-se o crescimento de contradições no Judiciário. Mas, os desafios estão postos, a luta continua e é complexa. As batalhas são intrincadas e embaralhadas.

O Temer continua desmoralizado e ameaçado por diversas outros expedientes em curso. Mas deve ser derrotado mesmo é nas ruas. 

Do Palácio do Planalto, logo após o encerramento do julgamento do TSE, veio a informação de que terão que correr atrás para recompor forças no Congresso para aprovar as fatídicas reformas trabalhista e previdenciária. 

O que mostra que a nossa luta é justamente a oposta; arregimentar forças populares e parlamentares para derrotar as duas reformas sinistras do governo golpista. 

Haroldo Lima é membro da Comissão Política do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.

Bresser-Pereira: "Situação de Temer na presidência é insustentável"


O economista de 83 anos, auto declarado social democrata, falou com exclusividade ao Jornal do Brasil nesta sexta-feira (9), antes da conclusão da votação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da chapa Dilma-Temer.

Bresser foi ministro por três vezes, duas durante o governo Fernando Henrique Cardoso, no qual ocupou o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (1995-1998) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (1999). Foi ainda ministro da Fazenda (1987), durante o governo Sarney, no qual implementou o Plano Bresser. O economista presidiu o Banco do Estado de São Paulo e foi secretário da Casa Civil, durante o governo de André Franco Montoro.

Advogado, economista, professor emérito da FGV-SP e livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), Bresser-Pereira foi um dos fundadores do PSDB, em 1988. Desligou-se da legenda em 2011, e hoje, defende que o "PSDB virou um partido de centro-direita liberal". "Portanto, eu não tenho nenhuma identificação com o partido", acrescentou. 

Jornal do Brasil - Diante da crise, os tucanos devem desembarcar do governo Temer?

Bresser-Pereira - Não pertenço mais ao PSDB. Fui fundador do partido, mas há muito tempo que eu saí. O PSDB virou um partido de centro-direita liberal. Portanto, eu não tenho nenhuma identificação com o partido. Isso é um problema deles, e dos seus eleitores. É um partido que participou do golpe de estado contra a presidente Dilma Roussef (PT).

Como o senhor vê a permanência de Michel Temer na presidência, após as acusações contra ele?

Não é sustentável. O escândalo que ele entrou foi muito grande, não há dúvida do envolvimento dele com corrupção. Não só por causa das delações, mas porque ele confessou duas vezes: primeiro, a conversa que ele teve com o Joesley Batista, e segundo, quando o assessor dele foi preso, Rodrigo Rocha Loures, e ele o defendeu dizendo que era de boa índole e não ia delatá-lo. Quando ele diz isso, ele se entrega. Manter um presidente nessas condições é uma violência contra a nação. Tem padrões mínimos que temos que exigir dos nossos governantes. Eu tinha uma impressão boa do Temer durante anos, e fui obrigado a mudar de ideia.

Com a fragilidade política de Temer, qual a possibilidade dele aprovar as reformas?

Já foi feita uma reforma que a meu ver é absurda, que é a do Teto de Gastos. Ela não vai se sustentar. Foi uma estratégia de um grupo de oportunistas guiados pelo Temer e pelo [ministro da Fazenda, Henrique] Meirelles, para conseguir o apoio da direita liberal, ou seja, do PSDB. Diminuir o tamanho do estado, quando há uma demanda enorme por despesas na área de saúde e educação, é um absurdo. A reforma da Previdência é necessária e inevitável. Creio que não vai acontecer agora, mas qualquer um que assuma a presidência precisa fazer. Há muitas outras questões, mas essa é uma delas. Quanto à reforma trabalhista, não faz sentido nenhum. Os problemas do Brasil não derivam das leis que protegem o trabalho, derivam do liberalismo econômico, que resultou em taxas de juros extremamente altas. O Brasil é governado por esse regime desde 1990, com uma pequena tentativa de fugir em 2011, com Dilma, porém fracassada. Esse regime inviabiliza o desenvolvimento econômico brasileiro e o condena a ficar para trás.

Qual é a real possibilidade de o presidente Michel Temer tirar o Brasil da crise, com essa fragilidade política?

Nenhuma possibilidade. Ele é a crise, inclusive. O Brasil está em uma recessão profunda, e isso nos últimos já quase três anos, e semi estagnado desde 1990. E tudo isso tem a ver com o regime de política liberal. Então os liberais e os políticos inventaram a seguinte história: se forem aprovadas as reformas, nós ficaremos nos melhores dos mundos possíveis, e isso é ridículo. O que eles querem é que haja um ajuste fiscal - o desajuste que a Dilma causou é ruim, e é preciso corrigir – mas simplesmente isso não garante a retomada do crescimento econômico. Durante 11 anos, de 1999 a 2010, ou seja, o segundo governo do FHC e os dois do Lula, cumpriram as metas fiscais, e nós entramos no melhor dos mundos possíveis?

O senhor não vê diferenças entre os governos de Lula e FHC?

O governo Lula era mais social do que o de FHC. A grande diferença dos governos é que o Lula teve uma política externa muito mais independente e teve, portanto, uma decisão mais nacionalista, o que o FHC não tinha. Naquela época, o governo FHC ajudou a montar o estado de bem estar social, e agora o partido dele está tentando destruir isso.

Se Temer cair, o senhor defende eleições diretas ou indiretas?

Ele não vai cair. Mas se fosse, eu defenderia eleições indiretas caso houvesse um acordo, sugerido há algumas semanas, entre o PSDB e o PT, onde FHC e Lula acordaram que o novo presidente não tocaria as reformas, ou seja, seria um governo neutro para comandar as eleições do ano que vem, que estão próximas. Mas esse tipo de acordo não prosperou. Então não acontecendo, o governo que ficar aí substituindo Temer vai ser tão ilegítimo quanto esse. Nesse caso, eu prefiro eleição direta. Agora, o ideal seriam eleições diretas agora, antecipando as eleições gerais que ocorreriam no ano que vem.

Como o senhor analisa a troca do procurador-geral da República e a mudança no comando do Ministério da Justiça? Como isso pode afetar a Lava Jato?

A Lava Jato hoje não é um ativo do Brasil, é um passivo. Ela foi um ativo quando ela descobriu, julgou e condenou uma série de pessoas obviamente corruptas. Mas, aos poucos, ela foi se tornando um processo de violência contra o direito de pessoas políticas. Esse tipo de salvação moral do Brasil, não é uma salvação, e está violentando os direitos bases das pessoas. Isso é muito grave. Se o presidente continuar, ele tem direito de escolher quem quiser na lista tríplice da procuradoria. É claro que ele vai tentar se defender de todas as maneiras possíveis. 

Fonte: Jornal do Brasil