Por Flavio Lyra
É
notória a perda de eficiência, desde a ótica do conjunto da sociedade,
da forma de organização capitalista no mundo, causada por três ordens de
fatores principais: baixa capacidade de acumulação de capital
produtivo; crescente concentração da renda nas mãos dos mais ricos; e destruição do meio ambiente.
Essa
forma de organização econômica baseada na propriedade privada dos meios
de produção, ou seja, na empresa privada, e na apropriação de parte
crescente dos frutos do processo produtivo pela classe capitalista,
através do lucro e dos ganhos de capital, tem mantido ao longo do tempo
sua aceitação pela classe trabalhadora e pela população em geral por ter
assegurado crescimento econômico, aumento da produtividade do trabalho
e, em alguma medida, melhoria das condições gerais de bem-estar.
As
crises periódicas a que essa forma de organização se acha sujeita,
embora sempre representassem uma ameaça à legitimidade do sistema,
puderam ser suportadas em função das vantagens assinaladas.
A crise econômica iniciada em 2008, nos Estados Unidos, fruto da
exacerbada especulação imobiliária comandada pelos grandes bancos,
intimamente associada à desregulamentação dos mercados financeiros e as
inovações na criação de capital fictício, colocaram em evidência o
caráter autofágico e destrutivo que assumiu o capitalismo em sua fase
atual, na medida em que já não apresenta seus aspectos positivos e faz
avançar, de forma acentuada, os aspectos negativos assinalados.
Nesse
contexto, a forma de organização capitalista, para sua sobrevivência,
tornou-se cada vez mais dependente dos mecanismos estatais de segurança e
do controle privado dos meios de comunicação, mediante os quais a
população é mantida sob coação e sob domínio ideológico.
O
capitalismo brasileiro não foge a essa tendência geral do capitalismo,
embora mantenha suas especificidades vinculadas à condição de país
dependente e em estágio inferior de organização produtiva, que agudizam
os problemas.
Os governos Collor e FHC, ao invés de fortalecerem a
eficiência social de nosso capitalismo, com as políticas neoliberais
adotadas, tornaram o país mais vulnerável e menos capaz de recuperar, ao
menos, o dinamismo econômico já alcançado no passado. Isto, como
consequência da abertura ao capital internacional, da desarticulação do
Estado como investidor na infraestrutura econômica e na indústria —
causada pela privatização dos conglomerados estatais— e do
fortalecimento do sistema financeiro apoiado no processo de crescente
endividamento público.
O processo de desindustrialização que se
acha na raiz da incapacidade do país para resistir ao aprofundamento da
crise internacional nos anos mais recentes deu seus primeiros passos e
aprofundou-se posteriormente com a política econômica de privatização e
liberalização dos mercados frente aos fluxos produtivos e financeiros
durante o governo de FHC, sob a influência do FMI e do Banco Mundial.
A
chegada do PT à presidência, em 2002, com a eleição de Lula, e sua
manutenção nos três períodos governamentais sucessivos, são o reflexo
natural da perda de eficiência social de nosso capitalismo e do
descrédito da população em relação aos governos da elite dirigente
capitalista, que há muito já não respondiam às aspirações da sociedade,
em matéria de crescimento econômico e redução das desigualdades sociais.
Os
governos do PT, aproveitaram o clima favorável no mercado internacional
de bens e de capitais e colocaram em prática uma estratégia de
recuperação do dinamismo econômico, mediante um programa de melhora na
distribuição da renda e de barateamento das importações através da
manutenção do câmbio valorizado. Durante alguns anos, enquanto duraram
os impactos favoráveis da demanda internacional de matérias primas,
produzidos pela expansão da demanda chinesa, os resultados alcançados
foram muito positivos.
Entretanto, os bons resultados conseguidos com a
expansão do consumo, não foram acompanhados pela expansão dos
investimentos produtivos. Não obstante os estímulos propiciados pelo
governo com os financiamentos do BNDES, os incentivos fiscais e o
aumento dos gastos em investimento pela PETROBRAS e outras estatais, não
foi possível aumentar formação de capital produtivo, que se mostrou
aquém do necessário para sustentar o crescimento econômico futuro.
A
elite capitalista do país, não se mostrou à altura do desafio de
expandir a capacidade de produção, preferindo esterilizar sua capacidade
financeira tornando-se crescentemente investidora em títulos da dívida
pública, na desnacionalização das empresas e na transferência de
capitais para paraísos fiscais, sob o comando do oligopólio bancário
privado que domina o país.
A ofensiva que a elite capitalista tem
realizado contra o PT e seus governos, através da grande mídia, de seus
representantes políticos e de setores da burocracia pública (Polícia
Federal e Poder Judiciário), sob o pretexto do combate à corrupção, visa
a impedir que o povo aumente sua participação no Poder e mostre que
seus representantes podem governar o país em benefício da maioria.
Assim
como vem ocorrendo em várias partes do mundo (Grécia, Espanha, Itália,
por exemplo) o capitalismo vem perdendo rapidamente legitimidade, aqui
no Brasil ocorre o mesmo. A elite capitalista já não merece confiança
como condutora da atividade econômica. Por isto, apoia-se cada vez mais
no uso da grande imprensa e em setores da burocracia estatal para
combater os movimentos populares, seus representantes no governo e suas
lideranças em geral, visando a destruir suas imagens junto ao povo.
A
hora é de o povo manter-se unido em torno de suas lideranças e de
fortalecer suas organizações para poder fazer face à ofensiva das forças
representativas das oligarquias que comandam o capitalismo decadente
que impede o desenvolvimento do país e a distribuição de seus frutos à
maioria da população.
A dominação ideológica, especialmente
através dos meios de comunicação de que se vale a classe capitalista
para desorientar e manter desinformada e desunida a classe trabalhadora,
precisa ser combatida e derrotada pelas organizações populares, cujo
maior desafio é constituir seus próprios meios de comunicação e de
formação de opinião e de valores.
C/ JORNAL GGN
Nenhum comentário:
Postar um comentário