A Agência Câmara informa que está em análise na Câmara
dos Deputados o Projeto de Lei do deputado Chico Alencar (Psol-RJ) que altera o
Código Civil para obrigar pessoas jurídicas privadas, como clubes de futebol e
igrejas, a manter registro de suas operações financeiras. Segundo o autor, o
objetivo é combater crimes de lavagem de dinheiro e sonegação de impostos, em
especial nas igrejas. A ideia é evitar que templos de fachada ou igrejas
fantasmas sejam utilizadas como pontos de lavagem de dinheiro e evasão de
divisas. Hoje, essas instituições, que contam com imunidade tributária
garantida pela Constituição, não são fiscalizadas pelo Estado.
A ativa
bancada evangélica na Câmara dos Deputados já ergue a voz contra o Projeto Lei.
Recentemente ela incluiu a isenção de impostos às igrejas na Medida Provisória
(MP) 668 que tratava do aumento dos impostos de importação de alguns produtos.
A maracutaia contou com o apoio do presidente da Casa, o evangélico Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), e beneficia picaretas como o “missionário” R.R. Soares e o
“pastor” Silas Malafia.
Além de
pregar falsidades para iludir inocentes, esses falsos profetas se
especializaram em fazer lobby para apoiar corruptos como Eduardo Cunha e,
assim, ficarem isentos de punição no território brasileiro. Religião é sempre
um assunto polêmico, mas não se pode negar que ela tem sido usada, ao longo da
história, para as mais torpes vigarices políticas. Hoje em dia no Brasil, por
exemplo, é comum ver religiosos pregando a Bíblia e metendo o pau na presidenta
Dilma Rousseff, no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no “petê”, fazendo
da política um palco para suas repugnantes hipocrisias.
Pão que
o Diabo amassou
Por
isso, muitas igrejas são repudiadas pelos que não compactuam com mentiras e
calúnias. E quando surgem casos como esses que tocam nos rios de dinheiro que
emanam dos seus púlpitos, leigos e entendidos de boa-fé não se furtam à
crítica. É o meu caso que, como ateu praticante e protestante, me situo entre
entendidos e leigos. Tenho acompanhado essa matéria tão grave para a nossa
sociedade cá em meu canto, retraído e respeitoso, mas, vendo as barbaridades
que esses profetas do fim dos tempos proferem, me dispo de cerimônias e revisto
de coragem para, também, chegar perto das panelas e mexer o angu.
Confesso
que não li o Projeto de Lei por inteiro. Contudo, vejo a atitude dos “fiéis”,
que têm reagido a ele como se tivessem em mãos o pão que o Diabo amassou:
mordem aos poucos, ora começando por uma ponta, ora por outra, ora arrancando,
com uma dentada, um pedaço do meio. Sempre com a cara de quem comeu e não
gostou. Em tempos passados, esses “fiéis” foram alijados do direito do voto sob
o pretexto de que prestavam obediência cega aos seus líderes e não podiam,
portanto, desfrutar da autonomia de que goza um cidadão.
Essa
premissa vigorou até a Lei Eleitoral pós-Revolução de 1930, seguindo uma
disposição constitucional antiga — a Constituição de 1889, que saiu das
entranhas do Império aliado à Igreja Católica pelas mãos dos positivistas,
separou os xifópagos. Era uma providência preventiva e necessária. Hoje, tal
medida seria uma anomalia, um anacronismo. Mas o voto de cabresto nas igrejas
é, nos dias atuais, mais forte do que nunca.
Respeito
ao próximo
Basta
prestar atenção nos currais de opiniões domesticadas pelas igrejas
fundamentalistas. Essa mentalidade de “cordão sanitário” no plano das ideias
criou entre eles um ambiente de hostilidade ao pensamento democrático e
humanista, que responde a qualquer alternativa de opiniões com provocação,
discriminação e boicote. Quem perde com isso é a democracia, a cidadania;
quanto menos esclarecidas politicamente são as pessoas, menos o poder público
representa a vontade nacional.
Os
rigores da disciplina religiosa fundamentalista são reminiscências da
superstição medieval; o “fiel” é tão amarrado aos ensinamentos místicos quanto
um trabalhador de uma empresa aos códigos do capital. A tirania da fé é tão
maléfica quanto a tirania do dinheiro. A religião, que deveria servir para
humanizar as pessoas, nesses casos serve para esvaziar as almas de conteúdo
humanista. O culto que deveria ser a Deus, com “D” grande, é substituído pelo
culto ao homem, com “h” pequeno.
Felizmente,
não são todas as igrejas que se comportam assim. Distingui-las, contudo, não é
fácil. Uma boa pista é verificar se são mesmo portadoras do que dizem ser a
palavra de Deus, de acordo com os ensinamentos. Se seus seguidores praticam a
fraternidade e respeitam a democracia. Se sim, abramos os braços para eles.
Pode ser que, quem sabe, venha com eles o Deus louvado, traduzido em respeito
ao próximo.
Osvaldo Bertolino
Fonte: contextolivre.org.br
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