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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

As igrejas e a tirania da fé

A Agência Câmara informa que está em análise na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei do deputado Chico Alencar (Psol-RJ) que altera o Código Civil para obrigar pessoas jurídicas privadas, como clubes de futebol e igrejas, a manter registro de suas operações financeiras. Segundo o autor, o objetivo é combater crimes de lavagem de dinheiro e sonegação de impostos, em especial nas igrejas. A ideia é evitar que templos de fachada ou igrejas fantasmas sejam utilizadas como pontos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Hoje, essas instituições, que contam com imunidade tributária garantida pela Constituição, não são fiscalizadas pelo Estado.

A ativa bancada evangélica na Câmara dos Deputados já ergue a voz contra o Projeto Lei. Recentemente ela incluiu a isenção de impostos às igrejas na Medida Provisória (MP) 668 que tratava do aumento dos impostos de importação de alguns produtos. A maracutaia contou com o apoio do presidente da Casa, o evangélico Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e beneficia picaretas como o “missionário” R.R. Soares e o “pastor” Silas Malafia.

Além de pregar falsidades para iludir inocentes, esses falsos profetas se especializaram em fazer lobby para apoiar corruptos como Eduardo Cunha e, assim, ficarem isentos de punição no território brasileiro. Religião é sempre um assunto polêmico, mas não se pode negar que ela tem sido usada, ao longo da história, para as mais torpes vigarices políticas. Hoje em dia no Brasil, por exemplo, é comum ver religiosos pregando a Bíblia e metendo o pau na presidenta Dilma Rousseff, no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no “petê”, fazendo da política um palco para suas repugnantes hipocrisias.

Pão que o Diabo amassou

Por isso, muitas igrejas são repudiadas pelos que não compactuam com mentiras e calúnias. E quando surgem casos como esses que tocam nos rios de dinheiro que emanam dos seus púlpitos, leigos e entendidos de boa-fé não se furtam à crítica. É o meu caso que, como ateu praticante e protestante, me situo entre entendidos e leigos. Tenho acompanhado essa matéria tão grave para a nossa sociedade cá em meu canto, retraído e respeitoso, mas, vendo as barbaridades que esses profetas do fim dos tempos proferem, me dispo de cerimônias e revisto de coragem para, também, chegar perto das panelas e mexer o angu.

Confesso que não li o Projeto de Lei por inteiro. Contudo, vejo a atitude dos “fiéis”, que têm reagido a ele como se tivessem em mãos o pão que o Diabo amassou: mordem aos poucos, ora começando por uma ponta, ora por outra, ora arrancando, com uma dentada, um pedaço do meio. Sempre com a cara de quem comeu e não gostou. Em tempos passados, esses “fiéis” foram alijados do direito do voto sob o pretexto de que prestavam obediência cega aos seus líderes e não podiam, portanto, desfrutar da autonomia de que goza um cidadão.

Essa premissa vigorou até a Lei Eleitoral pós-Revolução de 1930, seguindo uma disposição constitucional antiga — a Constituição de 1889, que saiu das entranhas do Império aliado à Igreja Católica pelas mãos dos positivistas, separou os xifópagos. Era uma providência preventiva e necessária. Hoje, tal medida seria uma anomalia, um anacronismo. Mas o voto de cabresto nas igrejas é, nos dias atuais, mais forte do que nunca.

Respeito ao próximo

Basta prestar atenção nos currais de opiniões domesticadas pelas igrejas fundamentalistas. Essa mentalidade de “cordão sanitário” no plano das ideias criou entre eles um ambiente de hostilidade ao pensamento democrático e humanista, que responde a qualquer alternativa de opiniões com provocação, discriminação e boicote. Quem perde com isso é a democracia, a cidadania; quanto menos esclarecidas politicamente são as pessoas, menos o poder público representa a vontade nacional.

Os rigores da disciplina religiosa fundamentalista são reminiscências da superstição medieval; o “fiel” é tão amarrado aos ensinamentos místicos quanto um trabalhador de uma empresa aos códigos do capital. A tirania da fé é tão maléfica quanto a tirania do dinheiro. A religião, que deveria servir para humanizar as pessoas, nesses casos serve para esvaziar as almas de conteúdo humanista. O culto que deveria ser a Deus, com “D” grande, é substituído pelo culto ao homem, com “h” pequeno.

Felizmente, não são todas as igrejas que se comportam assim. Distingui-las, contudo, não é fácil. Uma boa pista é verificar se são mesmo portadoras do que dizem ser a palavra de Deus, de acordo com os ensinamentos. Se seus seguidores praticam a fraternidade e respeitam a democracia. Se sim, abramos os braços para eles. Pode ser que, quem sabe, venha com eles o Deus louvado, traduzido em respeito ao próximo.


Osvaldo Bertolino
Fonte: contextolivre.org.br

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