
Foto: divulgação
Ao longo da história do Brasil, desde a Proclamação da República, a
cadeira presidencial esteve ocupada por políticos bastante plurais em suas
ideologias e prioridades de governo. Entretanto, gestão após gestão, em meio às
diferenças, as tratativas referentes à política externa brasileira tiveram as
marcas da seriedade e do equilíbrio, buscando um caminho condizente com a
Constituição Federal. Esta, em seu artigo 4º, de forma muito clara, elenca os
princípios que devem reger as relações internacionais neste país. O que se vê
no atual governo, infelizmente, é a escolha de um caminho de preocupante e
inédita ruptura.
Por Flávio Dino*
O reconhecido posicionamento de independência do Brasil em sua política
externa deu lugar a uma espécie de sombreamento nunca antes visto, pelo qual
seguem-se diretrizes unilaterais de um país, no caso os Estados Unidos, em
alinhamento quase que automático. E, o pior, com evidências reiteradas de
tratar-se de uma relação platônica, de mão única, com escassos resultados e
graves contradições.
O resultado desse desequilíbrio está às claras. O Brasil perdeu em larga
medida o “poder brando” no mundo, isto é, a capacidade de influenciar outras
nações e, principalmente, de estabelecer relações de confiança. Perdemos a
dimensão do profissionalismo que sempre marcou a diplomacia brasileira em
franco desrespeito à memória institucional do Itamaraty.
Isto é tão grave quanto a construção de uma imagem externa com
indicadores vergonhosos, a exemplo da incapacidade de gestão, priorização de
duvidosos interesses familiares e secundarização de agendas fundamentais ao
desenvolvimento da Nação, como educação, saúde, direitos humanos e meio
ambiente.
Somado a isto, vemos a desvalorização do multilateralismo, pois o Brasil
tende hoje a se alinhar a um belicismo contra as instâncias supranacionais,
supostamente priorizando acordos bilaterais. Consequentemente, temos
dificuldades de relacionamento no âmbito do Mercosul, impasses com a União
Europeia e esvaziamento do bloco dos Brics.
Se considerarmos a realidade econômica do Brasil, em que a agricultura e
outros segmentos precisam de parceiros comerciais externos, fica evidente que é
preciso repensar a política diplomática do país, por proteção às nossas
empresas e empregos.No lugar de batalhas puramente fraseológicas e delírios
ideológicos, são imprescindíveis independência e muita responsabilidade com o
interesse nacional. Sem subordinações e com espírito verdadeiramente
patriótico, será possível recuperar o respeito do mundo pelo Brasil.
As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião
do Portal PCdoB
*Governador do Maranhão (PCdoB). Advogado e professor da Universidade
Federal do Maranhão. Foi juiz federal, deputado federal e presidente da
Embratur. Membro da direção nacional do PCdoB.
Fonte: pcdob.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário