Anisio Teixeira
O professor
João Augusto Rocha, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que
pesquisa sobre a morte do educador baiano Anísio Teixeira, promoveu,
nesta sexta-feira (11/03), um encontro na Escola Politécnica da
Universidade, em Salvador, para apresentar as novas informações que
contestam a versão oficial de que a morte foi acidental. No novo
relatório, Rocha traz provas robustas de que o educador foi assassinado
pela ditadura militar (1964-1985)
Entre as provas, estão estudos feitos a partir das fotos do local
onde o corpo foi encontrado, que só agora foram divulgadas e puderam ser
acessadas, e do exame cadavérico. Anísio foi achado no fosso do
elevador do prédio onde morava o dicionarista Aurélio Buarque de
Holanda, no Rio de Janeiro, no dia 13 de março de 1971, em condições
que, segundo a avaliação do pesquisador, provam que a cena foi montada
para fazer parecer um acidente.
O conhecimento em física permitiu que João Augusto Rocha, que é
engenheiro e professor da área na UFBA, percebesse, por exemplo, que os
óculos de Anísio, encontrados junto ao corpo, não poderiam estar
intactos como estavam, considerando a velocidade que uma possível queda
do elevador se daria. “Pela ação, os óculos deveriam estar esmagados”,
explicou o professor.
O relatório também traz uma informação, recebida de autoridades
militares da época, de que no dia 12 de março, um dia antes do corpo ser
encontrado, Anísio esteve preso na Aeronáutica, para onde foi levado
após ter desaparecido, no dia 11. João Rocha afirma que a análise do
exame cadavérico, feita pelo renomado legista Luiz Galvão e que também
integra o documento, refuta a hipótese de acidente e também converge
para a tese de assassinato.
Nesta sexta-feira, data escolhida para a divulgação do relatório,
completa 45 anos do desaparecimento de Anísio Teixeira, um dos mais
importantes nomes da educação no Brasil. As novas informações serão
encaminhas para a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos,
do Governo federal, que deverá analisar as provas e poderá, se houver
constatação, promover reparação à família e reconhecer a
responsabilidade do Estado brasileiro.
Confira a entrevista com o professor João Augusto Rocha:
– O que traz de novo esse relatório que o senhor apresenta?
Explorei em meu trabalho coisas que eu tenho absoluta certeza que
comprovam que Anísio Teixeira não caiu no fosso do elevador.
Particularmente, a questão dos óculos dele, que apareceram intactos, em
uma ação em que eles deviam estar esmagados. Pelos princípios da Física,
os óculos não poderiam ficar nas condições que ficaram. O doutor Luiz
Galvão, médico legista de renome nacional, autor de textos da maioria
das universidades, ficou de explorar os aspectos mais de medicina legal
que chegam à mesma conclusão. E eu não entrei nisso. Estamos trabalhando
em cima das fotos do local onde apareceu o corpo dele, que agora
apareceram, e estamos lançando em primeira mão.
– A cena foi montada?
Aparentemente, foi montada. Tudo leva a crer.
– Tem alguma suposição sobre a causa da morte?
Eu tenho algumas indicações, a partir de depoimentos de pessoas de
muito crédito, como o do ex-governador Luiz Viana Filho e do educador e
escritor mineiro Abgar Renault. Eles disseram que falaram com
autoridades militares e eles disseram que no dia 12 Anísio estava preso,
detido na Aeronáutica. Tranquilizaram a família dizendo que ele
chegaria lá em pouco tempo. O corpo aparece no dia 13, no elevador do
prédio para onde ele ia, e ele desapareceu no dia 11.
– Então, a gente pode dizer que ele foi mais uma das vítimas da ditadura?
Essa é a minha tese porque ele era uma pessoa que, toda vez que se
instalava uma ditadura, era banido. Em 35 foi assim, em 64 foi assim.
Eles tinham muito ódio porque era o educador que viabilizou a escola
pública de qualidade para o Brasil. Pessoas mais à direita não querem
que isso aconteça no País.
– Quais os próximos passos em relação à investigação do caso?
Aqui [na apresentação do relatório], tivemos a presença de Diva
Santana, da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos,
encarregada de investigar esses fatos todos para se chegar à verdade.
Vamos juntar esse material com algumas outras informações que eu tenho e
passar para a Comissão, pedindo para que ela investigue com
profundidade. Vamos estar sempre à disposição para também participar
disso.
– O que espera que aconteça daqui pra frente?
O mundo educacional brasileiro tem uma expectativa muito para saber
por que o maior educador foi assassinado pela ditadura. É muito
importante para esse momento que a gente está vivendo, quando se coloca
nas ruas a volta da ditadura, mostrar que o maior educador brasileiro
foi morto pelos militares. Para nós, é muito importante que se chegue à
verdade sobre quem matou e em que condições aconteceu essa morte dele.
Entrevista concedida a Erikson Walla
Fonte: Portal PCdoB- Bahia
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