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sábado, 10 de outubro de 2015

Rio 40 graus: E assim se fez o cinema brasileiro – Por Vandré Fernandes

Há exatos 60 anos, o Brasil conheceria uma obra cinematográfica que mudaria o cenário audiovisual. Trata-se de “Rio 40 graus”, de Nelson Pereira dos Santos.
A história se passa num domingo. Cinco garotos negros descem o morro para vender amendoins no asfalto. Nelson acompanha o dia desses garotos e intercala essa narrativa com cenas do futebol, da classe média, da cidade carioca com os seus pontos turísticos, contrastando com o cotidiano daqueles meninos.
O cinema, pela primeira vez, mostraria a realidade nua e crua de uma parcela da população esquecida pelo poder público.
A partir daí, toda a influência americana daria espaço ao realismo italiano e, posteriormente, a Nouvelle Vague francesa, fazendo nascer o Cinema Novo.
Entre a direita e a esquerda
Nelson Pereira era membro do Partido Comunista do Brasil (PCB), atuava como professor na escola de formação comunista e fazia incursões em projetos cinematográficos a pedido do Partido, como o documentário “Juventude” (1950) e um outro sobre a Campanha da Paz (1951) que não chegou a ser editado.
Atuante assíduo nos congressos partidários, ele debatia com veemência o preconceito e argumentava que os negros só apareciam nas telas estereotipados. Segundo Nelson: O cinema tinha que mostrar um realidade e encontrar uma solução… O cara fodido, que mora na favela, tinha que ter uma perspectiva. E assim se fez Nelson Pereira no cinema e o seu primeiro cinema, falando dos excluídos.
Mas, naquela quadra histórica, o Partido achava que cinema era coisa de “burguês” e começou a impedi-lo de realizar o “Rio 40 graus”, dando-lhe uma agenda de tarefas para formar comunistas nas fileiras do Partido.
Sem dinheiro, mas com os atores, equipamentos e uma ideia na cabeça, Nelson parte para a produção, num processo de semi rompimento com o PCB.
Após o filme pronto, ele foi impedido pelo censores de levá-lo para as telas. Segundo o governo, “Rio 40 graus” era uma propaganda comunista, seu diretor era comunista e a obra não falava dos trabalhadores brasileiros, não vendia um Brasil pujante. Chegaram a argumentar que era uma mentira, pois nunca chegara a fazer 40 graus no Rio de Janeiro.
Houve manifestação de apoio para a sua liberação. Numa tentativa de exibição na Associação Brasileira de Imprensa, cerca de mil pessoas se aglomeraram para ver o filme, porém, foram impedidas.
Apesar das divergência, o PCB entrou em ação a favor de Nelson e sua obra, colocando o comunista e escritor Jorge Amado para ser o interlocutor com a sociedade e os intelectuais, e assim  ganhar a opinião pública para a liberação do filme. “Rio 40 graus” virou briga dos setores da direita e da esquerda.
Foi neste momento que Nelson Pereira, que já estava disposto a seguir o caminho do cinema, deixou a vida de militante comunista, mas sem nunca perder o cunho social que o formou como indivíduo.
O filme ganhou as telas no Brasil e no mundo, e como disse Glauber Rocha: “Rio 40 graus pode ser considerado o primeiro filme revolucionário do mundo em desenvolvimento, já que a explosão em cena se deu antes da Revolução Cubana”.
E se há 60 anos, Nelson contou a vida de cinco meninos que desciam o morro pra ganhar a vida, hoje o que vemos nos cinemas são as histórias dos meninos que perdem a vida nos morros pela ação da polícia e de grupos de extermínio, como em “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”. Os contrastes entre ricos e pobres se aprofundaram nestes sessenta anos, junto com a violência, o preconceito e a intolerância.

Fonte: UJS Nacional

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