Manuela
fala sobre a construção de um Brasil feminista e antirracista no FSM 2023 |
Foto: Joaquim Moura/@joka_moura
“O Brasil não se desenvolverá se não
incluir as mulheres em todas as pautas debatidas e acabar com o racismo.” A
afirmação foi feita pela jornalista e ex-deputada Manuela D’Ávila na manhã da sexta-feira (27), durante participação na mesa “Por um Brasil feminista e
antirracista”, no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
Segundo Manuela, as chamadas pautas
identitárias são renegadas até por setores da esquerda e não é possível
discutir nenhuma forma de melhorar a vida das pessoas, com desenvolvimento, soberania
e justiça social, sem pensar as soluções com o viés das questões raciais e de
gênero.
“A desigualdade brasileira não é
amorfa, ela tem cara. É econômica, óbvio. Mas não atinge igualmente todos os
corpos. Este país foi construído em cima de uma brutal violência contra os
povos indígenas e os milhões de mulheres e homens que foram trazidos do
continente africano. A construção histórica do país foi feita em cima do
racismo, que é estrutural, assim como o machismo”, disse.
Manuela destacou, por exemplo, que
pensar em mercado de trabalho inclui providenciar creches, para que mulheres
com filhos de até 3 anos sejam inseridas em um ambiente que lhes é negado. Ou
falar em políticas de envelhecimento sem lembrar que são as mulheres, em sua
maioria, que cuidam das mães e até das sogras na terceira idade.
“Nos anos de escuridão, os pontos de
luz foram as mulheres e homens e mulheres negras. Eu escuto que nunca é a hora
de falar das mulheres, e eu só tenho 41 anos. Nós só vamos conquistar os
espaços de poder se nós pactuarmos que nunca mais vão fazer políticas sem nós.
Não existe nenhum tipo de dimensão de desenvolvimento sem encarar a questão do
gênero. Nós temos que ser mais radicais do que nunca. A extrema-direita se
forja em cima dos nossos corpos. Mas não irão nos apagar, somos o astro que
anuncia a chegada de um novo dia”, explicou a jornalista.
A presidenta da União Brasileira de
Mulheres (UBM) em Pernambuco, Laudijane Domingos, recorda que mulheres pretas e
pobres sofrem opressões acumuladas e que é preciso construir um novo marco
civilizatório onde homens e mulheres possam caminhar lado a lado, “empoderadas,
vivas e felizes”.
“Não queremos reduzir e oprimir para
que os homens sejam subalternizados. Nós só queremos andar lado a lado
e ter respeitada a nossa composição. O sistema de opressões é de
raça sim, é de classe sim, mas não é possível construir um Brasil novo
onde as mulheres, mulheres negras e LGBT não estejam no centro do debate. Não
dá para discutir moradia sem creche, saneamento, luz e transporte público, para
que as mulheres tenham mobilidade e acesso aos direitos básicos”, falou.
Feminicídio
Para Fabiane Dutra, presidente
estadual da UBM-RS, avançar na conquista de direitos é urgente para que as
mulheres parem de ser mortas apenas por serem mulheres – ou seja, vítimas de
feminicídio. “A gente vinha num momento de resistência de defesa dos nossos
direitos para não perder ainda mais, agora a gente espera poder superar esse
momento de apenas resistir e conquistar de fato, né? Sobretudo no Combate à violência,
porque os feminicídios estão recorde todo ano, com muitos homicídios infantis
juntos.”, explicou.
Fabiane destaca que o combate à
violência contra a mulher envolve uma educação não sexista e inclusiva e a
geração de trabalho e renda para as mulheres terem autonomia econômica.
A mesa contou também com um sarau de
poesia feminista. A edição 2023 do Fórum Social Mundial terminou ontem (sábado) (28).
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Fonte: Agência Brasil
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