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Os
jogos de acusações e ameaças dos Estados Unidos à China vão levar a algum
lugar? Vão resultar exatamente em quê? Na superação da tragédia que o novo
coronavírus, com as evidentes falhas do sistema de saúde dos EUA, provocou no
povo norte-americano? No reforço da campanha reeleitoral de Trump? Na reversão
do quadro mundial em que a ascensão da China é um dos aspectos mais salientes?
Ou vão dar em nada, por inócuos e contrários ao curso real dos acontecimentos?
Por José
Reinaldo Carvalho*
Arrisco-me
a dizer que historicamente é uma batalha perdida para o imperialismo
estadunidense.
Já se
tornou um lugar comum a sentença de que “o mundo pós-covid-19 não será mais o
mesmo”. Mas parece que algo não vai mudar: o cretinismo do inquilino da Casa
Branca e dos que se alinham em torno do seu projeto de poder.
Nas
últimas semanas os Estados Unidos têm feito acusações e ameaças estapafúrdias à
China.
Difundem
a tese insustentável de que o país asiático é o responsável pela pandemia de
coronavírus, para não falar nas fake news segundo as quais o vírus letal é
produto de um laboratório nos marcos de uma guerra biológica desencadeada para
ao final impor a hegemonia chinesa no mundo. Esta última versão é cara aos
ignorantes que têm sede no gabinete do ódio o Palácio do Planalto, no
Ministério da Educação e no Itamaraty, de gloriosas tradições diplomáticas,
agora dominado por obscurantistas que ao invés de redigir os fundamentos da
participação do Brasil em tratados que conformam a ordem multilateral, editam
em blogs lixo pseudocultural e pseudofilosófico.
As
acusações à China se multiplicam, num espetáculo deprimente, em se tratando da
principal superpotência do planeta, que decidiu atacar também a prestigiosa
Organização Mundial de Saúde, órgão das Nações Unidas, pelo reconhecimento que
fez ao grandioso trabalho realizado pelo país asiático para controlar a doença
com medidas profiláticas e terapêuticas de choque. A acertada posição da OMS
lhe valeu não só reprimendas como o boicote financeiro e tentativas de
intervenção e instrumentalização por parte dos Estados Unidos.
Recentemente,
procuradores dos estados de Missouri e Mississipi entraram com ações judiciais
contra a China, exigindo que o país fosse responsabilizado e compensasse as
perdas acarretadas durante o surto de coronavírus. A alegação é inócua, não tem
base legal ou factual e seus autores ignoram o fato de que os tribunais
nacionais dos EUA não têm jurisdição sobre as ações soberanas do governo chinês
em resposta à epidemia.
Nesta
quarta-feira (29), o inquilino da Casa Branca resolveu escalar a ofensiva
anti-China, embora ainda não tenha ultrapassado os limites da retórica.
“Eu posso
fazer muito”, disse Trump em entrevista à Reuters, sugerindo que tem um arsenal
de medidas a tomar contra a nação asiática e deixa entrevisto que a China
sofrerá punições por sua suposta culpa pela disseminação da covid-19 no mundo.
Trump ainda não foi capaz de especificar a quais medidas se refere, mas bate de
novo na tecla de que Pequim deveria ter alertado o mundo há muito mais tempo
sobre o surto.
A China
rechaça a acusação, insiste em que não encobriu fatos e que compartilhou
oportunamente as informações com o mundo desde o início do surto. Em sua
resposta, cita a OMS e governos de países relevantes, nomeando entre estes os
Estados Unidos.
Uma
informação que a mídia corporativa internacional e nacional omite: “Em 12 de
janeiro, a China compartilhou com a OMS as informações sobre a sequência do
genoma do novo coronavírus, estabelecendo uma sólida base para os esforços
globais de pesquisa científica e desenvolvimento de vacinas contra a covid-19”,
diz a Xinhua.
Em sua
defesa, a China reitera que tem cumprido todas as suas obrigações de acordo com
o Regulamento Sanitário Internacional. E detém como galardão a afirmação da OMS
de que o país vem estabelecendo uma nova referência para o mundo no cumprimento
de suas obrigações internacionais.
Ciente de
que o fundo dessas acusações e ameaças dos Estados Unidos têm um alcance muito
mais amplo, a China reafirma os princípios de sua política externa, no estilo
próprio de sua diplomacia, e suas convicções sobre as características da ordem
internacional na presente época, rejeitando a estigmatização, a politização da
luta contra a covid-19 e as manifestas intenções de unilateralismo e
hegemônicas do imperialismo estadunidense.
A
expressão-chave com que a China abre as portas ao multilateralismo, a
democratização das relações internacionais e a busca da paz mundial é
“construir uma comunidade com futuro compartilhado para humanidade”, definida
pelo chanceler chinês Wang Yi como “a escolha certa na luta contra a covid-19,
a escolha certa que atende à tendência dos tempos”, ao se pronunciar na reunião
de ministros das Relações Exteriores dos países do Brics realizada por
videoconferência na última terça-feira (28).
Ao se
posicionar nesses termos, a China faz escola, conquista aliados e afirma a
conduta da cooperação internacional para enfrentar uma ameaça que atinge a
todos e nenhum país poderá enfrentar sozinho.
A
resposta colaborativa à covid-19 é cada vez mais a atitude da OMS, da ONU, dos
países que lutam para afirmar sua independência e das forças progressistas em
escala mundial.
O
imperialismo estadunidense tende a ficar isolado com suas vãs pretensões
hegemônicas, enquanto a China persiste no caminho reiterado pelo presidente Xi
Jinping de “construir uma comunidade de futuro compartilhado para a
humanidade”.
“Estamos em uma época de grande desenvolvimento, grande
transformação e grande reajuste, paralelamente à ampliação da multipolarização
mundial e globalização econômica e ao progresso contínuo da informatização
social e da diversificação cultural. Ao mesmo tempo, uma nova rodada da
revolução científico-tecnológica e industrial está ganhando forma;os países
estão cada vez mais interconectados e são mais interdependentes, compartilhando
o mesmo futuro e sorte; o engrandecimento das forças pela paz supera amplamente
o aumento de fatores de guerra; e a corrente do nosso tempo pela paz,
desenvolvimento, cooperação e benefício compartilhado ganha cada vez mais forte
impulso” (Mensagem de Xi Jinping à ONU, em 18 de janeiro de 2017).
“A China não alterará o seu compromisso de promover o
desenvolvimento comum […] O desenvolvimento chinês foi possível graças ao mundo
e a China também contribuiu para o desenvolvimento do mundo. Continuaremos
aplicando a estratégia de abertura e de benefício mútuo com resultado
ganha-ganha, compartilhando nossas oportunidades de desenvolvimento com os
demais países e dando-lhes as boas-vindas ao trem expresso do desenvolvimento
chinês” (Idem).
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Este
artigo não reflete necessariamente a opinião do Portal PCdoB
* José Reinaldo Carvalho é
membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, responsável
pela Solidariedade Internacional
Fonte: https://pcdob.org.br/
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