Na entrevista que concedeu ontem
aos jornalistas José Trajano, Juca Kfouri e Antero Greco, o ex-presidente Lula
cometeu um deslize quase juvenil ao tratar o PSOL como um partido de moleques
mimados.
Sim,
Lula não disse essa frase. Mas foi este o sentido político da sua resposta.
Segue o trecho pra quem ainda não leu:
A única coisa que e desejo é
que eles ganhem alguma coisa, eu quero que eles governem a cidade do Rio de
Janeiro. Quando eles governarem a cidade do Rio do Janeiro, metade da frescura
deles vai acabar. Eles vão perceber que não dá pra gente nadar teoricamente.
Você não pode ficar na beira da praia falando ‘você dê uma braçada pra cá, uma
braçada pra lá, levanta a cabeça…’. Entra na água e vai nadar, pô! Então eu
quero que eles governem uma cidade. Depois que eles governarem uma cidade eles
vão compreender que nem o Sarney, quando foi em 2006 [1986], que elegeu 323
deputados constituintes e 23 governadores, conseguiu governar”. E conclui
afirmando que: “O problema é o seguinte: eles ‘se acham’. Sabe aquele cara que
levanta de manhã, vai no espelho e fala, ‘espelho, espelho meu: tem alguém mais
fodido que eu? Tem alguém mais sério do que eu? Tem alguém mais honesto que eu,
mais bonito que eu, mais sabido que eu?”
Lula
tem o direito de pensar isso. De falar isso numa reunião de família. De até
conversar num botequim dessa forma. Mas não deveria fazê-lo em público, porque
nesta situação ele não é o Lula amigão da galera. É um ex-presidente da
República que precisa respeitar seus aliados, principalmente os que estão
defendendo-o publicamente do imenso ataque que está vivendo.
O
PSOL foi o primeiro partido a soltar uma nota condenando o julgamento político
de Moro.
O
PSOL votou unido contra o impeachment de Dilma.
O
PSOL teve um comportamento exemplar nas lutas de resistência contra o golpe.
Entre
os 30 melhores parlamentares do Congresso, o PSOL consegue ter praticamente
toda a sua bancada.
Também
acho que vai fazer imenso bem ao PSOL ganhar prefeituras e ter que lidar com
uma realidade cada vez mais complexa de gestão pública no país.
Também
acho que hoje é mais difícil governar do que na década de 80 ou 90, como
algumas lideranças do PSOL governaram quando eram petistas.
Também
considero que há entre a militância do PSOL um segmento que se comporta como se
fosse a última bolacha do pacote da política.
Mas
e aí?
Isso
é o que importa neste momento?
É
possível e é preciso generalizar o PSOL desta forma?
Se
é, os petistas terão que engolir generalizações muito mais duras.
Por
isso, sem querer me meter aonde não fui chamado, se fosse Lula ligaria para o
presidente do PSOL e pediria desculpas. Faria o mesmo com Jean Wyllys,
Erundina e outros deputados que têm sido aliados de primeira hora.
Seria
algo que o deixaria ainda maior do que é. E Lula é, sim, muito grande. A
maior liderança viva do Brasil. E talvez a maior da sua história. O tempo
nos encarregará de ver isso melhor.
Até
por isso, uma ação dele neste sentido seria um sinal. Um imenso sinal de que é
hora de se fazer política mais generosa com aliados. E menos
irônica. Menos provocativa.
Fonte: Revista Fórum
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