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sexta-feira, 14 de julho de 2017

A ciência dos protestos

Movimentos sociais em manifestação em Brasília, no final do mês de maio

Estudo indica que o uso de táticas de violência por movimentos sociais tende a reduzir o apoio popular.
Manifestações coletivas de protesto, uma expressão dos movimentos sociais, constituem traço inerente às sociedades contemporâneas. Onde há governo, alguém está contra. As manifestações, com seus slogans, cantos, discursos e caminhadas, proporcionam aos participantes uma intensa experiência física e afetiva.
Podem apontar rumos, nutrir esperanças e prover sentimentos de pertencimento, união e poder. Muitas manifestações são pacíficas e até bem-humoradas. Outras, no entanto, empregam táticas extremas e podem se tornar violentas.
Os protestos iniciados em Kiev, em 2013, talvez tenham constituído um marco: eles renderam imagens e narrativas dignas de uma distopia futurista dirigida por Ridley Scott. Na América Latina, Venezuela, Chile e Brasil parecem vez ou outra querer imitar a estética ucraniana, sem contar com a cenografia e os figurinos do original.
Resulta uma versão cabocla que fotógrafos locais lutam para transformar em entretenimento imagético, nem sempre conseguindo a dramaticidade pretendida.
Para as mídias, lá como aqui, imagens de violência parecem ter prioridade. Assim, seguimos fabricando e consumindo fotos-clichês: ônibus incendiados, mascarados atirando pedras, jovens imberbes enfrentando exércitos e agências bancárias sendo atacadas.
A fabricação em série dessas imagens parece seguir uma lógica própria de produção e promoção. No corpo de muitos movimentos sociais há frequentemente um grupo audaz, de coração acelerado, sangue ebuliente, músculos agitados e mente sempre pronta a racionalizar o vandalismo.
A acompanhá-los com atenção estão as mídias, reféns da audiência, sedentas pela atenção cada vez mais fragmentada e volúvel de seu público. Produtores e promotores então se unem numa aliança tácita, destinada a atrair atenção. Tudo pela política-entretenimento.
Protestos extremos e violentos têm efeitos óbvios sobre pessoas e propriedades. Dependendo da magnitude e da estratégia adotada, esse tipo de protesto pode cercear a mobilidade, gerar prejuízos materiais, causar ferimentos e até mortes.
Mas que efeito eles teriam para os próprios movimentos que, voluntária ou involuntariamente, os provocam? Para responder a essa pergunta, Matthew Feinberg e Chloe Kovacheff, da Universidade de Toronto, no Canadá, e Robb Willer, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, avaliaram como centenas de indivíduos perceberam demonstrações de protestos ocorridas recentemente na América do Norte.
Os autores partiram do pressuposto segundo o qual movimentos sociais visam a dois objetivos táticos: primeiro, granjear visibilidade, alcançando o maior número possível de indivíduos; e, segundo, ganhar o apoio popular para suas causas.
O uso de táticas extremas, radicais, tais como bloqueio do trânsito e vandalismo, têm efeito positivo sobre o primeiro objetivo. Elas ajudam a ganhar espaço nas mídias e chamam atenção para o movimento.
Neste nosso século que preza mais as fotos do que os fatos, as imagens veiculadas pelas mídias são tão ou mais importantes do que o que acontece nas ruas.
De acordo com o estudo, as táticas extremas têm, entretanto, efeito negativo sobre a conquista de apoio popular. A maioria das pessoas parece repudiar o uso desses expedientes, mesmo que apoiem as ideias defendidas pelo movimento.
A violência pode reduzir a legitimidade da causa e empurrar possíveis simpatizantes para o lado oposto, gerando efeito contrário ao pretendido.
Feinberg, Kovacheff e Willer observaram que muitos ativistas envolvidos com o uso de táticas radicais não têm consciência desse efeito negativo, acreditando, ao contrário, que seu uso pode atrair potenciais simpatizantes.
Ativistas sociais enfrentam, portanto, um dilema em suas lutas por mudanças, ou contra elas: precisam atrair atenção para suas causas, brigando pelo espaço nas mídias. Táticas extremas podem ser muito efetivas nesse jogo.
O emprego de tais táticas poderá, no entanto, alienar muitos apoiadores, impactando negativamente o movimento.
Talvez a melhor estratégia seja apostar honestamente na clareza das ideias, contra o excesso de opiniões e falta de informações, contexto que condena os movimentos sociais a um jogo marcado por emoções primitivas e garante primazia a interesses velados.
Carta Capital 

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