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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Lu Castro: Terceirização não assusta o futebol feminino



Mas antes, cabe a pergunta que levantei no meu texto quinzenal no Ludopédio: Onde estamos? O que somos? O que pretendemos ser? Mais questionamentos estão dispostos no texto do Ludo, aqui.

No último dia 31, o vice decorativo, aquele que nunca foi, é ou será, legítimo em qualquer coisa que o valha, sancionou a Lei da Terceirização no apagar das luzes de uma entre tantas manifestações contra suas tão esdrúxulas decisões.

Para quem, assim como eu, iniciou sua vida na lida aos 14 anos, conquistando seu precioso número de PIS aos 15 e sabe bem da importância dos benefícios conquistados para o trabalhador, essa tiração sem fim do (des)governo Temerário tem passado dos limites. E irritado muito!

Por outro lado, esta nova situação não deve causar grande impacto na vida de quem correu atrás do sonho e jamais teve sua carteira de trabalho carimbada com a profissão que exerce: jogadora de futebol. Acredito até que muitas nunca chegaram perto de ser contratada temporariamente e ter isso registrado em sua carteira profissional.

Desconfio que muitas devem ter este tão precioso documento todo em branco, já que na modalidade o contrato de gaveta é o mais largamente utilizado. Muitos pontos são acordados nestes contratos, entretanto são várias as situações em que a atleta não fica com uma via do contrato, passa por necessidades em alojamentos precários, assim como é precária sua alimentação e cuidado mínimo para que possa atuar em alto rendimento.

INSS, FGTS, Seguro Desemprego? Muitas sequer chegaram perto de conhecer qualquer um desses benefícios. Esses, que ficarão cada vez mais distante da classe trabalhadora. Aliás, onde anda o senso de classe trabalhadora das atletas? 

Se um dia era para existir de forma consistente, perdemos o bonde.

Se a profissionalização passará pela vida das atletas da próxima geração, só o tempo dirá. O que dá pra afirmar diante da Lei da Terceirização, é que ela não inspira preocupação para a modalidade, já que carteira assinada e futebol feminino, nunca ornaram.

Também me atrevo a dar um totózinho nessa bola pra que o jogo continue: e a que tipo de profissionalização nos referimos quando bradamos tanto por ela na modalidade? Com a profissionalização, vem grandes deveres e o trânsito de atletas entre os clubes é algo bastante curioso. A abordagem é meio descarada, em alguns casos. A atleta ainda está no clube A quando chega alguém do clube B e faz ofertas. Assim, na cara dura. De vez em quando essa abordagem acontece na saída do vestiário. Bem, com contrato de gaveta e acordo verbal, não há o que respeitar. Nem de um lado, nem de outro.

Por isso repito as perguntas: Em que pé está o futebol feminino? O que a modalidade quer ser quando crescer? Que nível de profissionalização projetamos? As atletas querem carteira assinada com depósitos regulares em conta de Fundo de Garantia, recolhimento de INSS (desde que efetivamente recolhido, claro!), direito ao benefício do Seguro Desemprego caso seja dispensada, um sindicato que as represente?

Pode ser que neste momento o assunto seja tão relevante para a modalidade quanto a programação da Rede Golpe é para mim. Mas o tempo corre igual para todos e todos os anos dedicados ao futebol sem um amparo trabalhista, pode doer na hora que faltar o vigor da idade. 

Onde sobra vontade de jogar e falta consciência de classe, o resultado da equação é maligno: desamparo e precariedade ali adiante.

*Jornalista e colaboradora do Museu do Futebol para assuntos de futebol feminino


Fonte: Portal Vermelho

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